Rondônia, 17 de novembro de 2024
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Porto Velho perde para Porto Velho no JIR de 2019

Após onze dias de competições a um custo de dois milhões de reais, a décima terceira edição dos Jogos Intermunicipais de Rondônia (JIR) foi concluída e festejada pela direção da Superintendência da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (Sejucel). Aos olhos do público, a organização recebeu elogios, mas nos bastidores o descontentamento dos atletas e representantes de delegações era grande. Houve exacerbado preciosismo da equipe governamental para afastar eventuais penetras nos hotéis licitados. Quem não estivesse com o crachá de identificação com o selo da Sejucel, mesmo com o nome constando na lista enviada com antecedência pelos municípios, era barrado. Apesar da opulência do hotel, as acomodações deixaram a desejar, gerando críticas dos representantes das prefeituras. Cinco até seis pessoas foram obrigadas a compartilhar quartos de seis metros quadrados.

Mas como o espírito esportivo deve imperar, esses percalços foram driblados e os atletas partiram para os embates em busca da vitória em catorze modalidades. Rivais de muitos anos, Porto Velho e Cacoal dividiram a liderança desde a emissão do primeiro boletim. No final, a Capital ficou mais uma vez com o segundo lugar na pontuação geral. Cacoal somou 395 pontos contra 365 de Porto Velho.

O desavisado leitor, talvez, pergunte-se. Como Porto Velho com seus 519 mil habitantes e inúmeras quadras, escolinhas de iniciação esportiva, celeiro de grandes atletas para clubes renomados do eixo Rio-São Paulo, não consegue ganhar de Cacoal e sua população estimada em 85 mil habitantes?

A exceção de 2017, Porto Velho sempre ficou atrás de Cacoal. A resposta ao questionamento acima pode ser representada na partida entre Presidente Médici x Porto Velho na final do basquete feminino, quando a seleção da Capital sagrou-se campeã do torneio. Na verdade, deveria ser Porto Velho x Porto Velho. A equipe de Médici, incluindo o treinador, era formada 100% por jogadoras da Capital. Cacoal investiu pesado em atletas de outros estados. O basquete masculino brilhou na quadra, mas graças ao grupo de campeões da seleção de Cuiabá que veio com patrocínio e passagens pagas pelo município da prefeita Glaucione Rodrigues. A equipe de futsal feminino de Cacoal também levou atletas de Porto velho, como a maioria dos mesatenistas, artes marciais e atletismo. Independente da omissão do regulamento do JIR nessa prática danosa ao esporte, já que não se sabe qual o verdadeiro potencial de cada município, a ética na prática esportiva, constituída a partir de um conjunto de valores e normas, é jogada no lixo todos os anos por Cacoal e outros inúmeros municípios. Espírito esportivo nos ideais olímpicos de 86 redigidas em carta aberta ao mundo? Nem pensar. De qualquer modo e qualquer custo, a vitória é o que interessa, ainda mais quando o JIR se torna uma vitrine política para os gestores acossados pela população pela ineficácia administrativa.

A Sejucel sempre fez vistas grossas a tal prática. Seus dirigentes são avisados há anos do prejuízo de Porto Velho. Quem não conhece os meandros dos jogos, pensa que Cacoal tem uma super equipe. Longe disso. Os organizadores deveriam pelo menos ler o que diz os capítulos iniciais do regulamento do JIR. Lá o texto é claro: “...Estimular o desenvolvimento técnico esportivo das representações municipais, buscando avaliar e apresentar subsídios a partir da análise científica, quantitativa e qualitativa”. Como avaliar o rendimento de cada município nessas competições onde atletas chegam a ser pagos para representar cidades que não são de sua origem? E onde fica a ética desses atletas, aceitando vantagens pessoais para jogar contra o seu município?

O novo titular da Sejucel começou seu trabalho este ano. Já mostrou que não é partícipe de complôs, esquemas ou dos famosos jeitinhos. O exemplo ele mostrou no Flor do Maracujá, sucesso de público e que finalmente garantiu uma boa renda ao pessoal dos serviços. Precisa agora mostrar essa mesma intolerância a essa falta de espírito esportivo e proibir a “importação” de atletas dos municípios durante o JIR.

* Gérson Costa é ex-secretário de esportes de Porto Velho

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