Rondônia, 17 de novembro de 2024
Geral

Escola mais antiga de Rondônia, Barão do Solimões conta sua trajetória de 90 anos no palco do Teatro Palácio das Artes

A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Barão do Solimões, em Porto Velho, terá lembrados personagens contando um pouco de sua  história em um show musical programado para a próxima sexta-feira (18), a partir das 19h, no palco do Teatro Palácio das Artes Rondônia. Sessenta alunos e servidores da escola serão as estrelas da noite. O espetáculo com entrada franca mostrará composições de autores regionais, incluindo-se carimbó, baião, rap e reggae.

“Direção e alunos promovem esse resgate que também mostrará ao público aspectos da criação do Território Federal do Guaporé anteriores ao Território e ao Estado de Rondônia”, disse o diretor da escola, Marcelo Lima de Araújo.

O projeto musical Barão do Solimões – 90 anos. Faço parte desta história, foi elaborado com a equipe dos programas Mais Educação e Mais Cultura, com repertório de autores regionais, coral, percussão, violino e violões.

“Na verdade, são milhares de histórias convergentes neste marco da educação de Rondônia”, explicou a coordenadora do projeto, professora Jussara Assmann.

Na mesma noite, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançará um selo e carimbos alusivos ao nonagésimo aniversário.

Quem não for lembrado na noite de sexta-feira, fará parte do futuro memorial que será construído ao lado do estabelecimento educacional, na rua José Bonifácio, ao lado da Catedral do Sagrado Coração de Jesus. Pesquisa em andamento revelará capítulos interessantes  de diferentes épocas.

Os 90 anos da Barão são lembrados desde o ano passado por diversos alunos, em jogos artísticos, robótica, jogos internos e oficinas, entre as quais, “Inventar com a diferença”. Em outubro, com data e local a ser combinados, a escola promoverá um show público com artistas que ali estudaram.

Solenidades alusivas ao aniversário começaram no dia 25 de agosto, com a celebração de missa solene pelo arcebispo emérito de Porto Velho, dom Moacyr Grechi , e no dia seguinte, sessão solene na Assembleia Legislativa.

Houve um emocionante encontro de professores, ex-professores e funcionários em diferentes períodos. A aluna Yuna Terço Dias, bisneta de Pedro Macedo, que trabalhou na construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, levou o avô, Hilton Macedo. “Notamos desde o ano passado o sentido de pertencimento das pessoas; elas se sentem parte da escola”, disse a professora Jussara.


Do Amazonas por brio
Não é filho da Amazônia
A quem muito ele serviu”. Do Pará por nascimento
Do Amazonas por brio
Não é filho da Amazônia
A quem muito ele serviu”.

Essas rimas serão lançadas na sexta-feira pelo autor José Medeiros de Lacerda, paraibano, de Santa Luzia, que escreveu “Barão do Solimões – 90 anos educando” e contribuiu com a história do estabelecimento.

Quem foi o barão, patrono da escola? Segundo a Wikipedia, Manuel Francisco Machado, “primeiro e único barão de Solimões, foi advogado formado pela Universidade de Coimbra (Portugal) e jornalista editor de ‘O Liberal’, jornal aliado ao Partido Republicano Liberal. Paraense de Óbidos, ele foi também advogado e proprietário rural.

Recebeu o título de barão em setembro de 1889. Era comendador da Imperial Ordem da Rosa e da Imperial Ordem de Cristo. Presidiu a Província do Amazonas, de 1º de julho a 21 de novembro de 1889, após a Proclamação da República, e depois, senador e constituinte de 1890 a 1900.

Em seu curto governo dedicou especial atenção à instrução pública. Recebeu o título de barão, por decreto do imperador dom Pedro II, em 25 de setembro de 1889″.

TERCEIRO LUGAR NO ENEM

Mais de 800 alunos estão matriculados na Barão do Solimões, escola criada em 1925, pelo decreto do Governo do Amazonas, quando a extensão do município de Porto Velho ainda pertencia ao vizinho estado. Atualmente funcionam os Ensinos Fundamental e Médio, e a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Se a conquista do terceiro lugar entre escolas estaduais no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) entusiasmou a escola, também preocupou a direção. “Já temos fila de pessoas buscando vagas para os filhos em 2016”, relatou a diretora pedagógica, Simone Piltez.

Simone assinala que o projeto musical foi finalista entre mais de mil inscritos no Prêmio Arte na Escola, competição nacional promovida pelo Serviço Social da Indústria (Sesi).

Há diversos casos de amor entre ex-alunos e a escola. Alguns têm duas ou três décadas de existência. O professor Samuel Johnson estudou, trabalhou e, mantendo os laços, segue voluntário, treinando a equipe de basquete; a bibliotecária, Nelly de Nazaré Ayres do Nascimento, também permanece, juntamente com o porteiro, Antonio da Cruz Reis; a secretária, Auxiliadora Duran; a merendeira, Maria das Dores de Souza; a professora de biologia, Adriana de Mesquita; e o professor João Bosco Villar.

Do quadro de docentes, uma das servidoras escolares foi Judite Holder, que morreu em 3 de julho deste ano, aos 101 anos. Ela ingressou em 1946, auxiliando a professora Lígia Veiga. Trabalhou em outras quatro escolas da cidade.

Com 21 anos de serviço, emocionada, a concursada merendeira, Maria das Dores, 63 anos, conta que o pai foi pedreiro na Mineração Mibrasa, em área onde surgiu o município de Itapuã do Oeste, a 116 quilômetros de Porto Velho. De Macaíba (RN), ele trouxe a família para o então Território Federal de Rondônia, em 1974.

Duas décadas depois, ela buscava verduras e canelas de ossos no Mercado Municipal e juntava verduras para produzir o cozidão, servido às 9h30 aos alunos. “Quando comecei, a merenda usava produtos enlatados, depois vieram sacos com charque para fazer o baião. Durante três anos do meu trabalho, a criançada [meninos com até 5 anos de idade] deixava pratos e canecos amontoados, e a gente recolhia tudo”, lembrou.

“Comecei minha vida escolar aqui, fazia percussão na carteira e na mesa da professora, e toquei surdo na fanfarra” – Bira Lourenço, ex-aluno

Licenciado em música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e em pedagogia pela Universidade Federal de Rondônia (Unir), o percussionista Bira Lourenço interpreta ecleticamente um desses casos. “Comecei minha vida escolar aqui, fazia percussão na carteira e na mesa da professora, e toquei surdo na fanfarra”, contou batendo levemente na impressora.

Bira produziu os primeiros sons usando lápis, papelim e pentes. Era fã de sonoplastia. “Eu ouvia, me fascinava e decidia estudar memórias auditivas: o som da chuva, o tropel dos cavalos, e outros”.

O ex-governador Oswaldo Piana Filho e o ex-prefeito Francisco Chiquilito Erse integram o primeiro time de atletas que usou a quadra de esportes da escola, uma das primeiras a ser construída na Capital.

Em julho de 1927, o escritor modernista, Mário de Andrade, esteve na escola, durante visita feita a Porto Velho, e ao antigo município de Santo Antônio do Rio Madeira. No livro “O turista aprendiz”, ele elogia a elegância da professora que o recebera na ocasião.

Atendendo atualmente à demanda educacional causada pela instalação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), a escola inicialmente funcionou em prédios provisórios, abrigando filhos de ferroviários. Só em 1940 ocupou sua sede atual. A direção juntou cópias de fotos da época, matérias de jornal e documentos para mostrá-los no futuro memorial.

“As aulas iniciadas

O início da história
Sessenta e quatro crianças
Estavam matriculadas
Um preliminar, primeiro,
Um segundo e um terceiro,
Quatro salas separadas.
Começou então a jornada
A educação avança
Professores empolgados
Com muita perseverança
Ao seu alunado ensina
E o ano já termina
Com noventa e duas crianças”.

O poeta José Medeiros de Lacerda explica didaticamente as mudanças de prédio da escola, lembrando que depois do salão da EFMM, funcionou ao lado do Colégio Salesiano Dom Bosco, mudando-se depois para uma casa de madeira na avenida Sete de Setembro, esquina com a avenida Farquhar, e dali transferiu-se para o local definitivo, em 1944.

“Nos tempos iniciais
Essa escola prosperou
A Madeira-Mamoré
Há tempos que se acabou
Não teve perseverança
Restou somente a lembrança
Mas nossa escola ficou”

As obras do atual prédio só foram concluídas em 1º de agosto de 1940, depois de sucessivas tentativas de mobilização da sociedade para angariar fundos. A direção da EFMM apoiava a construção, exigindo, contudo, a incorporação ao patrimônio da empresa.

Depois de ser empossado no cargo de governador do ex-Território Federal do Guaporé, em ato solene no gabinete do Palácio Presidente Getúlio Vargas, na então Capital Federal, Rio de Janeiro, o coronel Aluízio Ferreira assumiu o governo de Rondônia no dia 24 de janeiro de 1944, na sala onde hoje se encontra a Diretoria da escola.

Também lembrado nas rimas do poeta cordelista Lacerda:

“Esse fato nos deixou
Cheios de felicidade
Vendo a escola repleta
De toda sociedade
Não somente de Rondônia
Mas de toda Amazônia
Com garbo e civilidade

Usando da autoridade
Que Getúlio lhe outorgou
O governador Ferreira
O momento aproveitou
Que já estava empossado
E ao seu secretariado
Aqui mesmo empossou

A posse se realizou
Em meio a grande aparato
Vinte e quatro de janeiro
Do século mil e novecentos
O maior entre os eventos
Que aqui já houve de fato.”

TOMBAMENTO

O tombamento do prédio atual já tem estudos, conforme a coordenadora do projeto, professora Jussara. Ela entende que o prédio faz parte do conjunto arquitetônico do centro da Capital rondoniense. “Cuidadosamente, iniciamos estudos e, em 2010, percebemos durante a substituição de telhas que ainda resiste o madeiramento original, da década de 1940, e peças de sustentação com trilhos do trem”, adiantou.

Apenas as portas foram alteradas; portões internos e grades semelhantes às originais, dos anos 1960, foram recolocados e o projeto só mudou a estruturação do telhado. “A equipe gestora estudou o prédio com base em fotos antigas”, disse.

Agora, a direção escolar sonha com o projeto de arborização e antecipa: está pronta para receber a adesão de empresas ou entidades.

SIGA-NOS NO