Rondônia, 16 de outubro de 2024
Estevão Fernandes

Candidatos e candidatas: vocês falharam miseravelmente

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Estevão Fernandes

Chegamos neste final de semana ao fim da primeira etapa de uma corrida eleitoral com um gosto ruim na boca de boa parte da população de Porto Velho. Para todos nós fica a pergunta incômoda: onde estão as grandes questões e temas que realmente interessam a população de nosso município?

Quem assistiu aos debates e aos programas eleitorais, não enxergou na televisão a mesma Porto Velho que vemos na prática, em nosso dia-a-dia. Um exemplo claro disso foi a falta de propostas claras de enfrentamento a catástrofes ambientais e climáticas. Não me refiro aqui a uma pauta ambientalista ou mesmo uma postura madura diante da questão climática. Mesmo isso, num momento no qual a União Europeia pensa em barrar importação de carne proveniente de áreas desmatadas, o que repercutiria diretamente na economia regional e nacional. 

Me refiro, sobretudo, a um segundo ano seguido de seca recorde no Madeira com repercussão direta na área urbana da capital e de forma ainda mais impactante nos distritos. Da mesma forma, não parece que passamos o último mês respirando fumaça sem conseguir enxergar o céu, do qual tanto nos orgulhamos. A Porto Velho dos debates parece uma terra de faz de conta para a qual propostas não são necessárias.

Mesmo que não estivéssemos em meio a seca e fumaça, seguimos sem discutir temas básicos. Não, Porto Velho não enfrenta um problema endêmico no campo da segurança pública com assassinatos e prestação de contas acontecendo a céu aberto. Não, Porto Velho não possui o pior saneamento básico entre as capitais do país, ou uma alta taxa de evasão escolar, insegurança andando nas ruas, tampouco nos falta uma política clara de inovação tecnológica ou fixação de empresas e quadros qualificados(1). Temas estruturantes ou políticas de longo prazo simplesmente não são discutidos por políticos que deveriam ser justamente os protagonistas dessas discussões. 

Desculpem candidatos e candidatas, a sensação que se tem é que vocês falharam miseravelmente.

Talvez seja reflexo do esvaziamento de uma pauta política nacional, onde tudo tem se resumido a um binarismo tão besta quanto vazio de “nós” versus “eles – que só privilegia os próprios políticos, como sempre. Ainda dá tempo de olharmos para nossos candidatos e candidatas além dos barracos e dos “memes” e pensarmos, concretamente: o que está sendo proposto para se enfrentar as grandes questões do município? 

Que legado cada candidato ou candidata propõe? Ao elegermos quem quer que seja, somos parte desse legado. A questão é se nossa responsabilidade será como cúmplices ou como agentes de transformação e desenvolvimento para as gerações que virão. Nessas eleições, qual será o seu legado?


(1) Fonte: Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades, disponível em https://idsc.cidadessustentaveis.org.br/profiles/1100205/

* Estêvão Rafael Fernandes É professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia, onde é vinculado a três programas de pós-graduação: Programa de Pós-Graduação Profissional Interdisciplinar Direitos Humanos e Desenvolvimento da Justiça (Mestrado e Doutorado); Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (Mestrado e Doutorado) e Mestrado Profissional em Políticas Públicas. É Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília e pós-doutor pela Brown University (EUA).

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