Rondônia, 22 de dezembro de 2024
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A silenciosa destruição da agricultura de Rondônia

A população de Rondônia consome anualmente cerca de 30 mil toneladas de feijão, para uma produção anual de 38 mil toneladas (LSPA/2012). Já chegamos a produzir cerca de 90 mil toneladas em 1997, e nossa produção é declinante. Nossa produtividade é de 670 kg/hectare, menos da metade do rendimento dos grandes estados produtores, Paraná e Minas. O estado do Amazonas, cuja produção é muito pequena (menos de 5 mil toneladas), consegue obter 930 kg/hectare (LSPA/2012). Consumimos anualmente 25 mil toneladas de arroz, para uma produção anual de 160 mil toneladas, com rendimento de 2.300 kg/hectare, cerca de 25% da produtividade do Rio Grande do Sul e menos da metade de Roraima. Resumindo: produzimos sim, mas nossos custos de produção são muito mais altos, pela baixa produtividade.



No ano passado, a CEPLAC Brasília contratou uma consultoria internacional para desenvolver o seu planejamento estratégico. Não sei para que, já que daquilo que deveriam cuidar, não cuidam. Discutiram como melhorar a gestão, mas nada falaram sobre a produção. Não existem metas.  A CEPLAC em Rondônia tem um staff pesado, lento, com quase 200 servidores e que pouco ou nada contribuem para o crescimento da nossa lavoura cacaueira. Num  país sério, se perdemos 40% da produção, a CEPLAC já deveria ter perdido 40% da sua estrutura. Pena que não somos um país sério e, mais ainda, vivemos num estado de palhaçadas.

    Na produção de cacau, estamos na terceira e ridícula posição. Ridícula porque o maior estado produtor, a Bahia, produz mais de 150 mil toneladas/ano, o segundo, Pará, mais de 60 mil toneladas/ano. Aqui em Rondônia, patinamos em 17 mil toneladas/ano, ou seja, pouco mais de 10% da produção da Bahia, com queda estimada de mais de 40% nos últimos 20 anos. Uma paquidérmica organização federal denominada CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, completou 40 anos em Rondônia, apesar de aqui estar a menos de 30.

No ano passado, a CEPLAC Brasília contratou uma consultoria internacional para desenvolver o seu planejamento estratégico. Não sei para que, já que daquilo que deveriam cuidar, não cuidam. Discutiram como melhorar a gestão, mas nada falaram sobre a produção. Não existem metas.  A CEPLAC em Rondônia tem um staff pesado, lento, com quase 200 servidores e que pouco ou nada contribuem para o crescimento da nossa lavoura cacaueira. Num  país sério, se perdemos 40% da produção, a CEPLAC já deveria ter perdido 40% da sua estrutura. Pena que não somos um país sério e, mais ainda, vivemos num estado de palhaçadas.

Na Bahia, maior produtor nacional, a produtividade do cacau é de 300 kg/hectare. No Pará, 800 kg/hectare. Ainda no Pará, o governo em conjunto com produtores e iniciativa privada, definiu a meta de tornar o estado o maior produtor nacional até 2020. Em Rondônia, em lavouras cuidadas (a minoria) a produtividade chega a 600 kg/hectare, mas no geral é de cerca de 50% do Pará. Mas aqui, diferente de lá, não temos metas, não temos projetos, somente intenções e nenhuma ação.
    E como vai a nossa mandioca? Produzimos 515 mil toneladas/ano, com rendimento de 16 mil kg/hectare. O Acre produz mais do dobro (1,1 milhão de tonelada), com rendimento de 20 mil kg/hectare. Somos o menor produtor da Região Norte. Banana? Produzimos 53 mil toneladas/ano, cerca de 10% da produção do Pará e com rendimento 40% inferior por hectare. Milho? Produzimos 370 mil toneladas/ano em 164 mil hectares, mas com rendimento 50% inferior por hectare. Soja? Produzimos 417 mil toneladas/ano em 132 mil hectares, com rendimento inferior ao do Maranhão.

    Rondônia tem mais de 620 mil hectares de cultivo agrícola. Destes, cerca de 420 mil hectares são áreas plantadas com cereais, leguminosas e oleaginosas, que produzem quase um milhão de toneladas de alimentos, com média a baixa produtividade, como demonstrei. E qual a prioridade do Governo nos seus chamados “projetos estruturantes”? Desenvolver a piscicultura, revitalizar uma usina de calcário, regularização fundiária urbana e construção de novo terminal portuário. Todos esses “projetos” estão tão distantes da realidade e da necessidade de Rondônia, quanto o planeta Terra da próxima galáxia. Perdemos crescentemente produtividade, apesar de crescer lentamente em produção. Isso significa que nossa capacidade competitiva se reduz de modo alarmante. Em 2015 deveremos atingir 2 milhões de toneladas de produção agrícola, mas cuja produtividade coloca em risco essa produção. Nesse ritmo, quanto mais produzirmos, mais vamos afundar nossa economia.

    Uma ação estratégica sob responsabilidade direta do governo do estado, já teria matado no ninho 80% desses problemas: a criação de duas centrais de abastecimento, uma em Ji-Paraná e outra em Porto Velho. Quem acompanha meus escritos e minhas palestras, sabe do que falo tem anos seguidos. As centrais são corporações de notável poder de regulação do mercado de alimentos. Somos um dos dois únicos estados da federação que não tem central de abastecimento. Alguém saberia responder por quê? Desconfio. Apenas desconfio.

    Eu também me pergunto? Tantos e tantos milhões de reais para a agricultura resultam em que? Centenas e centenas de funcionários, agrônomos, técnicos, dezenas de entidades, instituições, associações, cooperativas, secretarias, federações, centros, para que? Milhares de páginas de estudos e pesquisas, consultorias, convênios, debates, seminários, projetos, planos para que? Se cada real que paga essa máquina caríssima e gigantesca gerasse um quilo a mais de alimento por hectare plantado, já teria justificado sua existência.

    Assim, vivemos um paradoxo. Para o governo de Rondônia, vivemos o êxtase do “Estado Grande”, do produtor vigoroso, das oportunidades fabulosas, com direito a foguetório, palavrório, milhares de reais de publicidade em todas as cidades. Para o povo, para o agricultor, vivemos a silenciosa destruição da agricultura. Sem direito a choro, nem vela, e nada na panela.

    Com a palavra o governador Confúcio Moura, mas como ele nada fala, com a palavra você, rondoniense, que vive como eu nesta ilha da fantasia, por pura ousadia.

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