O DESABAFO DE UMA CIDADÃ ORGULHOSA POR MORAR E AMAR RONDÔNIA
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Após ouvir inúmeros comentários, hoje eu assisti, estarrecida, ao vídeo em que o senhor Rafael Bastos insulta toda população de uma Unidade Federativa do País, Rondônia. Quando me falaram, eu me recusei a acreditar que um “cidadão” dito esclarecido, figura pública e formador de opinião, o que esse senhor é, se prestasse a tal papel mas constatei, chocada, do que a mais completa ignorância é capaz. Ignorância de um “cidadão” que pretende fazer humor, utilizando-se de um humor barato, mesquinho e Xenofóbico. Xenofóbico sim, mesmo Rondônia não sendo um país. Ignorância também de toda uma platéia que se deleita, se desmancha em risadas diante das ridículas piadas. Platéia ignorante, que não se levanta, que não contesta, incapaz de um ato de CIDADANIA. Mediocridade de ambas as partes, “palhaço” e platéia. Palhaço entre “...” porque os verdadeiros palhaços, estes muitos superiores a essa ralé que assisti, brilham no picadeiro, arrancam gargalhadas da platéia sem precisar recorrer a artifícios tão baixos.
Por Juci Theodoro
Após ouvir inúmeros comentários, hoje eu assisti, estarrecida, ao vídeo em que o senhor Rafael Bastos insulta toda população de uma Unidade Federativa do País, Rondônia. Quando me falaram, eu me recusei a acreditar que um “cidadão” dito esclarecido, figura pública e formador de opinião, o que esse senhor é, se prestasse a tal papel mas constatei, chocada, do que a mais completa ignorância é capaz. Ignorância de um “cidadão” que pretende fazer humor, utilizando-se de um humor barato, mesquinho e Xenofóbico. Xenofóbico sim, mesmo Rondônia não sendo um país. Ignorância também de toda uma platéia que se deleita, se desmancha em risadas diante das ridículas piadas. Platéia ignorante, que não se levanta, que não contesta, incapaz de um ato de CIDADANIA. Mediocridade de ambas as partes, “palhaço” e platéia. Palhaço entre “...” porque os verdadeiros palhaços, estes muitos superiores a essa ralé que assisti, brilham no picadeiro, arrancam gargalhadas da platéia sem precisar recorrer a artifícios tão baixos.
Percebe-se que este dito ”cidadão” desconhece por completo a historicidade deste espaço geográfico, atualmente denominado Estado de Rondônia. Espaço este, habitado desde os tempos mais remotos por diversas etnias indígenas, ocupado posteriormente por brancos oriundos das diversas regiões do Brasil, e por negros quilombolas, escravos fugidos e/ou alforriados, surgindo nestas terras a representação mais fiel do povo brasileiro, a miscigenação de três raças, de culturas diversas.
Estas terras ainda acolheram de braços abertos portugueses, espanhóis, latinos, americanos, ingleses, alemães, italianos, turcos, libaneses, judeus, japoneses, barbadianos e muitos outros povos de diversas partes do mundo, quando da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Há de se lembrar também as inúmeras levas de nordestinos que por aqui chegaram e por aqui ficaram após os primeiro e segundo ciclos da borracha. Cidadãos estes que vivenciaram a criação do então Território Federal do Guaporé e posteriormente Território Federal de Rondônia.
Este “cidadão” deve desconhecer tais fatos, assim como deve desconhecer também que o Estado de Rondônia foi criado apenas no ano de 1981. Isso mesmo, há exatos 29 anos e 4 meses. Ou seja, o senhor Rafael Bastos deve desconhecer que este Estado, com apenas 29 anos de existência, tem uma população própria muito pequena, que mais de 50% da população do atual Estado de Rondônia é composta por imigrantes, oriundos de Estados como São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e de todo Nordeste brasileiro, que por aqui chegaram após a década de 70, com a colonização promovida pelo regime militar. Esta população que o senhor Rafael Bastos classificou como “feia”, “ignorante”, “estranha’, “filha do diabo”, nada mais é que a própria população do Brasil, filhos dos diversos estados brasileiros, inclusive do estado em que ele nasceu, o Rio Grande do Sul.
Alguns podem estar se perguntando o porquê desta pequena aula de História Regional. Quando eu ouvi que “se Deus é brasileiro, saiba que ele sacaneou Rondônia” e “O diabo fala português? Eu já sei em estado ele nasceu. E deixou muitos filhos por lá, viu?!”, Eu fiquei pensando que o diabo é tão jovem, apenas 29 anos e muito fértil, para ser pai de uma população de mais de 1.500.000 habitantes em tão pouco tempo de existência.
Pensei também que se levarmos em consideração que mais de 50% da população de Rondônia é composta por imigrantes de outros estados brasileiros, como dito anteriormente, é de se concluir que o diabo, além de jovem e fértil, é viajado. Deve ter visitado todos os estados de Brasil e muitos outros países também. Devo concluir ainda que ele deve ter gostado muito das terras ao sul de Capricórnio, mais especificamente do Rio Grande do Sul, já que por lá as pessoas são muito bonitas, principalmente as mulheres. Ocorreu-me que ele pode ter se encantado com alguma moça alta, loura, linda, de olhos claros e tez alva. Difícil resistir, neh?! De repente tenha deixado algum herdeiro por lá, destes que não tenha conseguido trazer para o seu reino, já que o senhor Rafael Bastos parece colocar Rondônia como o próprio reino do diabo. Eu começo a acreditar que este filho bastardo, tão ressentido que é, por não gozar da companhia do pai, resolveu vir a Rondônia, conhecer seu pai e seus irmãos, e magoado por ver seus irmãos tão bem, passou a falar horrores da própria família. Engraçado, não?!
Não, não é engraçado menosprezar, chacotear, insultar, humilhar pessoas. Eu não consigo ver nenhuma graça, nenhum humor em tamanha violência. Criaturas que se propõem a agir desta forma não merecem a designação de CIDADÃOS. No mundo atual, onde refletimos diariamente sobre todos os tipos de violência, seja ela física, verbal, cultural ou psicológica, onde buscamos soluções para práticas como o bullying, a xenofobia, os preconceitos, onde procuramos difundir o respeito as diversidades, sejam elas religiosas, étnicas, sexuais, sociais, realmente não há espaço para o tipo de humor que este “cidadão” Rafael Bastos, está fazendo. Ele não insultou apenas uma pessoa. Ele insultou toda a população de um Estado brasileiro, sejam eles nascidos ou não neste espaço geográfico.
Sei que para boa parte das pessoas que moram no Centro-Sul do país, o norte não passa de uma terra de gente feia e ignorante, que aqui as pessoas andam de cipó coletivo, vivem em aldeias e criam onças como bichos de estimação. Sei também que muitas pessoas que se acham inteligentes, estudadas, cultas, na verdade deveria voltar para a escola, para as aulas de Geografia, pois não sabe nem localizar Rondônia no mapa do Brasil. Confundem Porto Velho, capital de Rondônia, com Boa Vista, capital de Roraima, como já assistimos inúmeras vezes em diversas nos meios de comunicação.
Isso não nos constrange, não nos diminui. Deveria constranger quem comete erros tão grotescos. Sabemos quem somos, imigrantes ou “filhos da terra”, construímos um Estado que cresce economicamente a passos largos, um Estado que faz questão que suas crianças estejam nas escolas, um Estado da Amazônia, que não tem rios poluídos por resíduos químicos. O mundo todo nos olha com inveja velada. Somos legítimos filhos da Amazônia, mas este “cidadão”, Rafael Bastos, não deve saber o que isso significa.
Por fim, acredito que este “cidadão”, senhor Rafael Bastos, deveria fazer um estudo profundo do que significa a BELEZA. Acredito, sinceramente, que em primeiro lugar ele conheceu pouquíssimo de Rondônia, para classificá-la, como a classificou e depois, o gosto estético deste senhor deve ser bem europeu ou bem sulista, porém o mesmo não deve se esquecer que vive em um país onde a miscigenação faz parte da identidade cultural do seu povo. Este “cidadão”, senhor Rafael Bastos, há de se lembrar que os conceitos de beleza, de estética, são pessoais, dinâmicos, se transformam, assim como as sociedades. É muita prepotência tomar seu gosto pessoal como a única expressão da verdade, como faz este senhor.
Sugerir que pessoas são menores apenas por terem nascido em algum lugar específico, é pequeno, indigno, preconceituoso e é isso que este “cidadão”, senhor Rafael Bastos, é. Eu fiquei muito triste ao ver o vídeo em que este “cidadão” insulta toda a população do Estado de Rondônia. Eu sou fã do CQC e admirava todos os integrantes. Acreditava que o trabalho que fazem é um trabalho de cidadania, por denunciar injustiças e mazelas pelo Brasil afora. Acreditava que os integrantes deste programa extrapolavam as câmeras e viviam no seu cotidiano as lições de cidadania e respeito que nos mostram a cada semana mas, infelizmente no caso deste “cidadão”, senhor Rafael Bastos, vi que ele não passa de um demagogo, preconceituoso e oportunista, que usa as câmeras apenas para se promover. Espero, sinceramente, que os demais integrantes do CQC não se enquadrem neste perfil pois seria muita decepção.
Ainda, sugiro que todos que lerem esta nota de repúdio, Rondonienses ou não, que exerçam sua cidadania, que se indignem tanto quanto eu, com tamanho preconceito e violência social, que escreva o que pensem sobre esta situação ridícula e estigmatizadora e publiquem nas redes sociais. Sugiro ainda que, como eu, escrevam ao programa CQC, exponham esta indignação e exijam uma posição do programa, de preferência que desligue este senhor do seu quadro de apresentadores, afinal maçã tão podre não pode compor uma mesa tão nobre.
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A autora é professora de Geografia e Geografia de Regional no Colégio Tiradentes da Polícia Militar, servidora do Estado de Rondônia e do Município de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia, brasileira, natural do Estado no Mato Grosso do Sul, filha de pai mineiro e mãe paulista, neta de nordestino e sulista, bisneta de portugueses e italianos, branca de pele mas miscigenada de alma e cidadã orgulhosa do Estado de Rondônia. Ainda, mãe de um rondoniano lindo. Eu e meu filho, filhos e herdeiros de Deus!!!
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