Rondônia, 17 de novembro de 2024
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Moradia Popular: O sonho da casa própria e a dificuldade do Governo para reduzir o déficit habitacional

Ângela Borges da Silva, de 44 anos, passou dois anos esperando para realizar o sonho da casa própria. Foi em 2013 que ela fez sua inscrição na casa de shows Talismã 21, porém, só em 2016 que foi sorteada com um apartamento no residencial Porto Madeiro I, no Bairro Socialista, na Zona Leste de Porto Velho.

Emocionada, ela conta que ainda está comprando a mobília do seu novo apartamento. Começando pela cozinha, aos poucos já adquiriu geladeira, fogão, mesa e armário. “Não deu para trazer nada da outra casa. Estava tudo caindo aos pedaços”, relata a servidora pública que se descreve “feliz da vida” e continua em busca de realizar sonhos: cursar um ensino superior. Após concluir o ensino médio, já foram três vezes que realizou o Enem, mas não passou. Porém, desistir não está nos planos. “Quero garantir um futuro melhor”.

A história de Ângela se confunde e se mistura com a de milhares de pessoas que já conquistaram a casa própria e outras que ainda esperam. Em cada inscrição, a correria por uma senha, as noites sem dormir na fila e muitas vezes a frustração por não conseguir.

Na última sexta-feira (15), o Governo do Estado de Rondônia realizou o sorteio de mais 1.400 imóveis do residencial Orgulho do Madeira em Porto Velho, dos programas Minha Casa Minha Vida, do governo federal, e Morada Nova, do estadual. Cerca de 5.700 pessoas concorreram a uma unidade habitacional, mas apenas menos da metade viram o nome na tela dos sistema eletrônico.

Nos últimos anos, Rondônia têm ampliado o número de moradias populares, mas o governo do estado não sabe estimar qual o atual déficit habitacional. O mesmo acontece em Porto Velho.

Nesta semana, o RONDONIAGORA dá início a uma série de reportagens sobre moradia popular. Nesta primeira, a equipe visitou alguns contemplados e destaca como estão vivendo os moradores dos empreendimentos.

Cidade de Todos, em Porto Velho

Moradores relatam tempo de espera, falta de segurança e até proposta para vender casa própria


Assim como Ângela, várias outros moradores já trilharam o caminho da própria, que começa nas filas para cadastro até receber a chave e fazer a mudança. Mas as vezes, a casa é um presente.

Foi o que aconteceu com o jardineiro Dione Barbosa, de 25 anos, que mora há sete meses com a família, esposa e um filho, na casa 2 do condomínio Orgulho do Madeira. Ele revela que o imóvel foi conseguido por uma tia. Ela fez a inscrição e foi selecionada para o residencial, mas segundo Dione, por causa da insegurança do local, principalmente à noite, a tia resolveu mudar para uma chácara.

A casa, relata o jardineiro, apesar de ser pequena é muito boa e confortável. Entre as dificuldades, está a falta de segurança. É o que mais preocupa a família que não consegue sair de casa à noite. Ele também sente falta de uma escola na localidade. “Não deixamos nossa casa sozinha nenhum momento”, diz acrescentando que já foram vítimas de assalto uma vez.

Quando perguntado sobre os vizinhos, ele revela que são invasores, mas são famílias. Dione disse que depois da ocupação das casas ao lado, sua família ficou mais tranquila. “Saber que a casa vizinha tem gente morando é muito bom”, diz aliviado.

Um dos primeiros empreendimentos entregues pela gestão do governador Confúcio Moura foi o Cidade de Todos II. Mayara Mussi Ribeiro, de 35 anos, morava de favor na casa da ex-sogra, quando recebeu as chaves do novo lar. “Quase não me contive de alegria. Fiz a inscrição em 2008 e em 2013 recebi as chaves. Foram cinco anos esperando, mas valeu a pena”, diz a manicure.

O motorista Nelson Magalhães explica a emoção da esposa que não se conteve e chorou de alegria

É com o dinheiro do trabalho de manicure que Mayara paga a mensalidade da casa. “Amo a minha casa, mas temos muitas dificuldades aqui. Não temos serviço de correio, as ruas são escuras, só tem uma escola perto e é uma dificuldade para conseguir vaga. Sofremos mais de ano com falta de água, hoje já está melhor, mas o que mais precisamos agora é de segurança. Muitas casas já foram assaltadas”, diz a moradora.

Sobre a casa, Mayara relata que a qualidade não é das melhores. “A gente tem muito problema com infraestrutura, as janelas de ferro são ruins, mas o pior mesmo é o encanamento. Não temos fossa e tudo, da pia, do banheiro, vai direto pro esgoto na rua, tudo junto. Quando entope, volta tudo”.

O empreendimento fica na Rua Mané Garrincha, no Bairro Jardim Santana. São 82 casas com dois quartos, sala cozinha, banheiro, área de serviço, quintal na frente e atrás. Mayara mora com os dois filhos e atual marido. “Eu lutei tanto para ter minha casa e agora trabalho para manter. Mas já recebi proposta de venda. Essa semana mesmo, uma pessoa me ofereceu R$ 40 mil e dizia pra fazermos um contrato de gaveta. Mas eu não quero. Aos poucos, vou deixando minha casa do jeito que eu quero”, afirma a manicure.

Já no residencial Cidade de Todos IX, no bairro Socialista, o motorista Nelson Magalhães, de 46 anos, estudante de administração, fala da satisfação e alegria quando conseguiu a casa própria. Ele fez a inscrição no programa Minha Casa Minha Vida em 2007 e em 2016 já estava morando em um dos apartamentos, com a esposa e três filhos.

Antes, a moradia da família era no quintal da casa da sogra, no bairro Nossa Senhora das Graças. Emocionado, seu Nelson diz que quando a família entrou no apartamento, a esposa não conteve a emoção e chorou de alegria. “Tudo perfeito, piso, pintura bem feita, portas, nada pra reclamar, foi um sonho realizado”.

Por decisão de sua família foram comprados todos os móveis novos. A mobília começou pela cozinha, com a geladeira, armários e mesa. Mas Nelson lembrou que nem tudo foram flores, pois ele e a esposa dormiram num colchão no chão por um bom tempo.

O residencial Cidade de Todos IX é um condomínio fechado, com guarita, fica localizado na Avenida Osvaldo Ribeiro.

Nos últimos seis anos, o Estado de Rondônia construiu 20.309 residências e já entregou 8.255 unidades habitacionais. Alguns empreendimentos com a parceria das prefeituras. Mas o déficit habitacional ainda está longe de ser zerado.

A próxima reportagem da série sobre habitação popular aborda os empreendimentos parados e as dificuldades dos programas.

A manicure Mayara Mussi foi contemplada com uma casa no residencial Cidade de Todos II e diz que já recebeu proposta para vender o imóvel.

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