Pais acompanham evolução de bebês prematuros utilizando Método Canguru no HB, em Porto Velho
Todos os dias, pela manhã, a tarde e também à noite, no total de mais de quatro horas, o motorista Alex Mota, 26 anos, pai de Ana Sofia, comparece à sala (intermediário) adequadamente preparada da ala da UTI Neonatal do Hospital de Base Ary Pinheiro e coloca em pratica o Método Canguru, utilizado cada vez mais pelos papais, em companhia de suas mulheres no local.
É uma rotina que soma sete dias, desde que a pequenina nasceu prematura, com 35 semanas, precisando de cuidados especiais. Alex Mota é um dos pais que entram e saem de um dos espaços em funcionamento para a prática do Método Canguru, uma terapia de assistência ao bebê com baixo peso internado em UTI, e também a sua família, com estratégias de intervenção biopsicossocial, e cuidado humanizado.
“A criança se comunica com a gente. Esse contato bem próximo, em que ela sente o calor do corpo, ajuda na sua recuperação”, disse Alex, acomodado em uma confortável poltrona com o bebê, colocado pele a pele em posição vertical junto ao peito, de forma segura. Ele se sente tranquilo e paciente, muito à vontade no aconchego desfrutado pelo bebê.
O motorista e outros doze pais participaram de um café da manhã nesta quinta-feira (10) como forma de homenagem pelo Dia dos Pais preparada pela equipe da qual faz parte a coordenadora a UTI Neonatal, enfermeira Luzenir Maria de Souza. Boa parte deles começa a ter contato com o Método Canguru, desenvolvido em três etapas, com atendimento profissional multidisciplinar. A primeira delas é do pré-natal, com gestantes de alto risco internadas no Hospital de Base, até à UTI Neonatal.
“Nessa fase acompanhamos a mãe que faz o parto em condições de risco, mantemos ela informada sobre os cuidados que serão necessários com o bebê na UTI, informamos sobre o estado de saúde do seu filho.
Quando a criança nasce, fazemos sensibilização, para que se aproximem do bebê, toquem sem medo ainda dentro da UTI”, explica a médica neonatologista Telma Márcia Alencar Ferreira, coordenadora estadual do Método Canguru, que acompanha desde o início, no Hospital de Base, em Porto Velho, a adoção da terapia em Rondônia, iniciada a partir de janeiro de 2014, após o Ministério da Saúde promover treinamento para cerca de 30 profissionais.
A médica Telma Ferreira afirma que o Método Canguru contribui para que se reduza em até três semanas o tempo de um bebê com baixo peso na UTI Neonatal. Os benefícios da terapia são muitos: promove menos sequelas futuras nas crianças nessa condição; reduz tempo de eventuais infecções; incentiva o aleitamento materno e promove maior vínculo e afeto com a família.
Pai da menina Vitória, Ednilson Mariano da Silva, 26 anos, conta que observou mudanças na pequenina que nasceu com pouco mais de 1,5 quilo: “No começo ela estava com bem pouco peso e noto que a recuperação tem sido rápida”, disse. Ele frequenta o a enfermaria da UTI Neonatal três vezes ao dia.
“Vocês passam por situações conflitantes no dia-a-dia, e nós, na correria da UTI Neonatal, não percebemos muitas vezes sua presença, se o dia para voces está melhor ou pior que outros. Por isso, é importante essa homenagem, e sei que há pais que se pudessem ficariam o dia todo com seu bebê. Vocês podem e devem estar aqui, para que vejam e acolham o bebê de vocês, conversem com ele e toquem nele. O bebê ouve, percebe e sente a presença dos pais”, disse a enfermeira Luzenir Maria de Souza.
A médica Telma Ferreira disse que o Método Canguru era conhecido por “Mãe Canguru”, já que apenas as mulheres eram estimuladas a participar da terapia, mas hoje é crescente a presença dos pais. “Os pais estão participando, eles vêm, estão acompanhando o progresso dos filhos, a melhora dos bebês”, afirma. A coordenadora disse que estudos comprovam que a participação dos pais no processo constitui um caminho positivo para o bebê, “que não tem apenas mãe, tem pai também, precisa ouvir sua voz, se sentir acolhido.”
Os bebês prematuros são atendidos pelo Método Canguru a partir do peso de 1,25 quilo. Na terceira etapa do processo de reabilitação ocorre a alta e o bebê tem assistência ambulatorial até atingir o peso de 2,5 quilos. A assistência é feita pela doutora Tânia Ferreira, que semanalmente recebe o recém-nascido no consultório, faz pesagem e uma avaliação médica. Na primeira semana de desligamento do hospital, no espaço de 48 horas, a criança é levada à presença da médica.
Segundo Telma Ferreira, todas as orientações à família que deixa a UTI Neonatal são dadas para que a assistência em casa ocorra bem, paralelamente à assistência ambulatorial prestada pela médica.
A médica disse que a atual gestão da Saúde e do hospital – dirigido pelo pediatra Nilton Paniágua – tem dado todo apoio ao Método Canguru, que para os país presentes ao café da manhã conta com profissionais dedicados, amigos, a quem manifestaram agradecimento pelo empenho.
Foi o caso do jovem Kelvin Marques Ferreira, de 22 anos, pai pela primeira vez, que desde o início de julho está com o filho Murilo, nascido com seis meses e dois dias, na UTI Neonatal. “A equipe toda é muito boa, fiz amizades e ganhei conhecimento”, diz, registrando que na quarta-feira (9) o aparelho que ajudava a respiração do bebê foi desligado. Ele já pesa 1,87 quilos, e ficará pouco tempo no berçário.
“Ele fica animado e dá risada”, responde Kelvin ao ser indagado qual a reação do bebê quando o coloca no peito, fazendo carinho e conversando. Com afeto e paciência, logo levará o filho para casa, terminando felizmente uma angústia que para muitos ultrapassa 70 dias.
“Obrigada por vocês terem vindo, eu espero que a gente contribua com certeza de forma positiva para vocês. Podem nos procurar, obrigada por estarem presente”, disse Luzenir.
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