Rondônia, 21 de dezembro de 2024
Especiais

Problemas na estrutura de casas populares podem ser causados por mau uso, diz especialista

Fissuras, rachaduras, infiltrações são reclamações constantes de moradores de imóveis populares entregues por programas habitação popular em Porto Velho. Em recente levantamento feito pelo Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), constatou-se que do total de 1,4 mil unidades avaliadas pelo órgão em todo o país, 56,4% apresentaram defeitos na construção.

Para o professor de engenharia civil Raduan Krause, especialista em estruturas de concreto armado, um dos motivos principais para rachaduras e fissuras dos apartamentos são reparos e ajustes que não deveriam ser feitos, em muitos casos, pelos próprios moradores. “Qualquer reparo feito na estrutura do apartamento pode comprometer o tempo de durabilidade. Nessas construções, a maioria das patologias que surgem em edificações populares de bloco estrutural, muitas vezes é causada por má utilização dos usuários, que alteram o original. A quantidade de pessoas e de móveis pesados no imóvel também pode causar problemas futuros nos apartamentos. Normalmente, é permitido somente cinco pessoas dentro”, diz o professor.

Para ele, a construção em bloco estrutural das casas e apartamentos não é o mais ideal para Rondônia, já que o projeto não foi adaptado para nossa região, por causa da temperatura, e isso também propicia o aparecimento de fissuras futuramente em toda a estrutura. “Para nossa região o projeto certo seria de concretos armados com fechamentos em alvenarias de tijolos. Não que o bloco estrutural, que foi usado, não seria o adequado, mas as adaptações não foram estudadas em tempo hábil”, diz.

Todos os residenciais são feitos de blocos estruturais porque, esclarece Raduan Krause, na época em que foi adaptado, era um projeto de bloco estrutural de quatro pavimentos e os que estão sendo construindo seguem o mesmo padrão. Se houver mudança, haveira um gasto a mais, o que tornaria o projeto inviável nesse momento.

As rachaduras e fissuras podem ser geradas tanto por recalques nas fundações, que é um defeito de projeto, como o sobrepeso, que é a quantidade além do permitido, explica o engenheiro. “Os objetos e móveis colocados dentro dos imóveis também contribuem para o aparecimento desses problemas. O certo seria que todas as pessoas que fossem morar nas casas fossem orientadas que não pode fazer nenhum tipo de reparo, furar parede ou instalar tomadas onde não têm, porque isso é muito perigoso e compromete a estrutura prédio”, afirma o professor de engenharia que ainda ressalta que em muitos casos, falta orientação sobre a utilização do prédio que os responsáveis por fazer a entrega dos imóveis não orientou. “Sabemos também que, algumas pessoas fazem esses reparos ilegais mesmo sabendo que não pode. Se a gente for fazer uma visita nessas casas que apresentam fissuras ou rachaduras, nós vamos encontrar 90% dos apartamentos com mudanças que não deveriam ter.”

Mayara Mussi Ribeiro, de 35 anos, foi contemplada com uma casa no residencial Cidade de Todos II em 2013. Foram cinco anos esperando o imóvel e já começaram a aparecer as rachaduras nas paredes. “A gente tem muito problema com infraestrutura, as janelas de ferro são ruins, as paredes já têm rachaduras, e ninguém disse que não deveríamos por nada na parede. Mas, como vamos organizar a cozinha? Tudo é pequeno e se não colocar os armários da parede, a gente nem consegue andar dentro de casa”, diz a manicure.

Economicamente falando, a construção de apartamentos de blocos de concreto sairia mais barato, outros materiais como os tijolos também podem ser econômicos, tudo isso depende da quantidade, do tempo que será feito, mão de obra especializada e se há material disponível. Então, alerta o professor, são vários fatores que influenciam para determinada técnica ser mais adequada que a outra.

Sobre as infiltrações, podem ocorrer quando um morador mexe na encanação ou porque a própria construtora não se atentou aos quesitos básicos do projeto na hora da execução. “Na cobertura também pode ter uma telha quebrada e tudo isso a gente analisa. Um rasgo pequeno na parede pode colocar a vida dos moradores em risco”.

Alternativas
Para o professor de engenharia civil, a alternativa para tornar mais barata a construção desses imóveis seria fazer um estudo prévio. “Uma construção convencional de tijolos teria sido mais aproveitada que essa. Mas, não tem como dizer qual o material mais adequado para usar nessas construções porque teria que fazer um estudo de vários fatores que mostrariam a técnica mais barata”.

SIGA-NOS NO

Veja Também

Moradia Popular: O sonho da casa própria e a dificuldade do Governo para reduzir o déficit habitacional

Obras paradas: Burocracia atrapalha celeridade dos programas habitacionais, diz prefeitura

Estado e municípios se unem para zerar demanda por moradia popular mesmo sem dados sobre déficit

Porto Velho tem 27 obras paradas com investimentos que chegam a R$ 150 milhões