Em 4 anos, quase 400 pessoas tiraram a própria vida em Rondônia; família é importante na prevenção
Falar em suicídio é algo bastante delicado, mas ao mesmo tempo em que é preciso ter cuidado ao julgar esta palavra, o debate torna-se cada vez mais importante. Segundo dados registrados pela Polícia Civil, de 2015 a 2018, em Rondônia 398 homens e mulheres tiraram a própria vida. São mortes que poderiam ser evitadas porque é possível preveni-las, aponta a psicóloga Francléia Silva.
Contudo, somente nos dois primeiros meses deste ano, 25 pessoas cometeram suicídio em todo o Estado, sendo 18 homens e sete mulheres. Ainda de acordo com a estatística da Polícia Civil, dos 52 municípios, em pelo menos 45 houve registro de suicídio nos últimos quatro anos.
Os dados de Porto Velho apontam que em 2019 foram registrados sete suicídios, sendo três mulheres e quatro homens. Entre os anos de 2015, 2016, 2017 e 2018, 24 mulheres tiraram a própria vida. Os casos envolvendo homens são preocupantes e, de 2015 a 2018, 107 cometeram suicídio na Capital.
Dos casos registrados em Porto Velho, duas profissionais da saúde foram encontradas mortas em unidades hospitalares. Entre os homens, um agente penitenciário também foi encontrado morto.
Para a coordenadora do curso de psicologia da faculdade Uniron, Francléia Silva, a família pode ajudar a identificar os possíveis casos de suicídio dentro de casa ou até mesmo fora do ambiente familiar. “É importante que nós possamos reaprender a olharmos um para o outro dentro da própria família, no círculo de amigos ou trabalho. Assim, fica mais fácil observar aquela pessoa, o comportamento diferente onde muitos ficam entristecidos, pelos cantos, quietos e com um comportamento diferente daquele que as pessoas estão acostumadas ver”, disse a psicóloga.
Ter preocupação com as crianças e com as pessoas de dentro de casa é muito importante, já que muitas vezes a pessoa com depressão apresenta sinais. “Olhar e escutar a pessoa que está em seu convívio, que apresenta sinais de depressão pode prevenir o suicídio. É preciso se conhecer melhor e em muitos momentos da nossa vida a gente necessita sim de ajuda e temos que reconhecer isso”, enfatizou a psicóloga.
Alguns sinais podem ser notados quando uma pessoa está passando por problemas e precisa de ajuda. “Ela começa ficar mais agressiva, mais entristecida, começa reclamar de tudo, sempre com está raiva dentre outros sinais que a família pode notar. Importante observar o nível de auto estima, como a pessoa se sente consigo mesma e como sente em relação ao outro”, explicou Francléia Silva.
Procurar ajuda psicológica logo no início facilita ainda mais na recuperação do paciente, segundo a psicóloga. No caso de crianças, os pais precisam ficar atentos aos sinais e não desacreditar quando o filho pedir ajuda. “Quando a gente identifica essas situações é muito mais fácil acompanharmos e tratarmos o paciente. Nós sempre pedimos às pessoas que tenham mais atenção em casa, ouçam mais e olhem as reclamações do filho, mãe, pai, irmão, marido ou até mesmo o amigo. Quanto mais cedo o tratamento, maior é a chance de cura”, alertou.
Francléia Silva explica que quando há o suicídio, provavelmente deve haver, antes disso, um processo de doença que não foi identificada e tratada a tempo. “Muitos suicidas apresentam sinais antes de tirar a própria vida, mas poucos conseguem perceber. Eu ouço relatos de pacientes que tentaram suicídio, e eles falam que não queriam morrer, mas sim acabar ou diminuir a dor”, explicou.
Sobre os casos de pacientes que tentaram suicídio, sobreviveram, mas não iniciam tratamento, a psicóloga alerta para o risco grande de nova tentativa. “Os pacientes que tentaram suicídio precisam passar por tratamentos psicológico e psiquiátrico. Rever suas metas e conceitos de vida, fazer atividade física, ter alimentação equilibrada, buscar uma igreja e ter amigos para que ele se sinta útil também ajuda no tratamento”, finalizou Francléia Silva.
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