Com autossuficiência do calcário, estado prevê recuperação de 100% das áreas degradadas
Com vocação para o agronegócio, Rondônia é destaque no rol dos maiores produtores de diversas culturas do Brasil e, a partir de 2016, inicia uma nova fase de crescimento que promete levar o estado ao topo do ranking de produção. Durante três décadas o campo rondoniense sofreu com a escassez de calcário, produto essencial para a correção do solo e, consequentemente, aumento de produtividade. Até meados de 2014, a única usina de calcário no estado era a Félix Fleury, unidade da Companhia de Mineração de Rondônia (CMR), localizada no município de Pimenta Bueno, a 550 quilômetros de Porto Velho. A planta, inaugurada em 1984 pelo então governador Jorge Teixeira de Oliveira, tinha capacidade instalada de apenas quatro mil toneladas por ano. “Não dava pra atender quase ninguém com aquela produção tão baixa e muita gente pagava caro para trazer calcário do Mato Grosso”, lembra Ronil Peron – gerente da usina.
Com um investimento de R$ 12 milhões, o governo de Rondônia instalou uma planta capaz de extrair e fabricar 400 mil toneladas anualmente. No ano passado, 130 mil toneladas do produto foram vendidas e distribuídas através de programas de fomento estatais. O calcário produzido na Félix Fleury não supre a demanda dos produtores rondonienses. Estima-se que, para recuperar os 4,5 milhões de hectares em estágio de degradação, o estado precisa de 1,1 milhão de toneladas de calcário anualmente.
A pressão mundial pela redução dos gases de efeito estufa e a constante demanda por alimentos, obrigaram os produtores rurais de Rondônia passaram a se profissionalizar utilizando técnicas de boas práticas agropecuárias (BPA). O desmatamento e as queimadas nunca estiveram em níveis tão baixos e, para que isso acorra, o uso do calcário é primordial. Obversando a dificuldade do produtor em procurar o produto mineral no estado vizinho, o empresário Cesar Cassol também resolveu apostar na produção do corretor. A planta instalada no município de Parecis também capacidade para 400 mil toneladas/ano, mesma quantidade produzida pela companhia do governo. Somadas as capacidades de produção das duas plantas, o estado ainda está com déficit de 300 mil toneladas, problema que deve ser resolvido nos próximos meses.
“O governo do estado já adquiriu uma segunda planta com a mesma capacidade (400 mil toneladas/ano) que deve começar a operar até abril deste ano. Sabemos que os estados do Acre e Amazonas necessitam de calcário porque nenhum dos dois têm jazidas, mas não vamos vender. Seremos autossuficientes em calcário”, disse o secretário de Estado da Agricultura, Evandro Padovani.
Estima-se que as duas jazidas exploradas em Rondônia (Félix Fleury e Grupo Cesar) tenham material suficientes para os próximos 200 anos. E essa não é a única semelhança entre as duas. O PRNT – poder relativo de neutralização total – dos produtos fabricados ultrapassam 86%.
“Fazemos análises todo mês para vendermos ao produtor um calcário que garanta resposta rápida da terra, neutralizando o alumínio tóxico e fornecendo o cálcio e o magnésio que são nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas”, explicou o diretor executivo da Seagri, Adilson Pereira.
Corrigindo a terra para plantar e colher
Na linha 188 sul do município de Rolim de Moura, uma família abençoada até no sobrenome, Santos de Jesus, resolveu investir no plantio de laranja em 1989, quando muita gente ainda tinha a velha crença de que certas culturas só produziam em escala comercial no Sul e Sudeste do Brasil. Já são 27 anos de dedicação do pai e três filhos à propriedade que é pequena no tamanho, mas imensa em produtividade. Os 19,5 mil pés de laranja Pera Rio, plantados numa área de 47 hectares, produzem o ano inteiro. Na safra, entre abril e julho, a colheita fica 60% maior e a produtividade gira em torno de 40 toneladas por hectare.
“A gente entende que planta é como um ser vivo. Para viver e produzir bem precisa de uma boa alimentação. No caso das plantas essa boa alimentação vem da terra bem nutrida. Quando me perguntam sobre a importância do calcário na produção eu sempre respondo que sem o calcário não existiria produção”, afirma Josenildo dos Santos de Jesus, um dos sócios da propriedade que nos acompanhou durante a visita ao laranjal da família.
O negócio com as laranjas prosperou. Hoje, os Santos de Jesus têm a própria indústria onde as frutas são processadas, embaladas e levadas a boa parte dos municípios de Rondônia. O sucesso com a cultura fez a família investir também no cultivo de banana. Seis hectares da propriedade estão com bananal produzindo sem parar. A renda da família ultrapassa a casa dos R$ 2 milhões por ano.
Análise do solo
Calcário é necessário, mas em excesso pode ser veneno. O pesquisador da Embrapa na área de ciência do solo, Ângelo Mansur Mendes, recomenda a análise do solo antes da aplicação do corretivo. O laboratório da empresa em Porto Velho realiza mais de cinco mil amostras de solo por ano e o preço não passa de R$ 25,00. O trabalho engloba testes de contagem de pH, fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), hidrogênio (H), alumínio (Al) e matéria orgânica. As análises são feitas em equipamentos de última geração de os resultados fornecem números exatos para que o produtor possa fazer o cálculo correto da quantidade de calcário necessário para correção daquele solo.
“É essencial que o produtor faça a análise do solo. Assim ele não gasta mais, nem menos do que o necessário para ter uma boa produtividade. Automedicar a terra com calcário não é um bom negócio porque, assim como a falta o excesso também é prejudicial”, diz o pesquisador.
Benefícios do Calcário Dolomítico ao Solo
- Proporciona os nutrientes Cálcio e Magnésio para as plantas;
- Neutraliza a acidez do solo, reduzindo também a solubilidade do manganês, ferro e do alumínio, tóxicos às plantas quando em grandes quantidades;
- Aumenta a atividade e o número de bactérias benéficas ao solo, acelerando a decomposição dos resíduos das plantas, liberando Nitrogênio e Fósforo, benéficos ao crescimento dos vegetais;
- Com a aplicação de calcário nos solos, ficam disponíveis outros elementosmais raros às plantas;
- Melhora as condições de drenagem e arejamento do solo;
- O Cálcio afeta diretamente a ocorrência e evolução das doenças,aumentando a resistência das plantas ao agente causador (fungo,bactéria ou vírus), e, indiretamente, através da reação do solo.
- A prática de calagem também controla parcialmente a ocorrência e aseveridade das doenças modificando o solo de tal forma que proporcionaum maior ou menor desenvolvimento de microrganismos prejudiciais àplanta.
Calcário na pecuária leiteira
Mesmo ocupando a 8ª posição no ranking de maior produtor de leite do Brasil, Rondônia ainda não tem produção suficiente para suprir a demanda das 37 indústrias instaladas no estado. Na época da safra, muitos laticínios trabalham com capacidade instalada reduzida em 40%, na entressafra chegam a fechar as portas. Para aumentar a produtividade, a Secretaria de Estado da Agricultura criou uma força tarefa, aliando municípios e Emater, para fomentar a cultura do leite. O governo adquiriu 52 mil toneladas de calcário para distribuição nos quatro cantos do estado.
“Nossos produtores de leite estão empenhados na implantação do pasto rotacionado porque já sabem que o segredo da produção não é o tamanho, mas qualidade da terra que receberá a semente de braquiária. Para manter uma boa quantidade de matéria verde no pasto, capaz de triplicar a produtividade do leite, é preciso fazer a correção do solo. O governo também vem trabalhando muito, através dos técnicos da Seagri e Emater na conscientização do produtor para fazer a análise de solo”, disse Evandro Padovani.
Fontes de pesquisa: Seagri, Emater, Embrapa e Gestão no Campo
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