Rondônia, 23 de novembro de 2024
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Leitura vesga e gritos surdos

Os recentes números divulgados pela Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE ) sobre a evolução e a qualidade dos sistemas educacionais pelo mundo afora mostram dados interessantes a serem observados. A cada três anos, esse clube de países em desenvolvimento, composto por 34 nações (democráticas), costuma realizar uma avaliação de como anda a eficiência dos sistemas de educação dos países pelo mundo. Em 2012, último ano, 510 mil alunos, de 65 países candidatos ao sonho do chamado mundo desenvolvido, participam do Programme for International Student Assessment – PISA, ou seja, o Programa para a Avaliação Internacional de Estudantes. No Brasil, 18.589 jovens, de todos os Estados e do DF, representando 767 escolas, responderam aos questionamentos. Esse grande termômetro quase global trata de mensurar a formação de alunos com 15 anos e descobrir seus conhecimentos nas áreas de matemática, leitura e ciências, após nove anos de ensino. O domínio razoável dessas habilidades é condição básica necessária para inserir os cidadãos no mundo moderno do século XXI e, sem a qual, a própria cidadania fica comprometida.



3. Números, avanços e carências

Lendo o resultado de forma sincrônica, isto é, apenas no que ele mostra no agora, o discurso cataclísmico, carregado de tintas pesadas e arroubos de indignação, é perfeitamente sustentado, porém frágil em uma mesa de debate mais qualificado. Normalmente, essa forma de conduzir a interpretação gráfica dos números, em situações como essa, está imbuída de demagogia política e interesses setoriais distintos. Não obstante, tais procedimentos fazem parte da vida democrática do país (e isso não é só privilégio desta nossa alegre e saltitante nação tupiniquim). Afinal de contas, o Brasil, num universo de 65 países, aparece em 58º lugar. Uma lástima. Mas a pergunta a ser escavucada é aquela que busca saber o que tem sido feito, ao longo dos últimos anos, para modificar esse quadro, ou, pelo menos, se ele tem melhorado ou piorado. Sem conhecer sobre isso, não saberemos se estamos no caminho certo ou não.

3. Números, avanços e carências

Segundo a análise dos dados da OCDE pelo Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, nos últimos nove anos, o Brasil foi, naquele contexto de 65 nações, o país em que houve o maior e melhor desempenho na área de matemática. Além disso, foi o segundo colocado quanto à inclusão de jovens no ensino médio. Tal dado tem um caráter muito significativo em face da nossa realidade e do nosso ponto de partida, contudo sua plena compreensão só será possível com estudo apurado do conjunto. Em 1991, o Brasil possuía 3,4 milhões de alunos no ensino médio. Em 2012, chegamos ao quantitativo de, aproximadamente, 8 milhões, ou seja, em 20 anos incluímos quase 5 milhões de jovens nesse nível. A taxa de repetência reduziu-se, melhoramos a formação dos professores e foi criado o FUNDEB. Mas, como saímos de um patamar muito baixo, a distância a percorrer ainda é maior. Nosso país possui 10 milhões de jovens fora do ensino médio, e isso precisa ser superado.

4. Eleger prioridade

Esse imbróglio educacional não se resume apenas ao dindim, embora, sem ele, nada seja resolvido. Normalmente, salta aos olhos uma dificuldade crônica de gestão, de comprometimento e de vontade política. Nós, empolgados tupiquinenses, investimos hoje 5% do PIB nacional em educação. Esse é um percentual muito parecido com o de outros países em desenvolvimento ou desenvolvidos (porém, para nós, ainda baixo). O grande desafio é fazer a enorme inclusão ainda restante e garantir o necessário aumento da qualidade. Tal ousada meta não se atinge sem dinheiro novo. Os sistemas deram mostra de melhoras, contudo não há como se conformar com o que temos hoje. O Brasil baixou a defasagem idade/série de 51% para 31% em menos de 10 anos. Ainda representa um número muito alto, mas, sem dúvida, há considerável evolução, logo, todos os dados devem ser observados, revistos, criticados, esmiuçados e reavaliados sem paixões.

5. Estados e Municípios são a base

A educação é responsabilidade da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Cada um deve atuar de forma articulada com as demais esferas no sentido de atender o interesse do país. Por qual motivo alguns sistemas funcionam de modo melhor do que outros? Por qual motivo, por exemplo, o Piauí (11º colocado), com sua histórica dificuldade, conseguiu obter desempenho melhor do que estados mais aquinhoados política e economicamente? Há uma certeza absoluta a pairar no ar: é impossível um país evoluir no mundo globalizado sem uma educação competente, eficiente e eficaz. Para isso, decisões políticas precisam ser tomadas, consolidadas e aprofundadas. O que você acha: pessoas sem essa compreensão serão capazes de conduzir tais processos? Isso sempre estará em jogo cada vez que o cidadão participar de um processo eleitoral. No mais... bem, no mais tem muita demagogia no ar.

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