Rondônia, 04 de dezembro de 2024
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No Dia do Professor, profissionais falam do desafio de lecionar com as escolas fechadas

Lecionar em 2020 tem sido um verdadeiro desafio para os professores, sejam eles da educação infantil, ensino fundamental, médio ou superior. A frase “ensinar é uma arte”, que mais parece clichê, nunca fez tanto sentido para uma das categorias que mais precisou se reinventar para manter o contato, mesmo que distante, com seu público: os alunos. A pandemia de covid-19 fechou as salas de aula e colocou os professores em uma tela. Em alguns casos, nem isso. Aulas a distância, on-line ou apenas envio e correção de tarefas estão suprindo a inexistência da presença, do olho no olho, da reciprocidade. Neste 15 de outubro, Dia do Professor, o RONDONIAGORA conversou com alguns profissionais, que relataram quais tem sido os seus maiores desafios para continuar a lecionar.

Professora Paula na sala de AEE com o aluno Lorenzo Souza Ribeiro. Ele é autista

Paula Alves Monteiro é professora há 18 anos. Com pais educadores, a influência para escolha da profissão veio de casa, da família. E assim nasceu uma paixão. Ela já passou por várias séries, por escolas da área urbana e rural e, atualmente, leciona para crianças especiais do ensino fundamental II (6º ao 9º ano), na Escola Municipal Gorete Domingos, em Vilhena, além de atuar na educação superior com a disciplina de língua portuguesa, na Unesc, na mesma cidade.

Com a suspensão das aulas desde março, devido ao estado de calamidade provocado pela pandemia do novo coronavírus, Paula reconhece que o processo de aprendizagem caiu, mas acredita que há aproveitamento por parte dos alunos. A distância e a falta de contato com as pessoas têm sido os maiores desafios neste ano, pois, “ser professor vai muito além de transferência de conteúdo, é empatia. A interação é difícil, pois pelo AEE [Atendimento Educacional Especializado] o contato direto é mais que necessário para fundamentar o concreto. Já na faculdade, são muitos desafios, acesso à tecnologia é um deles”, afirma a professora, destacando que o aproveitamento dos alunos sobre o conteúdo aplicado acontece, “mas de maneira muito inferior ao desejado”.

Este será um 15 de outubro diferente. Além da saudade da sala de aula, Paula sente falta do contato, da troca de experiências, do bom dia, boa tarde ou boa noite, e, se pudesse fazer um pedido, “gostaria de ganhar o carinho, os abraços, ouvir e ver as risadas dos que nos valorizam como educadores, mas como não é possível, comemoro a vida!”.

Questionada se 2020 é um ano perdido para a educação, ela responde: “não digo um ano perdido, pois educação vai muito além das paredes da escola, mas um ano bastante conturbado e de muito aprendizado para a vida. Não sei ao certo em que acreditar, mas espero que voltemos, com segurança”, para a sala de aula.

Professora Acsa, com a turma de alunos. Ela diz que está com muita saudade da sala de aula

A alegria e sorriso largo identificam facilmente a professora Acsa Liliane Carvalho. Assim como Paula, ela é filha de educadores, mas à docência não foi uma escolha dela: “A docência foi uma grata surpresa na minha vida. Minha mãe é professora e nunca me imaginei dando aula. Eu falo que a profissão me escolheu”, revela. Há seis anos trabalhando na Faculdade Faro, Acsa é advogada e iniciou a carreira como advogada-orientadora do Núcleo de Prática Jurídica da Instituição. Foi aí que nasceu esse encanto pelo magistério. Hoje, coleciona turmas e disciplinas: “Leciono para seis

turmas as disciplinas direito processual do trabalho, estágio supervisionado de direito civil, estágio supervisionado de direito constitucional e estágio supervisionado de direito do trabalho, e meu maior desafio tem sido manter os alunos focados”.

Nos seis anos em sala de aula, Acsa sempre recebeu demonstrações de carinho dos alunos. O 15 de outubro sempre foi comemorado. “Todos os anos eles [alunos] fazem homenagens e é aquela festa. Estar longe dos alunos, falando através de uma câmera é muito solitário e gera uma angústia por não saber se os estudantes estão aprendendo ou não. Na aula presencial conseguimos ter uma melhor noção sobre a compreensão da matéria e temos mais possibilidades de ajudá-los, sem falar na interação, compartilhamentos de informações e experiências”, relata.

Otimista, a advogada e professora acredita que o próximo ano será melhor. “Acredito que sim. Pelo menos torço para que esse retorno seja breve. ”

Maria Dalvaneide, professora de sociologia, corrigindo atividades de casa

Professora há 22 anos, Maria Dalvaneide Carvalho de Paiva deixou as séries iniciais e agora dá aulas de sociologia para turmas do 6º ao 8º do ensino fundamental, na Escola Maria Carmosina. “Trabalhar com aulas remotas tem sido o meu maior desafio, sem contar que sinto muita saudade da sala de aula. No entanto, apesar de tudo, este 15 de outubro, dia do professor, temos que comemorar a vida, a saúde, pois estamos todos bem”, destaca a professora.

Assim como Acsa, Maria Dalvaneide não pensava em ser professora. Eu morava no sítio, no interior. Quando mudei para a cidade foi para estudar e foi meu irmão quem escolheu. Agradeço a ele, pois foi um presente para minha vida”, garante a professora que acrescenta: “A gente sente falta de muita coisa, mas principalmente do carinho dos alunos e em saber se eles realmente estão aprendendo. O processo de ensino está acontecendo, mas não temos certeza se há aprendizagem”. Presente pelo dia dos professores, ela gostaria de “valorização profissional, financeira e mais respeito”.

Escola Francisco Braga, no Lago Cuniã, onde Ailton dá aulas de língua inglesa

Já Ailton Alves Gomes Lemos nem chegou a completar um mês em sala de aula. Convocado em concurso público para trabalhar na Escola Francisco Braga, localizada no Lago Cuniã, no Baixo Madeira, a 70 Km de Porto Velho, ele ministrou aulas presenciais de língua inglesa por 10 dias para os alunos de 6º ao 9º ano. “Mas, me tornei professor ensinando língua inglesa aos interessados [aulas particulares] em 2007”.

Ser professor não foi uma escolha para Ailton, ele diz que foi algo que aconteceu de forma natural. Antes, ele trabalhava como repórter cinematográfico em uma emissora de televisão.

A escola onde Ailton trabalha é um diferencial. Lá, a tecnologia tem sido ferramenta auxiliar importante e o aproveitamento dos alunos é percebido por todos. “Os alunos para os quais eu leciono estão tendo um ótimo rendimento. Outro dia me surpreendi com o aluno Hugo se comunicando comigo por um aplicativo, em Inglês”, comemora o professor.

Naturalmente a escola já passa por desafios, pois a sua localização, no Baixo Madeira, e exige que tanto alunos quanto professores se esforcem para chegar e permanecer em sala de aula. Com a pandemia, os professores gravam as aulas em vídeo e enviam por aplicativo de mensagens para os estudantes. Mas Ailton acredita que essa forma de ensinar é um curso natural, que já vem ocorrendo. “O maior desafio é fazer as pessoas entenderem que o mundo está passando por uma mudança para que possa entrar em uma nova ordem mundial de trabalho e assimilação de conteúdo. Sala de aula, como nós conhecemos, em breve deixará de existir. O professor que tem medo das ferramentas tecnológicas, desenvolvidas para a educação, está fadado a sair do mercado de trabalho”, acredita.

Mas, a comemoração do Dia do Professor, ele gostaria da mais tradicional: “Eu gostaria de ganhar um abraço de cada aluno meu. O que mais sinto falta é do calor humano que cada aluno irradia em sala de aula e do olhar curioso e atento para cada descoberta linguística”, finaliza.

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