Enfermeira fala de preconceito e conta que foi substituída por homem para garantir contrato

“O importante é não se deixar abater nunca”. É com esta motivação que Carla Ferreira Gomes, de 36 anos, vem trilhando sua vida e conquistando espaço por onde passa. É mulher, mãe, esposa, enfermeira, empresária e ainda arranja tempo para estudar. Mas ela conta que nem tudo é fácil. Existem espinhos sendo podados há muito tempo e, muitas vezes, até mais de uma vez.
Mãe de três meninas de 18, 14 e 5 anos, o dia de Carla começa cedo e não tem hora para terminar. Ela é gerente técnica do Hospital Santa Marcelina, entidade também comandada por uma mulher. São cuidados diários com pacientes, gerencia uma equipe que inclui homens e mulheres, e é exatamente onde ela percebe a existência do preconceito. “É muito triste a gente falar. Em pleno século XXI, a gente não imaginava que teria tanto preconceito, mas ele existe. Se você observar aqui no hospital, ou em qualquer outro, para cada cinco trabalhadores da enfermagem, apenas um é homem. Até o paciente na hora de chamar para atendimento pede pela enfermeira”, afirma.
Ainda na questão profissional, Carla resolveu abrir o próprio negócio: uma empresa de assessoria em gestão hospitalar e instrumentos cirúrgicos. Para isso, convidou uma amiga e as duas se tornaram sócias. No começo, ela lembra, foram muitas as dificuldades para negociar contratos. “Quando eu abri a empresa, éramos eu e minha sócia. Eu conseguia contatos e fechar contratos, mas com dificuldade. Quando meu marido entrou, houve mais facilidade. Parece que apenas por ser homem. O respeito veio que com mais relevância. E na gerência, os homens que eram subordinados a mim não aceitavam tanto”, frisa a empresária ressaltando que em termos de conhecimento específico na área de atuação da empresa ela possui até mais conhecimento que o marido.
“Lembro que no meu trabalho já cheguei a treinar um homem para que o contrato fosse fechado. Tudo que ele sabia, tinha sido eu que tinha passado e ele não estava tão seguro, mas deu tudo certo simplesmente por ser um homem a frente e não uma mulher. Isso é horrível”, avalia a enfermeira lembrando que ainda existem muita diferença dentre de salário entre homens e mulheres com a mesma profissão.
Já em casa o domínio é feminino. São quatro mulheres e apenas um homem. Mas é nesse universo delicado que Carla busca forças para ensinar às filhas o quanto é importante o respeito e não desanimar na busca pelos objetivos. “Minha filha mais velha tem 18 anos e está cursando engenharia civil. Até um tempo desse, essa seria uma profissão muito masculina. Mas independente que seja a escolha, o importante é prosseguir. É levantar cedo e continuar”.
E nessa busca incessante por conhecimento, Carla já possui quatro pós-graduações, está fazendo mestrado e já começa a planejar o doutorado para o ano que vem. “Todo dia, eu olho pro céu na hora que eu acordo e agradeço. Aos poucos, nós mulheres vamos conquistando os nossos espaços. Eu crio minhas filhas para fazer a diferença, em qualquer setor. Nos caminhos que antes eram espaços típicos de homens, a mulher vem deixando sua marca. E motivação para continuar não falta”, finaliza.
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