Rondônia, 30 de dezembro de 2024
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Gari fala do amor à profissão e diz que gosta de estar bonita e maquiada para o trabalho

“Cada mulher tem sua forma de ser, de amar, de ser mãe, mas todas elas são especiais e merecem todo carinho”. É desta forma que Sâmia Bernardo, de 36 anos, conta um pouco da sua história de vida e da vontade de ser gari desde quando era adolescente. Sombra no olho, batom nos lábios e protetor solar são itens que não podem faltar para a funcionária pública enfrentar um dia de trabalho.

Tudo começou quando Sâmia ainda era adolescente e sonhava exercer a profissão de gari. “Eu sempre gostei de capinar, varrer, pegar no pesado, ainda na adolescência, e foi daí que veio a vontade de passar no concurso para ser gari. Em 2012, surgiu à oportunidade para trabalhar em Jaci-Paraná, eu fiz a prova e passei no concurso. Quando saiu o resultado e fiquei sabendo que tinha passado, eu não conseguia dormir de tanta alegria porque era um sonho que estava realizado com muita batalha e estudo mesmo sem eu ter condições de pagar um cursinho”, conta

Apesar de enfrentar sol, chuva e muita poeira nas ruas da capital, Sâmia nunca descuida do visual. Se maquia e quer sempre estar bem vestida durante o trabalho. “Não é porque sou gari que tenho que andar feia, eu não sou diferente das outras mulheres que se arrumam pra ir trabalhar. Eu sou mulher, gosto de me cuidar e sempre estar bonita mesmo estando com uma vassoura na mão ou uma enxada. Às vezes eu estou na rua trabalhando e as pessoas ficam me olhando e eu tenho certeza que é porque eu estou maquiada”, diz entre risos.

Mas quem ver Samia maquiada e com um sorrido no rosto, não imagina as dificuldades e momentos difíceis que ela já passou. “Eu já passei muitas dificuldades em Jaci-Paraná inclusive com a falta de alimentação. Eu recordo como se fosse hoje, quando tive que passar uma semana comendo só maçã que os funcionários da usina me davam sem saber que eu estava realmente precisando. Por não ter geladeira no apartamento onde eu morava, tive que tomar água quente por um bom tempo e até água da torneira por não ter dinheiro pra comprar [a geladeira]”, relembra Samia emocionada.

“Lá em Jaci eu fazia de tudo, limpava as ruas, as escolas, pintava o meio-fio e até cavava cova nos cemitérios juntamente com minha equipe. Apesar das dificuldades eu nunca pensei em mudar de profissão até porque foi o que escolhi pra mim. Minhas mãos são cheias de calo, mas isso porque pego no pesado sem nenhum problema e não me incomodo da minha mão não ser macia igual a da maioria das mulheres. Essa mão calejada demonstra muita garra e muito trabalho”, diz sorrindo.

Sobre suas conquistas, a gari conta que foi a partir de 2015 que tudo começou a melhorar: Voltou para Porto Velho e está perto da família. “Isso não tem preço. Hoje eu consegui comprar minha motocicleta, posso comprar o que eu quiser e comer tudo que tiver vontade. Com meu salário eu cumpro com minhas responsabilidades e ainda sobra pra gastar com minhas roupas que eu amo e cuidar da minha beleza”, garante.

Com lágrimas nos olhos, Samia se emociona ao falar sobre o preconceito que já encarou por estar suja, após sair de uma jornada de trabalho. “Eu já fui discriminada várias vezes, mas eu nunca vou esquecer do dia que eu tinha acabado de terminar de pintar uma das avenidas de Porto Velho, entrei no ônibus para ir pra casa e no meio do caminho passei em frente de uma loja e vi um vestido lindo. Desci do coletivo e quando entrei na loja nenhum vendedor quis me atender porque eu estava suja e pensava que eu não tinha dinheiro pra comprar o vestido. Outra vez, a proprietária de um restaurante não deixou eu entrar em seu estabelecimento comercial porque eu estava suja”, relembrou Sâmia.

Neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Sâmia continua mostrando sua garra e determinação deixando a cidade de Porto Velho mais limpa e mais bela.

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