Rondônia, 24 de novembro de 2024
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DOUTOR SÉRGIO MELLO: O MÉDICO E O MONSTRO - Por Ivonete Gomes

“Essa imprensa não tem medo, mas cautela quanto ao comportamento covarde de quem não tem argumentos.”

Poderia ser o médico e o monstro, de Roberto Louis Stevenson, mas a história se passa nos dias atuais e longe da vitoriana Inglaterra. Indicado não se sabe por quem, o médico – nas horas vagas mestre das artes marciais – recebe do governo de Rondônia a incumbência de dirigir ponto nevrálgico da saúde pública. Mesmo com histórico de agressões, o estranho Sérgio Mello torna-se diretor do pronto-socorro João Paulo II. Por lá fica alguns meses, até ser flagrado em situações vexatórias.

Em um dos fatídicos episódios, mesmo acostumado à dor das agulhas, o lutador automedica-se para receber nova tatuagem. A injeção do anestésico Lidocaína em alta dosagem é aplicada na região das costelas. Isso transforma o médico em monstro tanto quanto a picada da aranha dá superpoderes a Peter Parker.

Sob o efeito até então desconhecido da droga, Sérgio Mello tem surtos de violência. Quebra o estúdio do tatuador, ameaça e é levado ao hospital por fortes policiais militares chamados por pessoas amedrontadas. Na unidade hospitalar o “monstro” insiste em ficar despido e vocifera: “sou tarado, sou tarado”. Algum tempo depois, Sérgio Mello vira médico novamente, mas o escândalo faz a imprensa questionar a capacidade do profissional para lidar com setor tão problemático. Seria estresse, o efeito da droga ou a combinação de ambos?

O presidente do sindicato dos servidores da Saúde também demonstra preocupação com os frequentes surtos, mas o governo nada faz a respeito. Quando médico, Sérgio Mello não é monstro e tem amigos para defendê-lo. Mas, como administrador de hospital ele é excelente lutador Jiu-jitsu. Ainda assim são necessárias imagens de pacientes consumidos por larvas para que a direção do hospital seja substituída.

Perder tão bom CDS não agrada Sérgio Mello e ele volta sua loucura aos jornalistas que acompanharam fatos e episódios protagonizados pelo monstro. Um ranger de dentes em um restaurante, uma ameaça em outro encontro casual…o monstro nunca mais voltara a ser médico. Na busca por segurança, um jornalista denuncia as ameaças, pede proteção. Mas, Sérgio tem amigos no governo e é funcionário querido no Ministério Público.

Eis que um dia o monstro alcança sua vingança. Tem a chance de matar o inimigo que usa como arma a consciência e a caneta. Sérgio tem maior poder “bélico”. Ele é a própria arma. Transformou-se em máquina mortífera ao absorver técnicas de lutas milenares. Ainda tão superior em força, o monstro ataca por trás e vendo o algoz desacordado ao chão desfere chutes numa desvairada tentativa de ceifar a vida do abusado jornalista que ousou revelar a verdade sobre seu obscuro segredo: ele é médico e ele é monstro.

A história ainda não tem um justo final. O jornalista ainda recupera-se da violência e o monstro segue invisível, coberto pelo manto da impunidade. Ocorre que aquele jornalista hospitalizado por todo um fim de semana não está sozinho e não foi a ele apenas que monstro fez sangrar pela boca e ouvidos.

Ao tentar calar matando, o monstro feriu uma imprensa que sob a ótica de Ruy Barbosa “é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam. Percebe onde a alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que a ameaça”.

A garrafada e os pontapés do monstro feriram princípios constitucionais da liberdade de imprensa. Essa imprensa não se cala, sob pena de deixar as coisas públicas nas mãos de lunáticos e desequilibrados. “As democracias apoiam a existência de uma imprensa livre. Um Poder Judiciário independente, uma sociedade civil num Estado de Direito e liberdade de expressão apoiam todos uma imprensa livre. Uma imprensa livre deve ter proteção legal”.

Essa imprensa não tem medo, mas cautela quanto ao comportamento covarde de quem não tem argumentos.

Mais de 70 jornalistas assassinados este ano

Nos primeiros seis meses de 2012, 72 jornalistas foram mortos no mundo, número 33% acima dos assassinatos de repórteres registrados em 2011, segundo um relatório publicado em julho deste ano pela Press Emblem Campaign (PEC), organização suíça que monitora liberdade de imprensa. A maior parte das mortes ocorreu na América Latina, onde 23 jornalistas foram mortos de janeiro a junho.

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Sociedade internacional preocupada com o Brasil

A Sociedade Interamericana de Imprensa lançou alerta sobre o Brasil. O comunicado destaca o assassinato de três jornalistas somente este ano. O informe menciona as mortes de Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, editor-chefe do Jornal da Praça, em Ponta Porã (MS); Mário Randolfo Marques Lopes, do site Vassouras na Net, em Barra do Piraí (RJ) e Laércio de Souza, jornalista da rádio Sucesso, Camaçari (BA).

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