Rondônia, 22 de novembro de 2024
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O cantor da esquina

Soube de sua morte no dia de Natal. Fui tomado por uma melancolia sincera e pelo compromisso de escrever algo sobre ele. Inauguro a coluna CrônicasPontiagudas falando de Roberto Brega. Essa figura folclórica da nossa capital, se despediu das ruas de Porto Velho e da vida 3 dias depois do tradicional show de fim de ano de Roberto Carlos, transmitido pela Globo.

Na verdade, quem partiu foi José Olímpio Costa do Nascimento. Esse era o nome de batismo de Roberto Brega.

Não veremos mais o “cantor da esquina”, nas esquinas da Sete de Setembro ou da Jorge Teixeira, por onde andava nos últimos tempos. Roberto Brega era fã de Roberto Carlos. E, nos seus áureos tempos, tinha, segundo ele, suas músicas no repertório.

Eu virei fã dessa figura quando fui fazer um pequeno curta com ele. O filme era um pretexto para matar a minha curiosidade sobre aquela figura. No pouco tempo em que estive com ele, descobri um personagem e tanto. Um sujeito que na sua desgraça humana conseguia ser engraçado e ainda cheio de sonhos.

O filme vocês podem ver. Vale a pena. Mas o que quero chamar a atenção é para o fato que esses personagens só notados, de verdade, por quem consegue enxergar um pouco além da paisagem, desaparecem sem que possamos nos dar conta do quão rico podem ser suas histórias de vida, mesmo vivendo uma vida miserável. Roberto cantarolou para mim músicas de sua autoria e me presenteou com o que talvez tenha sido o seu maior sonho realizado: um CD produzido em algum estúdio de fundo de quintal. Produção simples, mas que pode mostrar que ele tinha talento, especialmente como compositor. Algumas músicas são hilárias. Não digo em desapreço, pelo contrário. São de uma ingenuidade engraçada e genuína. Em que ponto ele desistiu do seu sonho para virar apenas o homem que segurava o cartaz pedindo para ajudar o cantor, não sei. Só sei que ali, em alguma esquina, tinha um homem talentoso que desistiu ou que não resistiu ao álcool ou alguma dor dessas que matam o ser em vida.

Roberto, o Brega, partiu sem show de fim ano.

Sem que as pessoas conhecem a Velha Bacana, ou a moça do Perfume Terrível.

O Roberto das nossas esquinas partiu sem dizer adeus à multidão que já não notava o artista agonizante, o homem em trapos, ou o cartaz desbotado. Pagou a diária do hotel, no dinheiro. Na cama, lençóis limpos. Morreu de morte natural. Digno, no silêncio de um quarto de pensão, se despediu da dessa vida e dos seus sonhos. Roberto Brega está em cartaz no céu.

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