Angelina e Bianca tem razão com câncer de mama tolerância zero
Sou médico formado pela UFES, da turma de 1969. Minha primeira experiência com câncer de mama foi com a mãe de minha namorada, ainda no quinto ano de medicina em que assisti a sua cirurgia que, à época, era a mastectomia total radical com retirada do músculo peitoral e dos linfonodos axilares, seguido de intermináveis sessões de quimioterapia e soroterapia. Ela sobreviveu, muito pela radicalização do tratamento e mais pelo fato do tipo de câncer não ser dos piores. Suas irmãs não tiveram a mesma sorte e algumas de suas sobrinhas faleceram dessa doença. Tinha uma única filha, minha esposa, quatro filhos, morando em Belo Horizonte, com seu irmão também médico, que à época trabalhava lá.
"Eu sempre soube que carregava uma genética propícia ao câncer de mama, então comecei muito cedo a fazer acompanhamento médico semestral, mas sempre com a idéia fixa de retirar profilaticamente glândulas mamárias. Mesmo relatando aos médicos os casos da minha avó e da minha mãe, havia forte resistência em realizar a cirurgia, argumentando que o procedimento não era indicado na minha idade, 38 anos, em plena fase reprodutiva. Estudiosa do assunto, eu buscava os melhores e mais modernos métodos de diagnostico por imagem. Foi assim, que insistindo em fazer uma ressonância magnética - também não recomendada pelos médicos à época - acabei descobrindo que era portadora de carcinoma de mama ductal invasivo, que não havia sido detectado anteriormente pela mamografia, por se tratar de uma mama jovem e densa. Naquele momento em que recebi o fatídico diagnóstico, tive a nítida noção de minha finitude. Não quis aceitar a idéia de que meus filhos vivenciassem a mesma dor sentida por mim duas décadas antes, com a perda da minha mãe. A notícia de um diagnóstico de câncer teve o mesmo efeito de uma sentença de morte. Ficou claro que eu não mais veria os meus filhos crescerem, seriam órfãos como eu fui. Não estaria presente em suas formaturas e em seus casamentos.Não conheceria minhas noras e meus netos.O mundo material acabava ali e junto com ele os meus sonhos e planos de futuro. Não iria envelhecer ao lado de meu marido, abraçar meus irmãos, sair com meus amigos. Nunca mais ver o azul do céu e do mar e o encontro dos dois infinitos no horizonte. Era o adeus definitivo ao pequenos prazeres da vida cotidiana: de andar na praia,sentir areia sob os pés, mergulhar no mar num dia de verão, brindar a vida com os amigos queridos. Tudo isso rodopiava na minha cabeça, desaguava numa grande espiral de pensamentos e terminava com um choro incontido, com uma pergunta enigmática: Por que eu? Não havia resposta, o destino estava traçado pela mão do Criador. A partir daí iniciei uma luta sem tréguas para vencer o inimigo que já havia vitimizado parte da minha família. Sem tempo para lamentar a sorte, fui imediatamente para sala de cirurgia e foi realizada mastectomia total na mama acometida e retirada das glândulas mamárias na outra profilaticamente. Após, comecei imediatamente as sessões de quimioterapia. Eu quero é viver!!! Viver pra ver meus filhos crescerem; viver pra assistir as festas de formatura; viver pra beijar meus netos e afagar seus cabelos na mais tenra infância. 15 dias depois da primeira sessão da quimioterapia estava quase sem cabelos da cabeça, sem as sobrancelha e lisa no resto do corpo. E agora: peruca ou lenço? Fiquei bem de lenço. Os cabelos da peruca eram mais lisos que os meus originais e até que ficou bom. Os amigos me elogiavam num misto de pena e incentivo. Seguiram os exames de imagem e até o revolucionário PET SCAN, utilizado para rastrear o metabolismo das células malignas em todo o corpo. A peregrinação entre consultórios, laboratórios, hospitais é incessante. Mas todo esse esforço e controle diuturno tem sido válido. Passados quase 05 anos do meu diagnóstico inicial, estou viva e bem, caso contrario não estaria aqui para dar esse depoimento. Estou vencendo o inimigo invisível, devastador e cruel. Para “aqueles que estão no grupo de risco um breve conselho: antecipe o seu diagnóstico e não tema a doença, enfrente”
Vi vivi e sofri de perto quão devastador é o câncer de mama, ainda mais em uma mulher de 41 anos com filhos ainda menores. É indescritível o sofrimento da mulher, de seus familiares e amigos. Faleceu aos 43 anos ao lado dos pais, irmãos, marido, familiares e amigos e com as bênçãos do pároco que com ela fazia suas orações. Anos depois foi a vez de minha filha primogênita, que aos trinta e oito anos teve diagnosticado o mesmo câncer de sua mãe. Mas agora, com a evolução espantosa da medicina com os exames hoje existentes, teve um diagnóstico precoce, foi realizada a mastectomia total, passou por todo o martírio dos tratamentos posteriores, mas venceu. Agora fica a dúvida tira ou não o ovário? A minha opinião eu já lhe dei, sim. Com câncer de mama sou radical, faça tudo. Na menopausa já está, pois entre os medicamentos tomados existe um que inibe a produção de estrogênio. È a chamada menopausa química. Por que não a menopausa cirúrgica com a retirada dos ovários? No mínimo terá o direito de repetir a emocionante frase de Angelina Jolie: ”Meus filhos nunca terão que dizer, mamãe morreu de câncer de ovário”. Se sempre admirei essa atriz pela sua beleza, simplicidade e talento hoje eu a respeito pela sua coragem e belo exemplo dado. Ainda usando as palavras de Angelina:"Agora estou na menopausa. Não serei capaz de ter mais filhos, e espero algumas mudanças físicas. Mas eu me sinto à vontade com o que virá, não porque eu sou forte, mas porque esta é uma parte da vida. Não é nada a ser temido. Não é fácil tomar estas decisões. Mas é possível assumir o controle e enfrentar de frente qualquer problema de saúde. Você pode buscar aconselhamento, estudar as opções e tomar as decisões que são apropriadas para você. Conhecimento é poder", concluiu a atriz.Termino este artigo, com a emoção de um marido que perdeu sua amada esposa para essa doença mas que tem uma filha determinada a viver. Advogada, funcionária do Tribunal Regional do Trabalho, esposa de Juiz Federal e mãe de dois filhos, o mais velho Acadêmico de Medicina da Emescan, em Vitória- ES. Refiro-me a minha filha Bianca e aqui está sua história em seu lindo depoimento, o relato de uma forma eloqüente, de sua luta pelo seu direito de viver.
"Eu sempre soube que carregava uma genética propícia ao câncer de mama, então comecei muito cedo a fazer acompanhamento médico semestral, mas sempre com a idéia fixa de retirar profilaticamente glândulas mamárias. Mesmo relatando aos médicos os casos da minha avó e da minha mãe, havia forte resistência em realizar a cirurgia, argumentando que o procedimento não era indicado na minha idade, 38 anos, em plena fase reprodutiva. Estudiosa do assunto, eu buscava os melhores e mais modernos métodos de diagnostico por imagem. Foi assim, que insistindo em fazer uma ressonância magnética - também não recomendada pelos médicos à época - acabei descobrindo que era portadora de carcinoma de mama ductal invasivo, que não havia sido detectado anteriormente pela mamografia, por se tratar de uma mama jovem e densa. Naquele momento em que recebi o fatídico diagnóstico, tive a nítida noção de minha finitude. Não quis aceitar a idéia de que meus filhos vivenciassem a mesma dor sentida por mim duas décadas antes, com a perda da minha mãe. A notícia de um diagnóstico de câncer teve o mesmo efeito de uma sentença de morte. Ficou claro que eu não mais veria os meus filhos crescerem, seriam órfãos como eu fui. Não estaria presente em suas formaturas e em seus casamentos.Não conheceria minhas noras e meus netos.O mundo material acabava ali e junto com ele os meus sonhos e planos de futuro. Não iria envelhecer ao lado de meu marido, abraçar meus irmãos, sair com meus amigos. Nunca mais ver o azul do céu e do mar e o encontro dos dois infinitos no horizonte. Era o adeus definitivo ao pequenos prazeres da vida cotidiana: de andar na praia,sentir areia sob os pés, mergulhar no mar num dia de verão, brindar a vida com os amigos queridos. Tudo isso rodopiava na minha cabeça, desaguava numa grande espiral de pensamentos e terminava com um choro incontido, com uma pergunta enigmática: Por que eu? Não havia resposta, o destino estava traçado pela mão do Criador. A partir daí iniciei uma luta sem tréguas para vencer o inimigo que já havia vitimizado parte da minha família. Sem tempo para lamentar a sorte, fui imediatamente para sala de cirurgia e foi realizada mastectomia total na mama acometida e retirada das glândulas mamárias na outra profilaticamente. Após, comecei imediatamente as sessões de quimioterapia. Eu quero é viver!!! Viver pra ver meus filhos crescerem; viver pra assistir as festas de formatura; viver pra beijar meus netos e afagar seus cabelos na mais tenra infância. 15 dias depois da primeira sessão da quimioterapia estava quase sem cabelos da cabeça, sem as sobrancelha e lisa no resto do corpo. E agora: peruca ou lenço? Fiquei bem de lenço. Os cabelos da peruca eram mais lisos que os meus originais e até que ficou bom. Os amigos me elogiavam num misto de pena e incentivo. Seguiram os exames de imagem e até o revolucionário PET SCAN, utilizado para rastrear o metabolismo das células malignas em todo o corpo. A peregrinação entre consultórios, laboratórios, hospitais é incessante. Mas todo esse esforço e controle diuturno tem sido válido. Passados quase 05 anos do meu diagnóstico inicial, estou viva e bem, caso contrario não estaria aqui para dar esse depoimento. Estou vencendo o inimigo invisível, devastador e cruel. Para “aqueles que estão no grupo de risco um breve conselho: antecipe o seu diagnóstico e não tema a doença, enfrente”
Pensamento da semana
Todos nós temos dificuldades, temos carências, sentimentos; afinal somos humanos. Alguns sentem mais, outros menos, alguns quase nada, mas sentem. Todos têm momentos de alegrias e outros de tristezas. Cada um sofre e se alegra por motivos diferentes. Podem frequentar baladas, barzinho com amigos, ou podem nada ter, nem mesmo um teto. Não importa, todos tem seus momentos de alegrias e tristezas. Na verdade alguns se alegram com pouco, outros que tudo tem, se alegram por motivos diferentes. O mesmo raciocínio vale para as tristezas. A boa notícia é que como dizia Chaplin: “Nada é para sempre, nem mesmo nossos problemas”.
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