Rondônia, 24 de dezembro de 2024
Artigos

Os juízes do Facebook

Uma das grandes injustiças cometidas neste País, sem dúvida, é o caso da extinta Escola Infantil Base, em São Paulo. Baseada em tese jurídica frágil levantada na peça inquisitorial da Delegacia de Polícia e em reportagens sensacionalistas de grandes veículos de comunicação, os donos do empreendimento foram julgados pela opinião pública, perderam seu ganho econômico e tiveram suas reputações jogadas à vala destinada apenas aos autores de crimes hediondos como estupradores, pedófilos e assassinos. Anos depois, restabelecida a verdade graças ao contraditório e o julgamento justo, a família Shimada foi inocentada de todas as acusações. Restaram as indenizações, mas a moral, algo intrínseco a cada ser humano, havia se perdido para sempre.

De injustiças o mundo está cheio de exemplo. Basta folhear um bom livro de história para perceber como tiranos, ditadores e até clérigos usaram julgamentos teatrais, assistido por multidões usadas como massas de manobra, para tirar seus inimigos do caminho. Estados totalitários, regimes autoritários e até a Igreja Católica usaram essas manobras para se perpetrar no poder. No caso da Escola Base, o que estava em jogo era a audiência midiática. Os princípios do Jornalismo foram apartados em nome da corrida pelo “furo” de reportagem ingrediente chave para prender a atenção do leitor/telespectador.

Hoje, uma ferramenta moderna, criada para interação dos amigos, transformou-se em um tribunal de juízes de exceção. Sem o menor pudor e muito menos o cuidado de verificar a fonte ou origem do “boato”, um post do Facebook viraliza, transformando pessoas boas em homens maus, odiosos e merecedores de punições exemplares. A pluralidade de ideias, as liberdades individuais e a livre opinião são pilares do Estado Democrático de Direito. E nada mais plural do que o Facebook para emitir uma opinião ou fazer uma análise sobre o atual comportamento da nossa classe política, por exemplo. Mas avançar no campo da ofensa e disseminar a mentira, incitando o ódio contra as pessoas é crime no mundo real. Não é porque o internauta está atrás de uma máquina, invisível aos olhos de sua vítima, que a Justiça não lhe alcançará.

Na aldeia de Rondon, o “boato” do dia de hoje foi a suposta declaração do advogado Ivan Marden Negrão sobre Porto Velho. Não se sabe a origem ao certo do post, mas viralizou nas redes sociais e muitos se apressaram em atacar, difamar, caluniar e até incitar surras públicas para o secretário municipal aprender com quem estava lidando. Esqueceram que “xenofobia” é crime e muitos que apontaram o dedo são os mesmos que foram recebidos de braços abertos no passado por uma cidade acolhedora e cheia de bons cidadãos. O estrago já foi feito. Não serão ações judiciais que irão resgatar o nome de Negrão, aliás membro de uma tradicional família paulista dedicada ao Direito. O Facebook, igual ao caso da Escola Base, é palco de grandes injustiças. E hoje assistimos mais uma em Rondônia.

* O autor é jornalista

SIGA-NOS NO

Veja Também

Desobediência: Justiça de Rondônia mantém bloqueio de R$ 22, 5 milhões do Facebook

O prejuízo do acordo com deságio em precatórios

O valor da independência da OAB para a Justiça e para a Sociedade

Liderança que acolhe e fortalece: O compromisso de Márcio Nogueira com a Advocacia e com as Mulheres