Marechal Rondon, a Comissão das Linhas Telegráficas!
Na primeira década do século XX o Brasil necessitava se modernizar. O país que acabara de se tornar republicano era, na sua imensa maioria, agrário precisando avançar em muitos setores, principalmente no setor industrial. A Amazônia era um imenso vazio demográfico, ocupá-la era importante para um país que almejava ser grande e competitivo.
Um país de dimensões continentais precisava estar integrado tanto no aspecto territorial como no que tocava a comunicação. O governo federal sabia da necessidade e importância de integrar o extremo Norte do Brasil ao restante do território. Para ser mais preciso, era necessário integrar o Mato Grosso ao Amazonas.
Nestas paragens ocorriam dois fenômenos econômicos: o primeiro ciclo da borracha e a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, este último em razão do primeiro. Afonso Pena era o presidente da República e tomara conhecimento da experiência de um oficial do Exército Brasileiro com competência e determinação para uma missão de grande importância para o Estado brasileiro.
Foi nesse contexto que Mariano Cândido da Silva Rondon entra para a história do nosso Estado. O Marechal Rondon, inspetor geral de fronteiras, patrono das comunicações no Brasil e patrono do Estado de Rondônia.
Assim, no ano de 1907, Rondon foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antônio do Madeira, a primeira a alcançar a Região Amazônica, e que foi denominada Comissão Rondon. Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915.
Neste mesmo período transcorria a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que concomitante ao primeiro ciclo da borracha e a empreitada de Rondon colaborariam para o afluxo de pessoas para onde hoje é Rondônia.
A Comissão Rondon implantou estações telegráficas e instalou linhas telegráficas entre 1907 e 1915, desde a Chapada dos Parecis (Vilhena), passando por Santo Antônio (hoje um bairro da capital) e chegando até Guajará Mirim.
Sob as ordens de Rondon estavam civis e militares e mão-de-obra técnica qualificada, tais como: médicos, que prestavam atendimento aos enfermos, e cientistas, que coletaram dados e materiais para a realização de importantes estudos em mineralogia, etnologia e zoologia.
Sobre o rastro dos trabalhadores das linhas telegráficas chegaram homens e mulheres que, de forma paulatina, foram povoando o entorno das estações telegráficas, a saber: Vilhena, Jamari (Candeias), Presidente Pena (Ji-Paraná), Jaru, Presidente Hermes (Presidente Medici), Ariquemes, Jaci-Paraná, Guajará-Mirim e Santo Antônio. Essas estações tornaram-se embriões dos futuros municípios do Estado de Rondônia.
A linha telegráfica foi inaugurada em 1° de janeiro de 1915, permitindo a comunicação entre Cuiabá e Santo Antônio.
Embora não possamos considerá-las obsoletas, com a difusão do rádio no Brasil, o telégrafo com fio tornou-se ultrapassado e caiu em desuso. Isso provavelmente explique o fato da construção das linhas telegráficas ter estacionado em Santo Antônio, não seguindo para Manaus e Acre.
A atuação de Rondon não se restringe tão e somente à obra de engenharia. Em 1910, passou a dirigir o SPI - Serviço de Proteção ao Índio. Rondon era ardoroso defensor da causa indígena. Em 1967 o SPI transformou-se em Funai. Entre 1913 e 1914, foi o chefe da comissão científica na qual estava Theodore Roosevelt, ex-presidente norte-americano. A referida comissão coletou mais de 23 mil espécies que foram entregues ao museu de história natural de Nova York.
No ano de 1914, Rondon se depara com o majestoso Real Forte Príncipe da Beira e procede com a retirada de toda a vegetação que escondia a sua grandeza. Rondon entra para a galeria dos grandes não apenas por causa das linhas telegráficas, seus feitos vão muito além.
De família humilde e descendente dos índios Bororó e Terena, nasceu no Mato em 1865. No ano de 1873 foi para Cuiabá e em 1881 transferiu-se para a escola militar no Rio de Janeiro.
Em 1889 participou da comissão construtora que tinha como objetivo estender as comunicações através de linhas telegráficas entre o Rio de Janeiro e Cuiabá. Em 1890 foi nomeado capitão-engenheiro e muda-se para a cidade de Cuiabá. Em 1899 chefiou uma comissão cujo objetivo era a instalação de linhas telegráficas de Cuiabá a Corumbá e daí para as fronteiras com a Bolívia e o Paraguai.
Em 1919 foi nomeado diretor de engenharia do exército brasileiro. Em 1952 é aprovada a criação do Parque Nacional do Xingu, projeto de Rondon. No ano de 1955 alcança a patente de Marechal.
Em 1956 o Território Federal do Guaporé homenageia Rondon e passa a se chamar Território Federal de Rondônia. Em 1958, Rondon falece no Rio de Janeiro, no dia 19 de janeiro.
*José Felinto é professor, graduado em História pela Universidade Federal de Rondônia (Unir).
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