Construção civil busca alternativas para reativar postos de emprego fechados
A procura por emprego na construção civil levou cerca de 1,5 mil desempregados ao Sistema Nacional do Emprego de Rondônia (Sine) na última segunda-feira (25). No entanto, a falta de vagas tem deixado muitas pessoas frustradas. É o caso de Márcio Rogério que está há mais de um ano sem trabalho formal. Somente em março, foram 277 postos de trabalho fechados no setor em Rondônia, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Rondônia (Sinduscon), a falta de novos empreendimentos tem motivado o falta de vagas do setor.
O carpinteiro Márcio conta que chegou cedo ao Sine para se candidatar a uma vaga de emprego. Não teve condições. “Está muito difícil. Durante esse tempo vamos fazendo bico que é para sustentar a família, mas sempre em busca de um emprego com carteira assinada. Não está fácil”, diz o Márcio.
Na outra ponta está José Marcos Ferreira. Ele trabalha há três anos na mesma empresa. Começou como ajudante, se qualificou e conseguiu subir de cargo. “Hoje eu sou montador de gesso, e desde quando comecei, nunca mais fiquei parado. Mas tem colega meu que ainda hoje continua na mesma função e, acho que por isso, acaba não tendo chance de trabalho, de crescer”, argumenta.
A crise no entanto, atinge os vários níveis da construção civil. O engenheiro Leon Guerra é responsável por um empreendimento na Estrada do Santo Antônio em Porto Velho e garante que a crise tem fechado muitas portas aos trabalhadores. “Só para ter uma ideia da falta de emprego, em três dias, recebi aqui quase 60 currículos e não temos como absorver esses trabalhadores. Nós recebemos aqui também a visita de estudantes de engenharia que precisam fazer estágio e não estão conseguindo. Está realmente muito difícil para todos”, afirma.
O presidente do Sinduscon-RO, Emerson Fidel Campos Araújo, diz que é visível a crise do setor no estado, e que a alternativa para muitos trabalhadores é a informalidade. No estado, existem cerca de 90 empresas filiadas ao sindicato e, segundo Araújo, muitas delas estão paradas. “Ainda não é possível dizer que essa empresas fecharam as portas, mas nossa arrecadação sindical caiu cerca de 16% em relação ao ano passado. Ou as empresas estão apenas mantendo o CNPJ para quando surgir uma nova obra ou elas não estão conseguindo se manter”, diz.
Para ele, a falta de novos empreendimentos é o que mais afeta o setor e, por consequência vai gerar problemas sociais. “Hoje o que acontece é que não há novos empreendimentos, novas obras e as empresas não estão contratando mais. Essas pessoas que foram demitidas pelas usinas, muitos não têm renda nenhuma. Aí começa a preocupação social e ao mesmo tempo um reflexo na questão criminal da cidade”, acredita o presidente do sindicato. Para tentar reverter a situação, Araújo garante que está tentando formar um conjunto de trabalho para fomentar a construção civil, principalmente em Porto Velho onde foram fechadas mais de 594 postos de trabalho.
Investimentos
Uma das alternativas que o sindicato acredita é o investimento que pode ser influenciado por linhas de crédito, além da parceria público privada, as chamadas PPPs. “Sem investimento não tem emprego. Há muitas obras paradas do governo, mas porque tem um projeto mal elaborado, um orçamento mal feito o que muitas vezes leva uma empresa a participar de uma concorrência e chega na hora de executar não era bem aquilo, por isso estamos conversando com o governo para retomar essas obras que estão paradas da cidade. Outro fator que temos que verificar é com as instituições bancárias para manter o crédito imobiliário”, avalia Araújo e ressalta que, neste ano, em Porto Velho ainda não houve nenhum novo empreendimento. E o lançamento de novas obras vai melhorar ainda o comércio e outros setores como o de serviço, conclui o presidente do Sinduscon.
Para o economista e professor da Universidade Federal de Rondônia Silvio Persivo, a crise ainda poderia ser maior se não fosse o agronegócio que é forte em Rondônia. “Nos últimos dois anos do governo Dilma houve um retrocesso equivalente a um decêndio. Enquanto o mundo cresce nós temos taxa negativa. Isso é um coisa que há praticamente 40 anos não se via. Mesmo assim, Rondônia ainda está muito bem, porque os dois principais setores que se impactam muito é indústria e onde há investimentos da Petrobrás e nós não temos isso. Nós estamos inseridos no agronegócio que é o único setor que tem crescido ainda. Mas impacta nos outros setores”, esclarece Persivo.
Persivo e Araújo acreditam que vários setores podem ter uma perspectiva de melhora com o afastamento da presidente, por conta da falta de confiança. “A perspectiva de melhoria é o impeachment, porque na realidade a questão é a falta de credibilidade do governo, a falta de confiança, de rumo. Se não trocar com certeza vamos afundar cada vez mais. Embora trocar não seja uma solução imediata. Pelo que passamos só vamos pensar em crescimento mesmo daqui a dois ou três anos. Porque o Brasil não tem crescido. O que cresceu foi o consumo em cima de crédito e as pessoas estão muito endividadas. Quando a economia está bem todos investem, querem alugar, e quando está ruim ninguém faz isso”, finaliza o economista.
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