Rondônia, 26 de abril de 2025
Ivonete Gomes

Sob a sombra da gestão anterior

Prefeito inaugura obras prontas, entrega insumos herdados e transforma propaganda em ferramenta de maquiagem política

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Ivonete Gomes

Porto Velho completa, nesta semana, os primeiros 100 dias da gestão do prefeito Léo Moraes. Um marco simbólico que, em muitas administrações, serve para apresentar os primeiros resultados concretos de um plano de governo. Mas, no caso de Léo, o saldo real parece estar mais próximo do marketing do que da gestão de fato.

Desde que assumiu o cargo, o atual prefeito se dedica a uma agenda intensa de inaugurações e entregas. O problema? Quase nada foi iniciado por ele. As principais ações divulgadas com alarde nas redes sociais têm um traço em comum: todas foram planejadas, compradas e, em muitos casos, executadas pela gestão anterior, comandada por Hildon Chaves.

A lista é longa. Os caminhões recentemente entregues no pátio do Prédio do Relógio foram adquiridos com recursos do FITA e já estavam em posse da Semagric desde dezembro de 2024, aguardando emplacamento. Medicamentos distribuídos nas unidades de saúde foram retirados do almoxarifado, onde já aguardavam entrega agendada. Até os veículos UTV utilizados para safáris ecológicos no Parque Natural, promovidos como inovação pela atual gestão, foram comprados e recebidos ainda na administração passada.

Em uma das situações mais caricatas, Léo inaugurou um CRAS cuja obra estava pronta há meses, mas que a empresa responsável pela instalação das portas ignorou a conclusão do projeto original, aparentemente por ingerência após as eleições. Em outro episódio, tentou “desinaugurar” a nova rodoviária da cidade, em ação articulada com um membro do CREA que viria a ocupar cargo de confiança no primeiro escalão do governo.

Placas de inauguração em unidades de saúde foram removidas e substituídas. Ambulâncias, ambulanchas, materiais esportivos e até mesmo a tão propagandeada operação tapa-buraco foram realizadas com insumos, equipamentos e contratos herdados. A suposta nova iluminação da avenida Santos Dumont e BR-364 também entrou no rol das fake news administrativas. Nada do que foi mostrado como novo partiu da atual gestão.

Diante de tamanha apropriação, a pergunta que ecoa é inevitável: o que Léo Moraes fez de fato nesses 100 dias?

As respostas preocupam. Tentou contratar, por meio emergencial, uma empresa de coleta de lixo com histórico problemático na Justiça. Estimulou uma prática cada vez mais recorrente em sua gestão: transformar licitações em exceção, com uso sistemático de adesões a atas de registro de preços. Um dos casos mais simbólicos foi a adesão de uma ata de R$ 2 milhões para a compra de lancheiras, enquanto escolas seguem sem itens básicos para produção da merenda.

Não bastasse, a prefeitura pretende gastar R$ 35 milhões com uma empresa para elaboração de projetos, mesmo contando com mais de 80 projetistas no quadro funcional do município.

Léo Moraes, que em campanha prometia renovação e eficiência, parece ter assumido o papel de “herdeiro oficial” da gestão Hildon Chaves, mas com o detalhe de querer apagar o passado, reescrevendo a história com tinta publicitária.

O que restará quando as obras herdadas terminarem? Quais feitos reais o prefeito apresentará sem a herança que insiste em chamar de sua? A propaganda, por melhor feita que seja, não substitui a entrega de resultados. E Porto Velho começa a cobrar o que foi prometido, não apenas maquiado.

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