A POLÍCIA, A MORAL, A ÉTICA E OS POLÍTICOS - Por Ivonete Gomes
Uma segunda manifestação para anular os efeitos da primeira deixou o questionamento sobre quais resultados práticos conquistaram os policiais militares, além de um jornalista hospitalizado, um promotor público humilhado e uma sociedade antipatizada com uma causa.
Perderam os militares que certamente serão punidos pelos excessos e perdeu a sociedade que terá nas ruas profissionais mal remunerados e insatisfeitos. Mas, no caos sempre há lucro para os plantonistas da oportunidade e neste caso os louros são novamente de parte da classe política representativa.
Especialistas na aplicação do conceito de que massa de manobra é gerada a partir do “que se quer ouvir”, parlamentares firmaram compromissos que, à luz do direito, jamais serão honrados. Com a certeza dos gordos salários no bolso ao final de cada mês, utilizaram o movimento dos praças para mandar recados a adversários políticos – ou adversários dos negócios – despejaram fúria que não se vê em sessões plenárias e fizeram incitações sem mea culpa que lhes cabia.
O senador Valdir Raupp (PMDB) e o deputado Mauro Nazif (PSB) prometeram projeto de anistia que certamente será barrado na primeira análise das comissões de Constituição e Justiça do Congresso. Passada a euforia, ambos ainda podem ter sucesso, mas com a solicitação de mudança do Código Penal Militar, elaborado em 1969 e tido atualmente como herança do regime ditatorial, uma mancha na história brasileira.
Igual correção não cabe ao presidente da Assembléia Legislativa, Valter Araújo (PTB), que enviou textos à imprensa vangloriando-se de ser uma espécie de salvador da pátria. Resta saber salvador de quê, já que a categoria não conquistou pleitos além dos reajustes garantidos na primeira paralisação.
Uma leitura dos acontecimentos que acabaram por entrelaçar polícia e política nos remete a análise da expressão célere de Maquiavel extraída da obra O Príncipe (1513): “os fins justificam os meios”. Colocada no contexto atual, a expressão pode ser utilizada de forma errada quando não há diferenciação de moral, política e ética.
Começo a distinção a partir de comentário enviado por internauta e participante assídua do Rondoniagora, Ana Silvia, compartilhando a opinião do colega de farda Marcos Teixeira:
- “Para alguns muitos ignorantes, a policia militar é sinônimo de força e moralidade”.
Vê-se aí o conceito de moral, que embora lançado de forma equivocada traz à tona o pensamento de quem faz parte da corporação, pois bem dizia o filósofo Vásquez (1969), moral é "um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente (costumes), que regulam o comportamento individual dos homens". Frise-se o conceito de IN-DI-VI-DU-A-LI-DA-DE, inerente a todo ser humano seja ele policial, jornalista, professor ou médico. Todos nutrem em si o desejo de dignidade e uma vida melhor. Paralelo caminha a ética, que nada mais é que o conjunto de regras de aplicação da moral, assim como a hermenêutica é para a interpretação.
Por último temos a política que deveria seguir com moral e ética para alcançar a coletividade. Para Antônio Ozaí da Silva, doutor em sociologia, “o ‘realismo político’, ou seja, a busca de resultados a qualquer preço, subtrai os atos políticos à qualquer avaliação moral, entendendo esta como restrita à vida privada, dissociando o indivíduo do coletivo.” Na obra Ética na Política? o sociólogo e professor também avalia que “embora a moral se manifeste pelo comportamento do indivíduo, ela expressa uma exigência da sociedade”.
Trocando em miúdos, entende-se que a classe policial militar merece maior valorização e que vive a terrível angustia de não ter amparo, inclusive legal, nas reivindicações. Mas neste movimento paredista sobrou moral e faltou ética. Infelizmente, neste caso Maquiavel estaria errado, porque os meios não justificaram os fins.
Concluo a Caleidoscópio extraindo mais um trecho da magnífica obra de Ozaí:
“...Aliás, determinados casos políticos onde se alardeia a exigência da ética, nada tem a ver com esta: são, em suma, meros casos de polícia.”
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