Rondônia, 14 de dezembro de 2025
Política

Governo Marcos Rocha: TCE cobra explicações para omissão de dados, e ineficiência na Saúde e Educação

Em decisão publicada nesta quinta-feira (31), o conselheiro Paulo Curi Neto, do pelo Tribunal de Contas de Rondônia (TCE-RO) apontou uma série de irregularidades graves nas contas do governador Marcos Rocha referentes ao exercício de 2024. A análise técnica do processo n. 01486/2025 revelou distorções contábeis, falhas estruturais na gestão fiscal e omissões em áreas essenciais, como saúde, educação e previdência, com potencial para motivar a emissão de parecer prévio contrário à aprovação das contas pelo Legislativo estadual.

Entre as irregularidades mais alarmantes, o TCE destacou a realização de R$ 107 milhões em despesas sem prévio empenho na Secretaria de Estado da Saúde (SESAU), sendo R$ 35,8 milhões referentes a serviços prestados antes da emissão de qualquer documento formal de empenho. Mesmo após alertas recorrentes do próprio Tribunal em anos anteriores, a prática continua, configurando violação direta às normas da Lei de Responsabilidade Fiscal e da Lei 4.320/1964.

Outro ponto crítico foi a ausência de transparência na movimentação de valores da dívida ativa estadual. O TCE constatou o lançamento indevido de mais de R$ 202 bilhões em certidões de dívida ativa por parte do DETRAN/RO, posteriormente canceladas sem qualquer explicação pública no Balanço Geral do Estado. O caso evidenciou falhas severas nos mecanismos de controle interno e comprometeu a fidedignidade das demonstrações contábeis apresentadas à sociedade.

Registros inflados

Além disso, o relatório revelou que o governo estadual mantém registros contábeis inflados com valores que não atendem aos critérios de ativo realizável. Convênios e adiantamentos, que deveriam estar em contas de controle, seguem lançados indevidamente como patrimônio do Estado. O total desses lançamentos supera R$ 3 bilhões, com prestações de contas pendentes em valores expressivos nos órgãos DER, FITHA e SEDUC.

O TCE também denunciou a escalada do déficit atuarial do regime próprio de previdência (RPPS), que saltou para R$ 13,3 bilhões até o final de 2024, com agravamento no Executivo. A corte apontou a concessão de aumentos salariais sem estudos de impacto, deterioração da relação entre ativos e inativos, e investimentos com rentabilidade inferior à meta atuarial. Em relação aos militares, o sistema previdenciário opera sem lastro, custeado integralmente pelo Tesouro, o que pressiona ainda mais as finanças públicas.

Falta de transparência

Em matéria de transparência, a gestão de Marcos Rocha foi duramente criticada pela classificação generalizada como “sigilosas” de todas as diárias do governador e do vice, sem fundamentação específica. A agenda oficial do governador, segundo o relatório, permaneceu sem qualquer atualização desde outubro de 2024, impossibilitando o controle social e a fiscalização dos atos públicos.

Caos na saúde

Na área da saúde, o TCE denunciou a sobrecarga imposta aos municípios rondonienses na manutenção de serviços de Média e Alta Complexidade (MAC). Municípios como Vilhena aplicaram recursos muito acima do mínimo constitucional, enquanto o governo estadual, mesmo com previsão de R$ 1 bilhão em contrato, fracassou na execução do Hospital de Urgência e Emergência (HEURO). A obra foi suspensa com menos de 5% de execução e o contrato rescindido sem qualquer penalidade à empresa contratada.

Também foram apontadas deficiências graves na assistência materno-infantil, com pré-natal iniciado tardiamente por 25% das gestantes, alta taxa de cesarianas (71%) e ausência de leitos regionais. A taxa de mortalidade neonatal (9,04 por mil) e fetal (9,07 por mil) foi considerada preocupante, com grande parte dos óbitos classificados como evitáveis.

Educação abaixo de metas

Na educação, o cenário não é diferente. Os dados do Sistema de Avaliação Educacional de Rondônia (SAERO 2024) indicaram que apenas 4% dos alunos do Ensino Médio possuem aprendizado adequado em Matemática, com 13 das 18 regionais do Estado classificadas como “abaixo do básico”.

Descumprimento de decisões

O relatório ainda acusa o governo de não cumprir determinações anteriores do próprio Tribunal, configurando reincidência e resistência à correção de falhas já identificadas. A soma das ocorrências, segundo o conselheiro relator, compromete a credibilidade da gestão estadual e aponta para omissões graves no exercício das funções políticas do chefe do Executivo.

Diante da gravidade dos fatos, o TCE determinou a realização de audiência com o governador Marcos Rocha para que ele apresente defesa. Caso não haja justificativas plausíveis, o processo poderá culminar na emissão de parecer prévio pela rejeição das contas do governo de Rondônia referentes ao ano de 2024.

Os pontos centrais da decisão e as irregularidades mais graves:


1. Realização de despesas sem prévio empenho e sem cobertura contratual (A1)


2. Ausência de transparência na dívida ativa (A2)


3. Fragilidade na gestão da dívida ativa (A3)


4. Superavaliação do ativo (A4)


5. Aumento do déficit atuarial do RPPS (A5)


6. Ausência de transparência nas diárias e agenda do governador (A6)


7. Atuação deficitária do estado na Média e Alta Complexidade (MAC) do SUS (A7)


8. Fragilidade na atenção pré-natal e rede materno-infantil (A8)


9. Baixo desempenho educacional (A9)


10. Deficiências na gestão das Unidades de Conservação (A10)


11. Descumprimento de determinações anteriores (A11)


Conclusão do TCE-RO

O governador Marcos Rocha foi citado para audiência, a fim de exercer o contraditório e apresentar justificativas.

Confira a íntegra da decisão:

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