Secretarias não se entendem e aumentam sofrimento de pacientes que necessitam de alimentação enteral
A falta de entendimento entre as Secretarias de Saúde do Estado (Sesau) e do município de Porto Velho (Semusa) está obrigando várias famílias a recorrerem à Justiça para que elas continuem recebendo a alimentação enteral - aquelas fornecida através de sondas a pacientes com deficiências físicas que impossibilitam a ingestão alimentar de outras formas. São pelo menos 185 famílias que dependem recebiam a alimentação.
É o caso da família de Lauriane Gomes de 22 anos. Ela tem paralisia cerebral e começou a receber o benefício há dois anos. Neste mês, quando a mãe, Roseli Pinheiro, foi buscar a alimentação viu apenas um aviso na porta do prédio informando que não seria mais entregue o benefício. “Eles não avisaram, nem ligaram. Passaram apenas uma lista de comidas para que seja feita a alimentação enteral caseira”, conta Roseli.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) afirma a responsabilidade sempre foi do município. No entanto, para ajudar assumiu o fornecimento por algum tempo, mas que uma reunião na Comissão Intergestora Bipartite (CIB) em que fora feita a resolução 312/2014 ficou acordado que, a partir de novembro deste ano, o estado não estaria mais responsável pela compra e distribuição do benefício e a responsabilidade voltaria a ser do município de Porto Velho.
Ainda conforme a Sesau, o governo do estado continua atendendo pacientes internados nos hospitais e no Serviço de Assistência Multidisciplinar Domiciliar (SAMD). A famílias destes estão sendo ensinadas a preparar a alimentação caseira também.
Do outro lado, a Secretaria Municipal de Saúde não reconhece a responsabilidade e garante que o recurso do governo federal para comprar e distribuir a alimentação enteral está sob a guarda do estado. “Nós estamos preparando um ofício para entregar em mãos a todos os pacientes que precisam dessa alimentação, dizendo que infelizmente nós não vamos atendê-los, e que eles procurem o atendimento no estado, porque a falta de responsabilidade do governo no repasse, alegando falta de dinheiro, causou todo esse transtorno”, disse o secretário de saúde do município, Domingos Sávio.
Ainda de acordo com o secretário, a reunião de conselho definiu que o estado forneceria a alimentação enteral de todas as unidades de saúde sob gestão estadual e dos municípios, exceto aos municípios-sede de região, para atender as pessoas com necessidade crônicas, acamadas ou hospitalizadas. Já os municípios ficariam, então, responsáveis pela aquisição de fraldas descartáveis infantis, adultas e geriátricas para pacientes com doenças crônicas, acamadas ou hospitalizadas, mas o estado não cumpriu com sua parte alegando falta de dinheiro.
Responsável por fiscalizar a aplicação dos recursos municipais na saúde, o Conselho Municipal de Saúde (CMS) afirma que a secretaria está fazendo uma série de cortes no orçamento, em razão de não ter todo o dinheiro necessário para atender as necessidades da população. Nesse caso específico, é necessário recorrer ao Ministério Público e denunciar o ocorrido, pois este é o único órgão com o poder para pressionar a administração tanto municipal quanto estadual. “As pessoas devem procurar o Ministério Público do Estado, porque nesse momento é ele que tem o poder de polícia e de mando para resolver o problema. Com os levantamentos que o conselho está fazendo, o recurso que está vindo do Ministério da Saúde é o mesmo valor que dos últimos três anos”, afirma João Aramayo, presidente do CMS.
O Ministério Público informa que já chegaram cerca de 20 reclamações individuais sobre o corte no fornecimento da alimentação enteral. Segundo a assessoria do órgão, a promotoria da saúde já oficiou tanto o estado quanto o município para saber dos dois o que está ocorrendo, mas ainda não houve resposta. O gestores municipal e estadual têm um prazo de 10 a 15 dias para dar o retorno após receberem o ofício por escrito.
Por enquanto, o MP recomenda que as famílias que necessitam do benefício devem procurar também a Defensoria Pública Estadual e o próprio Ministério Público. É o que está organizando Paulino Gomes para garantir a alimentação da filha, Lauriane.
Veja Também
Justiça garante alimentação especial à criança com paralisia cerebral
Prefeitura de Porto Velho vai inaugurar nova rodoviária no dia 20 de dezembro
Sindeprof apresenta proposta de tabelas salariais durante assembleia geral de servidores municipais
Meteorologia prevê mais chuvas volumosas para Rondônia e outros estados