Rondônia, 25 de dezembro de 2024
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Hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude - Por Ivonete Gomes

É instantânea a associação da frase do duque François de La Rochefoucauld ao decreto governamental de Confúcio Moura instituindo o prêmio de jornalismo Paulo Queiroz. Chega a ser nauseante aos privilegiados de convívio com tão nobre jornalista, leitores dos textos brilhantes, das críticas lúcidas, da ética dos três tempos da notícia, ver, publicado em Diário Oficial, homenagem póstuma de autoria tão imerecida.



O desabafo foi uma tentativa de desmistificar um glamour reinante no imaginário popular do jornalista bem sucedido financeiramente e, sobretudo, acalmar credores impacientes. “Trabalhei, quero receber o que ficou acertado. Os meus credores também. Só que estes exigem prá já! Ontem... (...) O pior é que ninguém acredita na minha história. Pudera! (...) Não bastasse o procedimento ser incongruente com a campanha vitoriosa, não consigo estabelecer prazos com quem devo, porquanto também não os tenho dos que me devem (...) Razão pela qual estou sendo obrigado a esta providência extremada. Na pior das hipóteses, saberão que não lhes estou mentindo.”

O jornalista Paulo Queiroz era sábio, inspirador e, acima de tudo, digno. Daí a ingrata surpresa do artigo intitulado “Por cima de queda, coice!”, publicado em novembro de 2010, quatro meses antes da sua triste partida.  Na narrativa, Paulo abriu mão da impessoalidade do texto, traço marcante em seu trabalho, para revelar problemas de foro íntimo e fazer um apelo. Naquele momento tornou pública a cruel via crucis no webjornalismo, a dificuldade financeira de um dos maiores veículos de comunicação do Estado e denunciou um calote aplicado pelo então recém-eleito governador de Rondônia.  “Somando as partes que me deixaram de ser pagas no 1º turno da eleição com o nada que recebi pelo trabalho na segunda etapa do pleito, a coordenação da campanha peemedebista me deve R$ 18 mil”, escreveu Paulo Queiroz.

O desabafo foi uma tentativa de desmistificar um glamour reinante no imaginário popular do jornalista bem sucedido financeiramente e, sobretudo, acalmar credores impacientes. “Trabalhei, quero receber o que ficou acertado. Os meus credores também. Só que estes exigem prá já! Ontem... (...) O pior é que ninguém acredita na minha história. Pudera! (...) Não bastasse o procedimento ser incongruente com a campanha vitoriosa, não consigo estabelecer prazos com quem devo, porquanto também não os tenho dos que me devem (...) Razão pela qual estou sendo obrigado a esta providência extremada. Na pior das hipóteses, saberão que não lhes estou mentindo.”

Inspirado por atitude do jornalista Altino Machado, outra vítima do mal financeiro que assola maioria esmagadora dos jornalistas brasileiros, Paulo Queiroz terminou o relato solicitando empréstimos aos leitores e impondo condições para devolução de quantias depositadas em conta corrente devidamente informada e concluiu: “O apelo à cidadania tem a ver com o sentido com que sempre exerci a minha profissão, colocando o interesse público como meta (...) No entanto, não tenho certeza se isso está certo. Riscos de toda ordem e não consigo enxergar saídas menos patéticas. Nuanças cujos relatos implicariam complicações inescrutáveis impedem algumas que podem parecer óbvias e razoáveis.”

Paulo Queiroz não merecia tamanha exposição e, por Deus, não merece ter o nome associado a um concurso instituído às vésperas de um projeto de reeleição para premiar jornalistas – muitos, como ele - massacrados pelos constantes calotes e retaliações. Sim, caros leitores, jornalista é gente e gente tem necessidades básicas e credores à porta. Não se pode admitir o nome Paulo Queiroz associado a um governo de tal soberba a ponto de emprestar a si mesmo adjetivo tão nobre como Cooperação. 

Segue aqui antecipado pedido de desculpas à família em caso de discordância. Por outro lado, grandes nomes do jornalismo rondoniense, amigos de lutas e caminhada ao lado de Paulo são unânimes e, certamente, comungam com pensamento bem apropriado à circunstância:

“Rituais e homenagens póstumas não apagam traições. Estátuas não compensam torturas. Letreiros luminosos em prédios edificados com grana pública não ofuscam isolamentos cruéis. Jardins no centro não limpam cusparadas. Isso não basta.” (Fábio Sexugi)

Clique aqui e confira, artigo completo de Paulo Queiroz e a opinião de jornalistas.

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