Rondônia, 21 de dezembro de 2024
Gustavo Volpato Serbino

Grãos, infraestrutura e agricultura familiar: os bons desafios de um estado agropecuarista

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Gustavo Volpato Serbino

Inicio afirmando que sou um grande entusiasta da crescente produção de grãos, especialmente soja e milho, em nosso Estado.

Inegável a importância econômica da produção de grãos, que há muito é o equilíbrio da balança comercial pátria. A soja é, por si, a proteína vegetal de melhor custo-benefício tanto para consumo direto, quanto para produção de proteína animal. Os produtores utilizam, em sua esmagadora maioria, a produção sustentável, até porque o mercado externo está de olho e exige tal manejo responsável.

Em Rondônia a produção de grãos já responde por aproximadamente 44% do total exportado pelo Estado, ocupando perto de 550 mil hectares em 3 mil propriedades rurais, com crescimento exponencial, em progressão geométrica, especialmente no entorno da Capital. E, como vem aumentando a área plantada e a produtividade, tudo tende a crer que, a exemplo de outros Estados, a produção de grãos terá um lugar cada vez mais importante na economia de Rondônia, ladeando a bovinocultura de corte.

Há anos participei de um evento na Embrapa, que já expunha cultivares de soja próprios para a região de Porto Velho, explanando as vantagens da logística aqui existente, da capacidade produtiva pelo clima e relevo, enfim, prevendo um futuro que hoje é realidade. Abro aqui um parêntese para parabenizar a Embrapa por todo trabalho desenvolvido ao longo dos anos. O Brasil deve muito à Embrapa e a seus técnicos. Investimentos federais são necessários para a continuidade.

Voltando à produção de grãos, o efeito cascata de seu aumento começa a ser sentido. Industrias já começaram a se instalar em Rondônia e outras certamente virão. Gigantes de portos, fertilizantes, defensivos agrícolas e beneficiadoras de grãos já estão aqui. A agroindustrialização para o beneficiamento dos grãos, transformando as commodities, certamente aumentará, o que além de trazer empregos e renda, disponibilizará aos pecuaristas os subprodutos necessários à fabricação de rações e muito mais. É uma equação de ganha-ganha envolvendo a agricultura e todo tipo de pecuária.

Não há mais espaço para o amadorismo na produção agropecuária. Os produtores de grãos são um bom exemplo de profissionalização. Para atingir a agricultura 5.0 são necessários profissionais de vários ramos que estejam qualificados e treinados para a implantação, produção e manutenção de todo o ciclo produtivo. Isto se reflete em empregos e renda, também.
Outrossim, concomitante ao crescimento da produção de grãos, não há como deixar de lado os cuidados e investimentos necessários na agricultura familiar, maior produtora de alimentos do dia-a-dia, respondendo por 70% desta produção, e dos investimentos necessários em infraestrutura no Estado todo.

A agricultura familiar, para manutenção e expansão, precisa de um quadruplo pilar, nem sempre fácil de se conseguir, a saber: mecanização rural, transferência de tecnologia e insumos, assessoria via extensão rural feita por técnicos e qualificação do produtor. Estes quesitos, somados e aliados, refletem diretamente no aumento da produção, na renda das famílias e na diminuição do êxodo rural juvenil, um dos maiores gargalos da sociedade atual.

Tais ações requerem alto investimento e tempo, mas são urgentes. Dão e ainda darão muito trabalho, principalmente às gestões municipais.

Também, e tão ou mais importante, o agricultor familiar precisa de crédito. Só haverá crédito acessível quando houver regularização fundiária e vejo o esforço do poder público estadual nesta vertente.

Podemos ver tanto a gestão estadual, quanto as municipais, investindo maciçamente em infraestrutura e muito ainda precisa ser feito. Se a produção é otimizada, seu escoamento também precisa ser. Até por se tratar de um Estado jovem e do esquecido Norte do Brasil, há um déficit histórico de condições de estradas e transmissão energética em Rondônia.

Acompanho com entusiasmo o trabalho de recuperação e de asfaltamento que vem ocorrendo em todas as regiões pela gestão Estadual e por grande parte das gestões municipais. Aguardo esperançoso o alardeado investimento federal, especialmente na combalida e ultrapassada BR-364, eixo central da produção. Poderia ser bem mais, mas iniciando pela 364 já será um bom sinal.

Para produção e, especialmente, para a industrialização de Rondônia faz-se necessária energia elétrica de qualidade e em quantidade. Mote para outros textos de quem tenha maior conhecimento na área.

Por fim, para quem quer produzir e/ou investir em Rondônia cabe acompanhar os resultados do Instituto Amazônia +21. Abre horizontes.
O tempo urge, mas o futuro está em nossas mãos.

* Gustavo Volpato Serbino é produtor rural, pecuarista especializado na cadeia da bovinocultura de corte, ex-secretário municipal de Agricultura em Porto Velho e assessor na Casa Civil do Estado de Rondônia.

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