Dia das Mães em tempos de pandemia
Em dias de quarentena, algumas datas tornam-se mais significativas, dia das mães, é sem dúvidas uma delas. Seja pela distância, seja pela presença, seja pela ausência, certamente não será um dia das mães como outros. Em dias de quarentena, os sentimentos, as emoções e as reações estão, cada vez mais à flor da pele, não leitores, não será um dia das mães como outro. Por ser um dia “ diferente”, farei um breve histórico desta data para compreendermos que vai além de uma data comercial.
Considera-se que o Dia das Mães surgiu nos Estados Unidos, bem no começo do século XX. Apesar disso, podemos perceber semelhanças entre essa data comemorativa e algumas celebrações realizadas na Antiguidade clássica, isto é, na Grécia e Roma antiga. Não existe uma associação direta entre a celebração moderna e a realizada na Antiguidade, mas vislumbramos um diálogo demonstrando que festivais em homenagem à figura materna não são uma exclusividade do mundo contemporâneo. Na Grécia, por exemplo, celebrava-se Reia, a mãe dos deuses. No Egito, enormes festivais eram realizados em honra à Isis, deusa mãe
O Dia das Mães, enquanto data comemorativa, surgiu na primeira década do século XX, sendo criado por Anna Jarvis, cujo intento era homenagear a sua mãe, Ann Jarvis, conhecida por realizar trabalho social com outras mães, sobretudo no período da Guerra Civil Americana.
Ann Jarvis, que frequentava uma igreja metodista, dedicou sua vida ao ativismo social. Ela o iniciou promovendo ações que possibilitaram a melhoria das condições sanitárias de sua comunidade. Lá ela criou o Mother’s Day Work Clubs, uma instituição voltada para melhorar as condições sanitárias de algumas cidades na Virgínia Ocidental. Nesse trabalho, Ann Jarvis dava assistência às famílias que necessitavam de ajuda, e orientava-as para que elas tivessem boas condições sanitárias, de forma a evitar doenças.
A popularização dessa data nos Estados Unidos fez com que ela eventualmente chegasse ao Brasil. A primeira celebração do tipo aconteceu aqui em 12 de maio de 1918, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Essa primeira vez foi promovida pela Associação Cristã dos Moços do Rio Grande do Sul.
O Dia das Mães foi oficializado no Brasil na década de 1930, quando o presidente Getúlio Vargas emitiu o Decreto nº 21.366, em 5 de maio de 1932. Por meio desse documento, determinou-se o segundo domingo de maio como momento para comemorar os “sentimentos e virtudes” do amor materno. Essa data foi uma conquista realizada por influência do movimento feminista brasileiro, que estava em crescimento.
Bom, entendo que dia das mães vai além da datas e leis, é a essência de nossa vida e, certamente temos em nós, nossa maneira de agradecer e reconhecer. Algumas leituras são bem inspiradoras, como Agatha Christie, em seu tom de romance policial, “O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho. ” E extermina mesmo.
Nosso saudoso Carlos Drummond de Andrade, em seu poema Para Sempre, certamente reflete o sentimento de todos nós. À você mamãe, que as bênçãos do Divino lhes cubra de felicidade.
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
* Célio Leandro é mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná,, escritor e membro da Academia Rondoniense de Letras
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