A pesquisa é solução para o agronegócio, diz conselheiro do CNA
Ex-congressista na Câmara dos Deputados e Senado, por onde teve forte atuação em defesa do agronegócio, o advogado e produtor rural Rubens Moreira Mendes fala à seção Agronegócio do Rondoniagora sobre a necessidade da pesquisa no avanço da qualidade e da produtividade dos alimentos brasileiros. Crítico, ele entende que se o governo não pode ou não quer ajudar, pelo menos, não deve atrapalhar quem produz. Segundo ele, o Brasil só não foi à bancarrota porque o setor agrícola segura a economia. Ele elogia as ações da Embrapa, mas acredita que a iniciativa é pequena na frente do que fazem os grandes conglomerados da indústria. Moreira Mendes é membro da Frente Parlamentar da Agropecuária, consultor da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Associação Brasileira de Produtores de Sementes de Soja, da Associação Matogrossense de Produtores de Sementes e tem assento no Conselho do Agronegócio Brasileiro da Fiesp.
Com a larga experiência adquirida como produtor em Rondônia ao longo de décadas e a discussão íntima com organismos envolvidos diretamente na defesa da produção, qual o futuro que o senhor vislumbra para o agronegócio brasileiro?
Eu sou muito otimista, muito esperançoso. Acho que a grande vocação brasileira é a exploração do agronegócio na sua plenitude, em toda extensão da cadeira produtiva que começa com o homem do campo. O Brasil caminha para uma agricultura de altíssima tecnologia e uma coisa muito importante: o produtor brasileiro está muito focado e preocupado com a sustentabilidade do seu negócio e com a questão ambiental. Quem ainda critica, quem ainda vê no produtor rural um vilão que destrói as florestas está redondamente enganado. O produtor rural brasileiro está consciente da sua responsabilidade. Ele tem a exata percepção que para produzir melhor e com produtividade e qualidade é preciso cuidar principalmente da questão da sustentabilidade. É a junção da defesa do meio ambiente com a alta produtividade. No Brasil, esse desenvolvimento da agricultura em clima tropical úmido é espantoso. O país dá lição para o mundo todo. Estamos observando a expansão da fronteira agrícola em áreas que nunca se imaginava que se podia produzir um grão de arroz ou soja, como no Mato Grosso, Bahia e Rondônia. Não ando tanto como antigamente, quando exercia o mandato, mas quando vou ao interior do estado fico espantado ao ver propriedades que estão saindo de um cenário absolutamente improdutivo, com pastagem degradada, para área de lavoura, principalmente, na região de Porto Velho.
Muitos especialistas de mercado temem a queda da produção com a retração de exportação para a China. Existe algo que o governo pode fazer para não desacelerar o agronegócio?
Vou responder sua pergunta começando pelo final. Acho que quanto menos o governo interferir na atividade econômica melhor para o setor. Sou daquele que defende que quanto mais distante o governo estiver, interferindo em qualquer atividade econômica, melhor para todos. Claro que ele tem que interferir na hora certa em casos necessários, como as grandes negociações com outros países. Na questão da soja em relação à China, hoje aquele país é um grande comprador da soja brasileira e também um grande produtor. Eles precisam muito da soja, principalmente, para industrialização e produção de ração animal para alimentar aquela população toda. Mas, não é só a China que consome a soja. Ela é vendida no mundo inteiro. O mundo precisa de ração animal, como também do óleo e derivados. Não vejo grande problema. É uma questão de adaptação de mercado, se um cai o outro emerge. E esse é o jogo que o produtor e o governo precisam ajudar a administrar.
A tendência então é avançar?
No passado, houve picos de extraordinária rentabilidade e de baixo retorno quando a coisa não andou bem. A bolsa de Nova York cai, o mundo inteiro cai. E no Brasil não é diferente. Se pegar uma linha histórica, sempre a produção de alimentos tem mercado garantido. Se um determinado alimento está em baixa agora, em outro momento estará em alta.
Como está hoje o embate entre o setor do agronegócio e os ativistas depois do ranço criado com a aprovação do Código Florestal Brasileiro?
As pessoas com senso de responsabilidade, que tem de um lado e de outro da discussão, sempre procuram o caminho do meio. Na discussão do Código Florestal, fui um dos grandes defensores e me envolvi demais nessa questão. Sempre tive entendimento claro de que precisamos procurar o caminho do meio e não podemos ser 100% produtor rural e nem 100% daqueles que defendem o meio ambiente. Acontece que, como em qualquer outra discussão, há radicais de um lado e de outro que sempre têm um discurso. Quando você pega pessoas racionais, que têm responsabilidade, que veem a importância das duas partes, contribui para construção do caminho do meio. Não podemos impedir que as pessoas manifestem sua opinião, mas esses radicais estão muito por conta do discurso, fora da barraca, porque é uma coisa que dá status. Quem é que não quer defender a Amazônia, o verde, a madeira? Mas há uma diferença entre o discurso e a realidade. Essas pessoas estão só no discurso, muito longe da realidade, mas é o que os mantêm nessa atividade. Não podemos esquecer do envolvimento externo. O Brasil hoje assusta como produtor rural. São dados da ONU com estimativas de que a produção de alimentos precisa dobrar até 2040 para poder alimentar a população mundial e o Brasil é um país que cresce extraordinariamente nessa questão de produtividade de alimentos. Cada vez produzindo mais e em área menor, e isso incomoda esses que têm discurso mais à esquerda dos ambientalistas. Na prática, você pode avançar na produção sem expandir novas áreas. Vai usar aquilo que já existe só com racionalidade, novas técnicas, novos equipamentos e isso aí assusta o mundo lá fora. É bom a gente registrar que o Brasil hoje é o maior produtor de proteína animal. Se você juntar o frango, o leite, a carne bovina, já somos o maior produtor de proteína animal, uma coisa espantosa, e estamos caminhando a passos largos e encostando no maior produtor de grãs que são os Estados Unidos. E isso tudo incomoda muito. Tudo no mundo é interesse financeiro. Incomoda o americano e o europeu que subsidia a pecuária. A Europa gasta um bilhão de dólares por mês subsidiando a agricultura e a pecuária. A cada um quilo de carne, o governo paga à ele (produtor) cerca de 50% a 60% do valor para que possa produzir e ter competividade. Nós não temos nada disso. Ao contrário, aqui é só o suor do produtor rural brasileiro. Um herói. Ele, da porteira para dentro, é campeão de qualidade e produtividade. É da porteira para fora, que o governo precisa oferecer os meios de transporte adequados, infraestrutura, armazenagem, estrada de ferro, portos... não tem nada. É uma coisa vergonhosa.
Como está a pesquisa brasileira para melhorar a produtividade de grãos?
O assunto que estou acompanhando na Associação Brasileira de Produtores de Sementes de Soja é o projeto que modifica a lei de proteção das cultivares. É um assunto complexo que demorei seis meses para conseguir entender. O Brasil investe pouco em pesquisa. Deveria investir muito mais. A Embrapa presta um serviço extraordinário para o Brasil, mas está perdendo seu espaço com menos de 3% de pesquisa disponível. Já foi a campeã, quando desenvolveu sementes apropriadas para soja, arroz...adaptadas a esse trópico nosso, essa região que pega uma parte da Amazônia, Bahia, Tocantins, Goiás e Brasília. O restante acabou na mão de grandes multinacionais que estão cada dia mais avançadas. O Brasil não incentiva a pesquisa e é muito frágil na criação de leis para melhorar essa questão. O mundo está avançando na transgenia. A produção transgênica hoje é uma realidade e está avançando, não apenas em soja e milho. Ela é necessária para poder atingir aqueles objetivos da ONU de dobrar a produção até 2040.
Dito tudo isso, qual sua opinião sobre o futuro do agronegócio em Rondônia?
Vamos voltar um pouco atrás, e parte dessa história eu presenciei. Tivemos o ciclo da exploração da borracha, o ciclo da exploração mineral; com os garimpos de cassiterita e ouro; e aí veio o grande momento de Rondônia que foram os assentamentos que o Incra fez. Esses projetos de assentamento foram feitos pelo governo para reduzir a pressão social. Havia pressão forte no sul e sudeste das camadas mais pobres que precisavam de terras. O governo da época, inteligentemente, percebeu que precisava abrir a tampinha da panela de pressão e trouxe o povo para cima (norte). Diferente de hoje, trouxe as pessoas e deu títulos, e essa parte eu já presenciei de 1970 para cá. Se tem riqueza em Rondônia, temos que reconhecer que veio da forma como os assentamentos foram realizados e da divisão da terra. Hoje, o estado tem em torno de 100 a 110 mil propriedades rurais. Destas, 90% são de pequenas propriedades de 200 hectares para baixo. É algo extraordinário, pois é o pequeno aqui, que é o grande lá para baixo (sul e sudeste). O produtor tem uma casa de alvenaria coberta de telha de barro, gado, café, uma moto, carro...a família já se dividiu e o filho está ao lado. O grande desafio que os governos deveriam ter e não tem é com projetos de incentivos para fixação dessas pessoas no campo. Não há uma política clara para isso. Neste ciclo, começamos rudimentarmente, era machado, enxada, tirava leite em latões, nada mais disso existe. Tudo está mudado. Nós temos grandes laticínios, somos os maiores produtores de leite do Norte e o maior produtor de muçarela do Brasil. São caminhões levando nosso queijo que vira pizza em são Paulo; levando o produtor às novas tecnologias. Acho que nós temos um grande campo pela frente. Rondônia vislumbra um futuro espetacular em cima da agricultura e pecuária, ocupando e preparando essas pastagens degradadas e fazendo aquilo que é sustentável. Hoje, o produtor consorcia agricultura, pecuária e floresta. Coloca o pasto debaixo das árvores. O semiconfinamento - um grande sucesso - é uma realidade no mundo inteiro. Acho que temos um futuro extraordinário pela frente, se o governo não conseguir fazer o que deve ser feito, pelo menos não atrapalhe, tire a mão de cima do produtor que ele dá conta de fazer.
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