Lavouras de milho avançam em todo Cone Sul do estado
Ao contrário de Vilhena, onde a produção é maior, mas concentrada em menor quantidade de propriedades, a microrregião de Cerejeiras, que engloba os municípios de Colorado do Oeste, Pimenteiras, Corumbiara e Cabixi, detém o maior número de produtores de grãos de Rondônia. São 70 mil hectares de área plantada distribuídos em toda a região e em diversas mãos. O sindicato dos produtores locais tem mais de 600 membros ativos, segundo o presidente da entidade Jair Gollo. As lavouras crescem a cada safra e os silos de armazenagem e secadores surgem da noite para o dia. Grandes empresas como Amaggi e Cargill estão na região à espreita dos grãos colhidos do campo.
Jair Gollo viu de perto o avanço da agricultura na região. Nascido em Concórdia (SC), ele chegou ao estado em 1989 quando começou o trabalho na lavoura de arroz. Em 1997 recebeu a visita de um diretor de uma das maiores companhias da América Latina no ramo do agronegócio, a Amaggi. Com o investimento da empresa em Cerejeiras, o produtor passou a cultivar soja e milho. Este ano, a falta de chuva na região no começo da janela de plantio da soja, deixou o produtor apreensivo. A produtividade caiu e o volume colhido não passou das 53 sacas por hectare. A esperança de lucro agora vem da lavoura de 920 hectares de milho safrinha. “Nós plantamos a soja na primeira semana de outubro e logo depois parou de chover e só voltou a cair água 20 dias depois. Era tarde demais. Perdemos 200 hectares”, lembra o agricultor.
Com jeitão de quem, mesmo com as intempéries, está sempre de bem com a vida, Jair Gollo é referência para os demais produtores da região. É notoriamente perfeccionista com a lavoura. Não brinca com tratos culturais e faz a própria pesquisa sobre o desenvolvimento de grãos. Na lavoura do milho 42 materiais estão em teste. “Fazemos isso todo ano para saber qual variedade apresenta maior produtividade. As que tiverem melhor resultado serão as que vamos plantar na próxima safra”, diz Jair Gollo.
O produtor também investiu na instalação de silo e secador próprios. A estrutura tem capacidade para secar 100 toneladas por hora e armazenar 230 mil sacas. “O gargalo é a energia. Caríssima. Seis horas da tarde a gente desliga tudo e só funciona, quando precisa, com motor a diesel. O governo não dá incentivo para quem produz. Um absurdo”, reclama.
Da porteira para dentro da fazenda, a ordem é manter as contas ajustadas. Com o custo de produção do hectare do milho estimado em R$ 1,2 mil, jogar R$ 1,1 milhão na terra, mantém o produtor em alerta e com orações em dia para que não falte chuva. Para não correr risco, os produtores da região fazem a “operação travar custo”. “No sindicato, estamos orientando no sentido de só gastar com insumos o valor contratado com as empresas que compram os grãos antecipadamente. Às vezes você negocia a saca a um preço e ao final ela está o dobro. Você não tem aquele lucro todo, mas pelo menos dorme sossegado com a certeza das contas pagas. Só se preocupa em produzir bem para ganhar com o que sobrou”, diz Jair Gollo.
ÁREA DE REFÚGIO para manter a resistência dos transgênicos no milharal
Plantações de culturas transgênicas Bt, como milho, soja e algodão, precisam manter uma área da lavoura somente com plantas convencionais não transgênicas. A falta dessa medida preventiva, conhecida como área de refúgio, acaba provocando a seleção de insetos-praga cada vez mais resistentes, tornando inócua a ação desejada dos transgênicos.
A área de refúgio é a principal estratégia que os produtores têm para evitar a quebra de resistência dos transgênicos, mantendo o equilíbrio ecológico e a produtividade das lavouras.
Segundo pesquisas da Embrapa, o produtor que não utilizar a área de refúgio pode ser o primeiro a sofrer com os prejuízos, pois quando não há estímulos à migração, a tendência das mariposas emergidas numa determinada área é permanecer no local. É recomendado que, além de plantar a área de refúgio, o produtor faça uma rotação do seu híbrido, utilizando diferentes eventos de Bt na sua área plantada, principalmente onde já foi observado ocorrência de lagartas. Além disso, o produtor deve utilizar híbridos de milho expressando mais de uma proteína Bt e deve evitar o uso do mesmo evento Bt utilizado no ano anterior.
Um dos principais riscos associados a não adoção da área de refúgio é a rápida seleção de indivíduos ou raças das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt.
O agricultor precisa buscar informação. Quando as dimensões das glebas cultivadas com milho Bt, por exemplo, forem acima de 800 metros de comprimento, serão necessárias faixas de refúgio internas nas respectivas glebas, semeadas simultaneamente.
O milho transgênico atualmente comercializado no Brasil pode expressar em seus tecidos eventos com uma, duas ou até três proteínas obtidas da bactéria Bacillus thuringiensis, que lhe dá o nome milho Bt e tem como pragas-alvo algumas espécies de lagartas (lepidópteros) e a larva-de-diabrótica, um besouro (coleópteros), que causam prejuízos à cultura do milho.
Na lavoura de milho Bt também ocorre uma otimização das tarefas de tratos culturais. Mas, para obter êxito na plantação o produtor precisa adotar práticas como o uso da área de refúgio e cumprir as normas de coexistência com as cultivares convencionais.
O principal papel do milho Bt, no manejo de pragas, é reduzir os danos causados pelas lagartas. Essa tecnologia deve ser vista como mais uma opção para o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e pode, se bem manejada, reduzir a utilização de inseticidas químicos, o que favorece o estabelecimento do controle biológico.
Independentemente da cultura Bt, a utilização da área de refúgio é fundamental para manter a eficiência da tecnologia por mais tempo. O princípio envolvido nas áreas de refúgio é simples. Se o produtor mantiver uma área de cultura 100% Bt, a ação inseticida da planta eliminará a maioria dos indivíduos, mas será preservado um pequeno grupo naturalmente resistente àquele princípio ativo. Com o tempo, os insetos mais resistentes serão os únicos sobreviventes e cruzarão entre si, gerando novas populações de indivíduos resistentes ao Bt.
A área de refúgio, composta por plantas convencionais, serve de abrigo para insetos suscetíveis à ação dos transgênicos. A sobrevivência deles garante novos cruzamentos entre resistentes e suscetíveis gerando novas populações em que essa resistência será diluída e promoverá a presença de insetos que serão eliminados pela cultura Bt.
O monitoramento da eficácia dos eventos Bt, utilizados nas lavouras, deve servir de balizamento para escolha dos eventos transgênicos a serem plantados na safra seguinte.
O produtor deve conhecer as proteínas inseticidas expressas em cada evento e evitar o plantio de eventos que contêm a mesma proteína inseticida em toda sua lavoura.
É preciso ter o mesmo cuidado em relação às proteínas que apresentam menor eficácia no controle das lagartas na safra anterior.
Recomendações
O percentual da área da lavoura a ser semeado com milho não Bt, de acordo com a recomendação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é de 10% cento do total da lavoura, independente da tecnologia a utilizada em milho e 20 % para soja.
A área de refúgio deve ser semeada com cultivares de iguais portes e ciclos aos do milho Bt. Também é preciso observar que o refúgio deve estar a menos de 800 metros de distância das plantas transgênicas. Esse sincronismo entre o desenvolvimento das plantas Bt com as não Bt permite o desenvolvimento de mariposas (adultos das lagartas) na área de milho Bt, simultaneamente com as emergidas na área de refúgio. Assim, ocorre o aumento de chances de acasalamento entre esses adultos, pois as mariposas não se dispersam por mais de 800 metros.
A rápida seleção de biótipos ou raças das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt também é um risco ao não se usar a área de refúgio. Evitar a seleção de insetos resistentes é a melhor estratégia.
Manejo de Pragas nas Culturas Bt
De acordo com informações publicadas no site da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), para o manejo de pragas nas culturas Bt, as boas práticas agrícolas recomendam a atenção para outros métodos de controle, principalmente os culturais, a saber: adoção da área de refúgio; dessecação antecipada seguida de inseticida somente se necessário; controle de plantas daninhas; tratamento de sementes; monitoramento periódico e utilização de inseticidas somente quando indicado pelo nível de ação para a espécie-alvo.
(Fonte: Embrapa e Abrasem)
Pesquisas em Rondônia
A unidade experimental da Embrapa em Rondônia tem vários programas de melhoramento do milho. O pesquisador de culturais anuais, Vicente Godinho, comanda os ensaios e orienta o plantio de cultivares com ciclos de produção diferentes. “O produtor trabalha com material de ciclo superprecoce, precoce e médio. São os melhores materiais para se trabalhar na safrinha. Os materiais tardios são plantados primeiro. Ele oferece alto potencial produtivo. Normalmente, as sementes são caras, mas acabam respondendo com boa produtividade”, disse.
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