Rondônia, 23 de dezembro de 2024
Geral

Com fama de “reduto racista” de Rondônia, Vilhena tem bons e maus exemplos

Dimas Ferreira


De fato, há na cidade casos emblemáticos de racismo, mas não há números que sustentem a injusta fama de que os vilhenenses lideram o ranking estadual do preconceito de raça. Além do mais, há também situações que expõem justamente o contrário: perfeita convivência (inclusive afetiva) entre a morena brejeira e o polacão criado na colônia.

AMOR EM PRETO E BRANCO - Um retrato da “mistura” pacífica entre cores é dado por um dos casais mais conhecidos e queridos da região: a enfermeira paraense Rosalina Reis e o comerciante nascido no Paraná, Paulo Roberto Goebel (FOTO). Casados há mais de dez anos e pais de um menino adotivo, os dois garantem nunca ter enfrentado resistências à relação inter-racial. Paulo até brinca: “O que sempre me perguntam é onde achei essa morena linda”, derrete-se o irmão do deputado Luizinho Goebel (PV). O marido claro fala das qualidades da companheira negra: “Na minha família, poucas pessoas são tão amadas quanto a Rosa”, garante, mostrando uma pitada de ciúmes da mãe, a quituteira Iris Goebel, matriarca que conserva um carregado sotaque de origem germânica.

De fato, há na cidade casos emblemáticos de racismo, mas não há números que sustentem a injusta fama de que os vilhenenses lideram o ranking estadual do preconceito de raça. Além do mais, há também situações que expõem justamente o contrário: perfeita convivência (inclusive afetiva) entre a morena brejeira e o polacão criado na colônia.

AMOR EM PRETO E BRANCO - Um retrato da “mistura” pacífica entre cores é dado por um dos casais mais conhecidos e queridos da região: a enfermeira paraense Rosalina Reis e o comerciante nascido no Paraná, Paulo Roberto Goebel (FOTO). Casados há mais de dez anos e pais de um menino adotivo, os dois garantem nunca ter enfrentado resistências à relação inter-racial. Paulo até brinca: “O que sempre me perguntam é onde achei essa morena linda”, derrete-se o irmão do deputado Luizinho Goebel (PV). O marido claro fala das qualidades da companheira negra: “Na minha família, poucas pessoas são tão amadas quanto a Rosa”, garante, mostrando uma pitada de ciúmes da mãe, a quituteira Iris Goebel, matriarca que conserva um carregado sotaque de origem germânica.

OFENDER CUSTA CARO - Mas há casos em que o respeito tem que ser garantido na justiça. Foi o que aconteceu em 2005, quando um grande empresário local humilhou uma faxineira negra na porta de uma loja de eletroeletrônicos no centro da cidade. Ao cobrar que a serviçal limpasse com escova de dentes a calçada em frente ao seu imóvel, o figurão, após toda sorte de xingamentos, teria extrapolado: “Você vale menos do que um dos pneus da minha caminhonete”. Além disso, o autor da covardia teria relacionado a suposta falta de higiene da empregada à sua etnia.

Aos prantos, a moça peregrinou por vários escritórios de advocacia, mas não encontrou quem a defendesse, provavelmente em virtude da influência do agressor. A defensora pública Vera Paixão comprou a briga e levou o caso às barras da justiça. Resultado: o autor da humilhação pagou R$ 20 mil reais à vítima por danos morais e mais R$ 4 mil à Defensoria. Pneuzinho caro esse, hein?
Os detalhes deste caso foram informados pela própria Vera Paixão, por telefone, de Porto Velho. A causídica pediu apenas para que os nomes dos envolvidos (exceto o dela) fossem omitidos, para evitar mais constrangimentos.

JEUS NA CAUSA - Quem também já sofreu na pele escura o drama do preconceito é o pastor Genivaldo Florenços dos Santos, líder da Igreja Missionária Unida em Vilhena. Segundo o religioso, ao tentar abastecer o carro num posto de gasolina em Porto Velho, teria ouvido o frentista comentar com um colega: “Aqueles dois crioulos ali têm cara de ladrões. Fique de olho neles”. Florenços, que é negro e estava em companhia de outro missionário, igualmente afro, lembra que teve que se segurar para não reagir à humilhação.

O pastor diz, no entanto, que em Vilhena, há uma década, jamais passou por constrangimentos em virtude de sua raça. Nascido em Porto Velho e com 26 anos de ministério, admite, porém, que se sentiu “um peixe fora d´água” em meio a tantos gaúchos. “Mas parecer deslocado era uma coisa de minha parte, não havia provocações de ninguém. Depois, me acostumei e, desde então, tomo chimarrão com a indiada”, diverte-se o pregador, conhecido tanto pelo bom humor quanto pela vida reta.

“NEGRINHO” – O diretor do Procon em Vilhena, Acácio Félix, é outro que enfrentou situações embaraçosas por causa da cor da pele. Um grande empresário da cidade teria se referido a ele, ao conversar com o jornalista Júlio Olivar, de quem Acácio é amigo, como “aquele negrinho que anda com você”. O comunicador rebateu na lata a conversa enviesada: “Ele tem nome. O senhor gostaria de anotar, pra não esquecer?”.

Em outra ocasião, Félix quase perdeu uma transação comercial porque o sujeito com o qual tratava da compra de um bem, teria duvidado da capacidade de pagamento de “um bugrinho” como ele. O negócio acabou sendo fechado com a intervenção de um terceiro.

BOFETADA NA CARA PRA APRENDER - Sem medo de cara feia, a advogada Vera Paixão nunca amarelou ao encarar racistas, tanto nos tribunais quanto no “olho a olho”. Segundo conta a causídica, enquanto defendia uma dona-de-casa, durante uma audiência, anos atrás, o ex-companheiro da mulher só se referia a ela como “essa nega”.
Na terceira vez que o homem pronunciou a expressão, a mulher levantou-se e soltou a mão na cara do provocador. Ao invés de cobrar mais calma da arretada senhora, o juiz do caso dirigiu-se ao sujeito nocauteado com uma reprimenda: “De agora em diante, o senhor chame a parte contrária pelo nome”.

Vera, que tem um irmão adotivo negro, aconselha a todas as vítimas da intolerância a buscarem a justiça, por mais difícil que isso possa parecer. Complicado é achar gente como ela, que não baixa a crista para figurões metidos a donos do mundo.

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