Da negligência a agressão física, violência contra idosos precisa ser freada para garantir envelhecimento saudável
Em meio aos avanços tecnológicos que vivemos atualmente com pessoas mais conectadas virtualmente e com maior acesso a todas as áreas do conhecimento, a sociedade ainda custa lidar com algo tão natural a todo ser humano – o envelhecimento.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o número de brasileiros com mais de 60 anos é de 26,1 milhões no país e deve triplicar até 2050. Uma população vulnerável. A cada 10 minutos, um idoso é agredido no Brasil. É o que aponta os dados do Disque 100 do Ministério dos Direitos Humanos.
De acordo com a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, a maioria das violações acontece dentro da casa e são cometidas por familiares dos idosos. Neste 15 de junho: Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa é preciso fazer um alerta. ‘‘A sociedade precisa se preparar para lidar com o envelhecimento’’, afirma a diretora da Casa do Ancião São Vicente de Paulo, Ione Braga.
VULNERABILIDADE
‘‘A Casa do Ancião é assistida pelo Estado através da Secretaria de Estado da Assistência e do Desenvolvimento Social (Seas) com capacidade para 30 idosos e os idosos que chegam aqui são aqueles que estão com risco de vulnerabilidade social. O abandono é a principal violência sofrida por esses idosos’’, destaca a diretora.
A situação é preocupante. Com uma sociedade que não sabe lidar bem com o envelhecimento, muitos idosos são excluídos do convívio familiar. ‘‘Todos os dias chegam à nossa porta filhos querendo largar os pais, netos querendo deixar os seus avós, sobrinhos nos entregando seus tios. Não estão preparados para cuidar dos idosos’’, considera Ione.
Para a diretora, é preciso romper com esse problema cultural que alimenta o ciclo de abandono dos idosos. Um processo que requer tempo, mas que é preciso dar o primeiro passo hoje. ‘‘Nós precisamos trabalhar com nossos filhos em casa e nas escolas desde o jardim de infância a importância do cuidado aos idosos’’, aponta.
Idosos que não recebem o carinho, o amor e os cuidados da família acabam por terem impactos negativos não só no desenvolvimento físico, mas também emocional e social.
‘‘Nós vemos idosos de mais de 70 anos ativos como o meu próprio pai, mas também encontramos aqui na Casa idosos até mais novos que ele que são totalmente dependentes e o que torna eles dependentes é o abandono’’, avalia a diretora.
Situação que Soeli Cavalee, técnica de enfermagem da instituição há 13 anos, conhece de perto. ‘‘Já vi muitos casos de parti o coração. Idosas que dormiam no chão. Outros que chegam aqui muito mal cuidados, sujos, descalços, doentes, em situações degradantes’’, relata.
CONSCIENTIZAÇÃO
Durante a última década, mas que um trabalho, Soeli tem encarado a missão de contribuir para a construção de uma sociedade mais digna aos idosos. ‘‘Quando a pessoa envelhece ela precisa de muito cuidado, muita atenção até mais que uma criança. É preciso ter muita paciência e procurar entender aquilo que eles querem’’, ensina.
Paciência é o que mais tem Soeli. Com dedicação e muito amor, ela conquistou a confiança dos idosos, inclusive alguns deles só aceitam participar de certas atividades como passeios pela cidade se a técnica de enfermagem estiver presente.
Outra que também tem o desafio de tornar o dia-a-dia dos idosos mais feliz é a enfermeira Márcia Fonseca que trabalha na casa há sete anos. Ela afirma que os idosos recebem um cuidado completo na Casa.
Banho, alimentação, higiene pessoal e acompanhamento médico fazem parte da rotina deles. ‘‘Fazemos encaminhamento para consultas médicas, cirurgias, tratamos as feridas, todo tipo de cuidado. Fazemos passeios com eles uma vez por mês e nós percebemos que eles gostam muito quando recebem visitas’’, destaca.
GRATIDÃO
Os idosos agradecem pelos cuidados que recebem. ‘‘Não tenho do que reclamar. A nossa alimentação tem o controle do sal, açúcar, óleo devido os problemas de saúde que muitos tem aqui’’, disse Samuel Miguel da Silva, 61 anos, que chegou a Casa doente e disse ter ganhado mais qualidade de vida. Vicente Vieira,74 anos, vai além. ‘‘Melhor do que aqui só no Céu’’, afirma. Outro que também se mostra contente é Edilson Brasil, 67 anos.
‘‘Essas meninas que cuidam da gente são mais que especiais. Essa Casa é uma benção de Deus. Se não fosse os cuidados que recebo aqui eu não sei o que seria de mim’’, afirma Edilson que é deficiente visual. Mas é Antônio Cardoso, 76 anos, que sintetiza o sentimento de muitos. ‘‘Estamos nos meio de estranhos, mas são estranhos bons’’, conclui.
‘‘Aqui eles são tratados com muito amor, mas nós não substituímos a família’’, pondera a diretora. A enfermeira Márcia faz um apelo. ‘‘Todos nós vamos envelhecer, então vamos repensar mais em como estamos tratando nossos idosos’’, disse.
De acordo com a diretora, cerca de 30 profissionais fazem parte do quadro de funcionários da Casa com atuação multidisciplinar. A instituição de longa permanência também está aberta para receber voluntários e doações. O agendamento é feito pelo 3216 5105. A Casa do Ancião São Vicente de Paulo está localizada na rua Tenreiro Aranha, 2062, no centro de Porto Velho.
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