Equoterapia é usada para ajudar tratamento de crianças em Porto Velho
São apenas dois meses até agora, mas as mudanças já são muitas na vida do pequeno Antônio Tames, de 3 anos de idade. De calça jeans, camisa gola polo e botas, ele chegou nesta quarta-feira (11) para mais uma aula de iniciação pré-esportiva com cavalos. A avó materna, Rosmari Tames, 62 anos, que acompanha os passinhos do neto, diz que depois das aulas no Centro de Equoterapia Passo Amigo, até na escola houve melhorias, além de só aumentar a paixão pelos animais. Em casa, Antônio tem um cão da raça bulldog inglês.
“Qualquer animal que uma criança tenha em casa a gente percebe que faz muito bem pra ele”, destaca Rosmari ressaltando que a paixão pelos cavalos do neto vem desde bebê. “Ele prefere as roupas de cawboy, adora um cinto largo, botas e tem um chapéu enorme. Qualquer pessoa que ele encontra na rua se tiver de botas ele pergunta logo se ela gosta de cavalo e se é peão”, diz sorrindo.
Nesse tempo em que iniciou as atividades com cavalo, ele já aprendeu a segurar as rédeas com as mãos, sabe dominar o cavalo, tem segurança na montaria e durante sua aula que dura meia hora, faz exercícios de pintura e cores em inglês, em cima do cavalo. “Antônio adora animais, principalmente o cavalo, e que depois das aulas no centro ele melhorou bastante seu comportamento, não gosta de faltar nenhuma aula”, garante a avó coruja.
Neste Dia das Crianças, 12 de Outubro, a psicóloga Muriel Ferreira de Araújo afirma que os animais de estimação estão presentes na vida de muitas pessoas e traz muitos benefícios, além de ser uma excelente companhia. A psicóloga também diz que o contato com animais estão sendo indicados e, amplamente, utilizados pela equoterapia, no tratamento terapêutico e educacional para crianças. “A equoterapia é um método que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem multidisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiências e/ou necessidades especiais”, explica a psicóloga.
Segundo Muriel Ferreira de Araújo, especialista em psicopedagogia, qualquer animal de estimação em casa deixa a criança mais receptiva, mais segura, sem medo de enfrentar determinadas situações e de conhecer novos animais.
A psicóloga trabalha no Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Caps i) da prefeitura de Porto Velho e coordenada as atividades do Centro de Equoterapia Passo Amigo e garante que as crianças que têm, por exemplo, um cachorro em casa já chegam ao centro e logo aceitam as atividades no cavalo. “Bem diferente daquelas crianças que não têm contato com animal, que muitas vezes chegam com medo de montar. O animal reage a tudo o que a criança faz e provoca reações na criança, por isso, possuir um animal é uma forma de estimulação para o seu desenvolvimento”.
O trabalho com animais, relata a psicóloga, mostra resultados. Muitos pais chegaram a dar cachorros e até cavalos para os filhos. Em outros casos, crianças que antes faziam atividades só na piscina agarradas com a mãe depois praticarem a equoterapia já conseguem ficar sozinhas dentro da piscina.
“Na Equoterapia o cavalo é utilizado como um meio de se alcançar os objetivos terapêuticos, num trabalho facilitador com a equipe multidisciplinar que faz o estímulo. Mas o estímulo principal é do cavalo, que exige a participação do corpo inteiro, de todos os músculos e de todas as articulações, com movimentos tridimensionais”, explica Muriel Ferreira.
Resultados como estes já foram percebidos pela pedagoga Vanilza de Souza Malta, de 46 anos, mãe da pequena Maria Izabel, de 6 anos, que é autista. A menina começou o tratamento de equoterapia com apenas três aninhos. Vanilza conta que quando descobriu os benefícios do método para o desenvolvimento das crianças especiais não pensou duas vezes e levou a filha. “O movimento do cavalo ajuda na parte física dela, principalmente no equilíbrio”.
Segundo a mãe, Maria Izabel sempre teve problemas para andar, mas com tratamento com animais melhorou bastante em relação à coordenação motora. “Aqui ela não pulou nenhuma etapa, mas tudo dela foi atrasado e depois da terapia ela se desenvolveu bastante, ela demonstra que gosta de vir montar nos cavalos. Isso nos dá confiança no tratamento que será de longo prazo”, relata.
A parte física da pessoa que faz equoterapia é muito beneficiada por causa do movimento do cavalo que é tridimensional. Aproveitando o movimento do cavalo eles ficam concentrados, uma vez que sabem que não podem sair correndo, sair gritando, então ela fica mais controlada por causa do cavalo. Aproveitando isso, são inseridas atividades de argola para encaixar, bolinhas para jogar no cesto, são brincadeiras pedagógicas e lúdicas. Já para os adolescentes e adultos são utilizados os clones e bambolê.
Na sessão de Maria Izabel realizada nesta quinta-feira, a menina passeou no cavalo e recebe estimulação para identificar cores através da linguagem, além de ter ouvido cantigas infantis também para estimular a linguagem.
Filha única, Maria Izabel tinha seis meses quando seus pais adotivos descobriram que ela necessitava de atenção especial e a partir daí os cuidados, os tratamentos e as terapias foram incorporados à vida da família. Hoje, ela estuda numa escola normal, faz natação, fisioterapia ocupacional, equoterapia e ainda fono. O autismo só foi diagnosticado aos 5 anos de idade.
O que mais incomoda a família é que “em seis anos de dedicação e carinho ainda não temos a guarda definitiva da nossa filha”, reclama Vanilza, acrescentando que Maria Izabel é a “alegria da casa e na família todas as atenções são voltadas para ela”.
Centro Passo Amigo
Formada na Universidade Federal de Rondônia, a psicóloga Muriel de Araújo, conta que foi o próprio pai quem falou sobre a equoterapia e ela decidiu se especializar na área. O Centro Passo Amigo existe há cinco anos. No início, eram apenas Muriel e uma fisioterapeuta para atender três crianças, com um único cavalo. “Aos poucos estou adaptando melhor as estruturas, hoje já tem cinco cavalos e atendemos 45 pessoas, com idade a partir de dois anos”.
As pessoas que procuram a equoterapia, antes de iniciar o tratamento, passam por uma avaliação que procura saber desde o nascimento delas até o dia que chegou ao centro. A maioria dos pais que tem filhos especiais é ansiosa pelos resultados, mas a equipe depois de cada aula faz um relato do desenvolvimento. “O tratamento é longo, mas os resultados são satisfatórios”, avalia Muriel.
A terapêutica ocupacional Jussara Sadna, de 24 anos, faz parte da equipe que trabalha com a equoterapia. Ela começou a atuar na área em maio deste ano, mas assegura que os atendimentos junto com praticantes são em cima do cavalo em montaria clássica e todas as atividades que seriam feitas em sala, jogos de encaixar, letras, formas, cores, são feitas em cima do animal. “Para o praticante é mais prazeroso que que fazer na sala de aula”, diz.
Ela destaca que a equoterapia é um método diferenciado, pacientes respondem aos comandos e, ao final de todas as aulas, os pais são informados dos avanços e de tudo que foi trabalhado durante aquele período. “Ainda sou compensada pelo carinho que recebo, são tantos abraços das crianças”, emociona-se
Outro profissional que ajuda no centro de equoterapia é Wilker Rodrigues Mendes, de 22 anos. Ele tem a função de auxiliar os mediadores e também é equitador da iniciação pré-esportiva. É responsabilidade dele escolher os cavalos, verificar selas, as mantas, enfim toda segurança da montagem. “Não me vejo fazendo outra coisa na vida. Tenho um carinho enorme pelos animais e pelas crianças, sei da minha responsabilidade com as atividades aqui do centro”, acrescenta Wilker.
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