Rondônia, 09 de outubro de 2024
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A liberdade do vereador e jornalista Marcelo Reis

Assisti ao comício realizado no meio da semana por vereadores em frente a Secretaria Municipal de Trânsito. Representantes da Câmara explicavam os próximos passos para tentarem extinguir a proibição do mototáxi em Porto Velho. Tudo parecia normal, até que Marcelo Reis decidiu que era hora de dar explicações sobre seu tão comentado voto na sessão que revoltou os profissionais das ruas. Incrível, mas o revoltado era ele. Estava descontente e acusava bandoleiros (“e não foram os senhores”) de estarem fazendo ameaças, arruaças, protestos, comentários e pichações a seu respeito e de sua família. Exigia respeito a seu voto com bravata de que cada vereador tem “seu exercício de democracia”. Foi vítima, dizendo o vereador, de um verdadeiro atentado, quando tentaram “cercear a liberdade do vereador, do jornalista”. Ao final afirmou que iria pedir a benção de Roberto Sobrinho para ai então apoiar a classe.

Não entendo a revolta do vereador. Há milhares de atingidos diretamente por sua posição anormal de ficar em cima do muro e nada mais justo do que ser criticado por isso. Como exige ser respeitado por sua liberdade de vereador e de jornalista, me sinto no dever de criticá-lo em nome da massa e talvez de nossa categoria.

Marcelo Reis está na difícil posição de ser líder do prefeito Roberto Sobrinho, gestão essa que deixa a desejar em vários sentidos. Mas está líder porque quer e, se de fato, como disse, é defensor da criação de empregos e nunca iria votar contra os trabalhadores, passou o momento de dedicar o mandato a quem o elegeu, não a quem delegou um cargo político de liderança, que pelo jeito se contrapõe agora ao pensamento e ações do nobre vereador. Esqueceu ele que sua eleição foi para atividades parlamentares e, quando quer, a Câmara está em lado oposto ao Executivo, justamente pelo fato de que cabe ao prefeito, governador ou presidente analisar um tema sob uma ótica e repassá-lo ao debate popular, o palco ideal onde o povo opina, exige, faz arruaça e até ameaça, mas faz isso em seu próprio nome.

Como bem lembrou o nobre vereador, a atividade de mototáxi é uma realidade. Particularmente não gosto por razões que começam na segurança e passam pela irresponsabilidade da maioria no trânsito. Mas minha opinião hoje é minoria. O povo exige e quer não apenas pelo baixo custo, mas principalmente porque não é tratado com respeito pelas empresas de transporte e fica nas mãos de taxistas e suas altas tarifas. Ouvir o clamor popular é função básica de um vereador, eleito para esse fim. Como vê, não há qualquer absurdo nas críticas dos profissionais da moto. É que, infelizmente eles imaginaram que, pelo fato do senhor não participar da tropa de choque das empresas organizadas, talvez pudessem contar com seu voto. Imaginavam que o senhor estava antenado no clamor das ruas. Se enganaram. E imaginaram que após aquele lindo discurso de que o prefeito havia ligado ao senhor dizendo que se passasse o projeto, teriam o aval da municipalidade, eles poderiam contar o voto do líder. Decepcionaram-se. E todos nós.

Absurda ainda é a declaração de Marcelo Reis sobre o atentado a sua liberdade de jornalista. Mas que liberdade sua foi atingida? Exatamente nenhuma. E ai vem de novo a história do povo. Os mesmos que assistiam ao senhor diariamente e encantaram-se com suas posições de luta e a favor de mudanças são esses mesmos que o cobram hoje a responsabilidade de no mínimo ter uma posição. Ganhou pontos, por exemplo, o vereador Claudio Carvalho, que entre atentados a língua portuguesa e outros tropeços, mostrou a cara na defesa de empresas e taxistas. Mas o senhor, acho que só garantiu mesmo a continuidade da liderança do prefeito.

Não é justo usar a sagrada liberdade de imprensa para tentar acabar com manifestações populares justas. Na política seus participantes devem ter a plena consciência de suas ações, boas ou ruins. Quer defender seu voto, o faça, mas diga abertamente que atendeu o pedido de seu chefe. Que na realidade, nem sabemos se é verdade, porque se for assim, a Câmara demonstrou que 10 de seus membros não mais atendem o chamamento do Executivo.

Mas ainda há tempo vereador. Na política tudo é possível. Talvez, na próxima semana, como o senhor disse no comício em frente a Semtran, “se convencer o prefeito que a atividade é necessária”, ele o libere a agir em nome do povo. E ainda falam mal do Aluizio Mercadante que provou ser serviçal do Palácio do Planalto. (clique e assista o vídeo de Marcelo Reis na Semtran)

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