Melhoramento do arroz e a segurança alimentar
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Marley Marico Utumi*,
O arroz é um dos cereais mais consumidos em todo o mundo e estima-se que contribua ao redor de 20% da energia e 15% da proteína ingerida pela população. Em alguns países da Ásia a quantidade de arroz consumida é maior que 100 kg por habitante por ano, representando mais da metade da ingestão diária de energia e proteína. É bastante alta quando comparada à alguns países da Europa, com o consumo de 10 kg ou menos de arroz por habitante. No Brasil a quantidade consumida é mediana, com variações entre regiões, entre 40 a 60 kg per capita ao ano, que pode representar em torno de 15% da energia e 10% da proteína da dieta nacional.
O arroz é um dos cereais mais consumidos em todo o mundo e estima-se que contribua ao redor de 20% da energia e 15% da proteína ingerida pela população. Em alguns países da Ásia a quantidade de arroz consumida é maior que 100 kg por habitante por ano, representando mais da metade da ingestão diária de energia e proteína. É bastante alta quando comparada à alguns países da Europa, com o consumo de 10 kg ou menos de arroz por habitante. No Brasil a quantidade consumida é mediana, com variações entre regiões, entre 40 a 60 kg per capita ao ano, que pode representar em torno de 15% da energia e 10% da proteína da dieta nacional.
Durante décadas a pesquisa brasileira teve como foco principal o volume de produção, independente da qualidade do produto, especialmente para o arroz não irrigado. O objetivo era produzir o máximo, mas isso não era suficiente. Sabemos agora que a nossa preferência é pelo grão polido, quase transparente e brilhoso, de formato alongado e estreito, sem manchas, sem esbranquiçado, tecnicamente denominado de "longo fino, tipo 1". Muitos diziam "agulhinha" para este formato de grão, que era produzido no Sul do Brasil, em áreas irrigadas até o lançamento da variedade Primavera, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, em 1997.
Além do formato do grão, a Primavera tem excelente qualidade de cozimento, tornando-se a principal variedade de arroz para condições de cultivo não irrigado. A estrutura e propriedade do amido que compõe o grão desta variedade resultam em grãos cozidos macios e não empapados, mesmo logo após a colheita. O impacto da variedade Primavera foi tão importante no mercado que se tornou o padrão de excelência, melhorou o preço pago ao produtor de arroz, aumentou o preço de mercado do arroz de sequeiro – sem irrigação, e alterou até o sistema de produção do arroz.
Nessa mudança econômica e técnica mudou até mesmo a nomenclatura, do antigo nome de arroz de sequeiro passamos a ter arroz de terras altas, mais tecnificado, com variedades mais exigentes em cuidados no campo e após a colheita, mas muito mais produtivas e com grão com melhor qualidade culinária. E ao invés de "agulhinha", a denominação tornou-se tipo Primavera.
O arroz no Brasil é produzido em basicamente dois sistemas, o irrigado e o de terras altas. Nos últimos vinte anos a área cultivada diminuiu e a produção aumentou, pois a produtividade aumentou mais que o aumento da população. A produção brasileira é bastante concentrada na região Sul, com mais de 2/3 da produção, enquanto a segunda maior região produtora é a região Norte, com menos de 10% da produção nacional. A concentração no Sul preocupa, pois problemas climáticos naquela região podem resultar em grande impacto na produção brasileira, ressaltando-se também que as altas produções têm custo muito elevado num insumo que é extremamente importante: a água, pois o arroz sulista é praticamente todo irrigado e a água é extremamente necessária nos centros urbanos. Além disso, a necessidade de transportar e distribuir grandes volumes de arroz desde o Sul envolve custo que parece ilógico, pois é possível no mínimo a produção para consumo mais regionalizado.
Novos consumidores e situações de clima, mercado e economia pedem visão mais abrangente, pois a dinâmica do mercado, das áreas para produção e do consumidor mudam com o tempo e a pesquisa tem que estar antenada nas possíveis alterações e sempre com olhar para o futuro, pois uma nova variedade brasileira de arroz demora de cinco a dez anos para se tornar comercial. Isso na parte do melhoramento genético, porque também é necessário conhecimento, pesquisa e trabalho de várias áreas, como ajustes em máquinas, equipamentos e produtos, tornando necessário esse aspecto de antecipar e trabalhar com muitos profissionais de instituições de diversas regiões.
Do campo, com as pesquisas, à mesa
A pesquisa brasileira, especialmente na Embrapa, continua focada no cuidado básico para alta produtividade, estabilidade em diversos ambientes e qualidade do produto resultante para o consumidor e nas demandas específicas do mercado, seja para consumo interno, como para exportação.
Mundialmente o arroz é atacado pelo fungo Pyricularea grisea, causador da brusone, doença que pode provocar perda total da produção de grãos. A pesquisa tenta monitorar o fungo e suas raças e avaliar o material genético vegetal em condições controladas e em campo, criando ou usando condições que promovam alta incidência da doença, para auxiliar a seleção de diversos pais para novas variedades mais tolerantes em condições de cultivo comercial.
Rondônia, o terceiro maior produtor de arroz na região Norte, se destaca nos resultados de pesquisa com brusone, no Campo Experimental da Embrapa Rondônia em Vilhena, município na região Sul do estado, que, além disso, é vizinho ao estado do Mato Grosso, importante produtor de arroz da região Centro Oeste. Regionalmente, Vilhena é conhecida como Cidade Clima, com temperatura mais amena, com até 70C de diferença entre a maior e menor temperatura do ar, num período de 24 horas. No ensaio especial para brusone em Vilhena, as plantas ficam naturalmente cobertas de orvalho, chove quase todos os dias e são utilizados adubos em excesso e plantas naturalmente doentes muito próximas, de modo que quase todos os anos é possível obter resultados de extrema tolerância e extrema sensibilidade entre as centenas de materiais genéticos de arroz do Brasil e estrangeiros e avaliar as linhagens de arroz de todas as instituições parceiras do programa de melhoramento genético de arroz brasileiro.
Sobre o programa de melhoramento nacional, que conta com parceiros do Rio Grande do Sul até Roraima, a Embrapa Rondônia participa especialmente nas ações para arroz de terras altas, nos ensaios finais e intermediários de linhagens para obtenção e registro de novas cultivares comerciais. Os ensaios finais ocorrem simultaneamente em três locais do estado, Porto Velho, Ouro Preto do Oeste e Vilhena, já os intermediários e avaliação de famílias, apenas em Vilhena, pois a quantidade de sementes disponíveis nessas fases ainda não é suficiente para muitos locais.
Na avaliação de famílias e seleção de plantas individuais dentro das melhores famílias para obter novas linhagens e variedades, buscam-se os objetivos comuns do projeto de pesquisa: produtividade, tolerância a doenças e ao acamamento e qualidade de grãos;. e específicos para região quente e chuvosa, como extrema tolerância ao acamamento e baixa altura de planta. O ciclo mais curto passou a ser foco também, visando novas variedades mais precoces, para mais e melhor inserção do arroz em cultivos na segunda safra, recuperação/renovação de pastagens, consórcios com outras espécies ou sucessão de cultivos.
Nesse sentido, recentemente estiveram em Rondônia pesquisadoras da Embrapa, do grupo de melhoramento de arroz, para diversas ações na área de pesquisa, como auditar a qualidade do trabalho de campo e promover treinamento, discussões, informes de novos enfoques na pesquisa e apoio para seleção mais eficiente de linhagens promissoras; coletar material doente para estudos na área de biologia molecular; além de estruturar a programação de ações para avaliação de problemas emergentes.
Uma das curiosidades sobre como está a seleção das melhores plantas no campo, próximo de 10% das quase 400 progênies rondonianas semeadas nesta safra – descendentes das famílias que vieram para cá e que foram selecionadas durante dois a cinco anos, em Vilhena –, foram escolhidas como as melhores, para mais avaliação de pós-colheita e preparo para outros ensaios em Goiás, sede do programa de melhoramento da Embrapa e com condições climáticas bem diferentes das de Rondônia. Assim, poderemos obter um material genético que também seja superior para regiões com pouca chuva, pouca água para irrigação ou solos mais arenosos.
Atualmente, sobre o melhoramento de arroz de terras altas, Goiás é a sede de cruzamentos e seleções, para seis populações, duas delas para produtividade e qualidade são avaliadas e continua-se a seleção em Goiás, Mato Grosso e Rondônia. Aí então, os melhores materiais retornam para Goiás para mais testes e entram nos ensaios regionais e depois nacionais, em mais estados. Feito isso, a melhor linhagem torna-se cultivar. A próxima a ser lançada pela Embrapa está prevista para até o ano de 2018.
O trabalho de melhoramento de arroz pela Embrapa em Rondônia – com condições climáticas de calor intenso, muita chuva e ambiente propício às principais doenças (e algumas emergentes) –, conta com a colaboração de diversas instituições e está em continuidade aos projetos de melhoramento realizados pela Embrapa em todo o país. Isso tem permitido selecionar e disponibilizar plantas com características que podem ser interessantes para a pesquisa. Já foram selecionadas linhagens mais produtivas, com formato de grão adequado, mas menores alturas de planta, ciclo médio precoce e folhas e colmos que mantem-se verdes mesmo na época da colheita. A cultivar de arroz de terras altas BRS Esmeralda, por exemplo, é uma das mais recentes, desenvolvidas e recomendadas para Rondônia.
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Doutoras, * Embrapa Rondônia, marley.utumi@embrapa.br, ** Embrapa Arroz e Feijão, valacia.lobo@embrapa.br, raquel.mello@embrapa.br e isabela.furtini@embrapa.br, respectivamente.
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