Rondônia, 23 de novembro de 2024
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DIREITO NA MEDICINA – Por Cândido Ocampo

O advogado Cândido Ocampo, a partir desta segunda-feira dá início a coluna sobre Direito Médico. Acompanhe.


O avanço tecnológico das últimas décadas, principalmente na cibernética, trouxe sensíveis mudanças na atividade produtiva humana. Na Medicina parece que esse impacto foi ainda mais estarrecedor. Grandes empresas de alta tecnologia (nenhuma nacional) empregam milhões de dólares em pesquisas científicas a fim de engendrar máquinas e instrumentos médico-hospitalares capazes de não só substituirem os sentidos humanos, mas potencializá-los à realidades antes jamais imaginadas.

Essa modernização dos meios da atividade transformou o médico clássico em um técnico altamente especializado, um profissional que produz em alta escala, um refém da produtividade. A erudição médica vai dando lugar a uma sólida estrutura instrumental. Não existe mais o médico de família. Se existe está confinado no lado escuro da lua, invisível aos olhos comuns. A impessoalidade se posicionou, irreversivelmente, entre o médico e o doente. O anonimato nas relações médico-paciente é a regra. O paciente se despersonalizou e tornou-se um mero número estatístico. Curar é preciso, relacionar-se não é preciso. E não é justo creditar essas mudanças apenas aos profissionais da medicina. São coisas do mundo novo. É o preço da modernidade. Não existe moeda de uma face.


O avanço tecnológico das últimas décadas, principalmente na cibernética, trouxe sensíveis mudanças na atividade produtiva humana. Na Medicina parece que esse impacto foi ainda mais estarrecedor. Grandes empresas de alta tecnologia (nenhuma nacional) empregam milhões de dólares em pesquisas científicas a fim de engendrar máquinas e instrumentos médico-hospitalares capazes de não só substituirem os sentidos humanos, mas potencializá-los à realidades antes jamais imaginadas.

Essa modernização dos meios da atividade transformou o médico clássico em um técnico altamente especializado, um profissional que produz em alta escala, um refém da produtividade. A erudição médica vai dando lugar a uma sólida estrutura instrumental. Não existe mais o médico de família. Se existe está confinado no lado escuro da lua, invisível aos olhos comuns. A impessoalidade se posicionou, irreversivelmente, entre o médico e o doente. O anonimato nas relações médico-paciente é a regra. O paciente se despersonalizou e tornou-se um mero número estatístico. Curar é preciso, relacionar-se não é preciso. E não é justo creditar essas mudanças apenas aos profissionais da medicina. São coisas do mundo novo. É o preço da modernidade. Não existe moeda de uma face.

Na medida em que as novas técnicas anunciam tratamentos quase “milagrosos”, cresce no imaginário coletivo a certeza de que a Medicina tudo pode curar. Em meados do século passado foi a penicilina, hoje são as células-tronco que criam uma falsa sensação de que não mais morreremos de doenças. O paciente, antes preocupado apenas com suas obrigações, transformou-se em cliente, muito mais atento aos seus direitos de consumidor. Essas duas realidades quando se encontram transformam a medicina em “profissão perigo”, gerando um ambiente opressor de cobranças não reveladas, mas potencialmente inflamável, onde alguns pacientes movidos pela má-fé tentam transformar a doença em matéria-prima de sua própria sobrevivência.

A intranquilidade é uma péssima companheira de profissão.

O pragmatismo utilitarista da sociedade capitalista está transformando a Medicina em uma ciência muito mais exata do que humana. Está passando da hora de reagir.

O autor é advogado atuante no ramo do Direito Médico.

E-mail: candidoofernandes@bol.com.br

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