Rondônia, 24 de dezembro de 2024
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Quem tem medo do lobo mau? - Por Ivonete Gomes

Foragido pelo período de um ano e nove meses, o primeiro deputado estadual cassado na Assembleia Legislativa de Rondônia resolveu que estava na hora de prestar contas com a Justiça. Valter Araújo (PTB) dirigiu-se à 3ª Vara Criminal devidamente documentado, prestou depoimento e foi encaminhado para o presídio Pandinha.  No espaço de tempo entre a apresentação espontânea e o deslocamento ao cárcere, o ex-parlamentar causou furor nas hostes do poder. Não faltou rato saltando desesperado do navio em iminente naufrágio.



“Um grande teatro (ou circo) está sendo armado nos bastidores da política em RO. A apresentação "espontânea" de um foragido e seu possível depoimento servirá para a criação de mais um factóide com finalidade mesquinha de se fomentar, ainda mais, a instabilidade política do estado.
Entre as manifestações públicas ao ressurgimento de Araújo, uma em especial despertou a atenção e provocou imensa estranheza. Trata-se de postagem no Facebook do secretário de Segurança Pública, Marcelo Bessa. Em forma de “advertência”, o midiático xerife escreveu logo após a prisão do ex-deputado:

“Um grande teatro (ou circo) está sendo armado nos bastidores da política em RO. A apresentação "espontânea" de um foragido e seu possível depoimento servirá para a criação de mais um factóide com finalidade mesquinha de se fomentar, ainda mais, a instabilidade política do estado.
Aguardem e verão!
Nosso estado não merece tamanha irresponsabilidade... Formadores de opinião, não se deixem enganar!” (sic)


O posicionamento do secretário surtiu efeito imediato nas redes sociais. Questionamento quase unânime à Bessa foi do porquê e quem teria medo de Valter Aráujo, preso e acabado politicamente. Entretanto, vejamos a seguir que o post do secretário tem nuances que vão além de um simples temor – sabe-se lá de quem. Basta ler nas entrelinhas.

De acordo com o secretário, alguém nos bastidores políticos estaria armando um circo. Isso o torna privilegiado em algumas informações. Em tempo: Bessa não teve participação nas investigações da Termópilas. Quando se refere ao suposto teatro em andamento supõe que autores de uma pseudo-armação sabiam do paradeiro de um foragido. Neste caso, caberia a Marcelo Bessa imediata comunicação à Polícia Federal e Ministério Público do crime de favorecimento pessoal. Poderia também, o próprio, efetuar a prisão.

Ao colocar aspas na palavra “espontânea”, Marcelo Bessa sugere que Valter Araújo não se entregou por vontade própria. Parece-nos óbvio que um foragido só vai para a cadeia em dois casos - ou é preso pela polícia ou se entrega às autoridades judiciárias. O titular da Sesdec demonstra de ter conhecimento de uma terceira via.

O apocalítico secretário diz ainda sobre Valter que “seu possível depoimento servirá para a criação
de mais um factóide com finalidade mesquinha de se fomentar, ainda mais, a instabilidade política do estado.” Neste trecho, Bessa não só demonstra saber o que Valter tem a declarar como deixa explícito que o alvo do deputado cassado é o governo. Fosse a Assembleia, o nobre delegado não estaria preocupado com uma “instabilidade política”, muito menos classificaria antecipadamente qualquer informação como um factoide oriundo de mesquinharia.

Marcelo Bessa conclui a infeliz, porém esclarecedora postagem, fazendo um apelo para que formadores de opinião “não se deixem enganar”. O recado é para jornalistas, em especial, aqueles a quem Bessa elegeu inimigos do estado. Ocorre que, jornalista nenhum, em sã consciência, vai deixar de ouvir o que personalidade política como Valter Araújo tem a dizer. Principalmente agora que ele, Marcelo Bessa, deixou público e notório ser o ex-deputado a própria caixa de Pandora em pessoa. Atiçados pela postagem do homem que comanda o Guardião em Rondônia todos agora querem saber: quem tem medo do lobo mau?

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