Rondônia, 14 de dezembro de 2025
Ivonete Gomes

Espelho partido: a gestão Léo Moraes entre promessas não cumpridas e práticas recicladas

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Ivonete Gomes

Dizem por aí que Léo Moraes é um homem moderno. “Conectado”, garantem os comissionados recrutados, ou coagidos, para inflar a imagem do prefeito nas redes sociais. No TikTok, ele aparece leve, falando a língua do jovem, dançando com o verbo fácil e o carisma ensaiado de quem tenta encobrir o atraso com filtros vibrantes. Mas bastam alguns cliques em portais oficiais e investigações em curso para perceber que a tal modernidade de Moraes é só uma embalagem nova para práticas antigas, mofadas e perigosamente familiares no cenário político de Rondônia.

No espelho de sua gestão, o reflexo é fiel: uma administração que começa e não termina; que promete e não cumpre; que se enfeita de discurso e se esvazia de ação. Um espelho trincado, aliás, e trincas não se disfarçam com stories.

Entre os reflexos mais nítidos está o favoritismo escancarado à família. O irmão, por exemplo, que coleciona cargos e gratificações como quem troca de camiseta. Mesmo sem qualquer qualificação técnica conhecida, foi presenteado com uma secretaria inteira, com porteira fechada e direito a bônus salarial de 10% esta semana, além de viagens que fariam qualquer assessor sentir o gostinho doce do poder sem a carga amarga da competência. Para os outros, vale o ditado: “quem não é da família, assiste de fora”.

As promessas de campanha viraram poeira no asfalto, ou melhor, na lama das obras inacabadas. Apoiadores foram esquecidos, enquanto alguns opositores mais espertos fizeram o que se esperava: pularam o muro, entraram no ônibus e garantiram lugar na janela. Pragmáticos, não idealistas, como todo bom sobrevivente de máquina pública.

A avenida Rio de Janeiro é hoje o símbolo mais fiel da gestão Moraes: escavada, abandonada, incompleta. A desculpa oficial? Faltam manilhas. A verdade nua? Falta gestão. Na rua Anysio Compasso, uma placa largada denuncia que só a comunidade e o governo cumpriram o TAC firmado no Ministério Público. A Prefeitura, nem sinal. Já na Jorge Teixeira, o canteiro central foi violado e deixado às moscas, com a terra acumulada esperando talvez uma próxima gestão para limpar os rastros do improviso.

A fama de não terminar o que começa, herdada dos tempos de vereador, agora virou política pública. Em Brasília, concluiu o mandato porque perdeu a eleição ao governo. Em Porto Velho, parece repetir o script: prometer, iniciar, abandonar. E sorrir, como se tudo estivesse indo bem, pelo menos no feed do Instagram.

No fim das contas, o que Moraes restitui ao poder municipal não é modernidade. É um revival grotesco da velha política: familiar, personalista, ineficiente e marcada por um marketing que tenta maquiar o caos. A diferença é que agora ela dança no TikTok.

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