"Um novo amanhecer", por Andrey Cavalcante
O Brasil despertou neste 12 de maio para uma nova realidade política. A aceitação avassaladora do processo de impeachment pelo Senado, com uma votação suficiente até para garantir a retirada definitiva do mandato da presidente da república após os 180 dias de afastamento constitucional demonstra que a voz das ruas foi afinal e efetivamente ouvida. Que ninguém se iluda, porém. A sangria pode ter sido estancada, mas a recuperação do paciente vai exigir um esforço redobrado de todos, para que a classe política não se desvie mais dos anseios e aspirações populares. A vitória hoje comemorada é apenas um pequeno passo inicial de uma longa e dolorosa caminhada, uma responsabilidade conferida a cada um de nós. “A OAB lamenta que aplicação do impeachment seja a medida mais adequada para o momento” – disse em artigo publicado no dia da votação o presidente nacional Cláudio Lamachia.
Ele acrescentou: “A Ordem gostaria de comemorar o sucesso do governo federal e de suas ações voltadas para o benefício dos brasileiros e brasileiras na saúde, educação, segurança, acesso à Justiça e outras áreas fundamentais”. Lamachia lamentou, contudo, que o dia de ontem tenha sido de cobrança da aplicação do que estabelece a Constituição e da punição adequada para os culpados pelos desvios. Mas advertiu que, depois do impeachment, “toda a sociedade precisará se envolver na superação da crise ética que abate o Brasil. Não é mais possível reclamar dos desvios cometidos pelos poderosos sem adotar atitudes concretas para demonstrar reprovação. A população não pode se mobilizar apenas quando uma crise chega a seu ápice, como é o caso atual. É preciso uma participação constante do povo na vida pública. Os espaços de decisão precisam ser conquistados e ocupados”.
O momento de agir começa agora. O processo eleitoral para Prefeituras e Câmaras de todo o país já está em curso a partir de hoje. Políticos e partidos sobrestaram estrategicamente suas decisões. Não é preciso ter bola de cristal para imaginar que haverá uma apostasia generalizada entre os candidatos governistas. Não me refiro aqui a qualquer expressão bíblica, mas ao significado etimológico do termo, que remeter para defecção ou abandono de partido. Por isso, mais do que nunca, o eleitor deve ficar atento, pois os que abandonarem a sigla a partir de agora dificilmente abandonarão também as práticas espúrias, o conjunto da obra que deu origem ao impeachment. É preciso atenção pois as peles de cordeiro já estão sendo retiradas do fundo dos armários. E todos voltarão a bater à sua porta com ares de bom moço e pedindo o seu apoio.
Mas que não se pode esquecer que os responsáveis pela desordem moral que se abateu sobre o país jamais apresentaram qualquer sinal de arrependimento, mesmo quando apanhados pela Operação Lava Jato. Todos, invariavelmente, bradaram ao país, especialmente para as claques pagas com dinheiro público, estarem sendo vítimas de um golpe de estado. Mesmo depois de terem sido expostas ao país as estranhas de uma inequívoca organização criminosa, segundo palavras do procurador-geral da República. A população precisa estar atenta. O deputado Waldir Maranhão – lembrou o presidente Cláudio Lamachia – pode ser desconhecido pelo grande público, mas está no terceiro mandato, tem histórico de problemas com a Justiça Eleitoral e é investigado pela Operação Lava Jato. Como já disse, não é o político que se transforma em bandido. É o voto do eleitor desatento que transforma bandidos em políticos.
Compete a cada eleitor selecionar aqueles que haverão de merecer seu voto. É preciso que o país comece a promover as mudanças necessárias a partir da base. Casa vereador, cada prefeito, mesmo dos menores municípios deve ser escolhido a partir de uma avaliação cuidadosa. O afastamento da presidente não é a solução para todas as nossas dificuldades. As conseqüências de sua devastadora administração continuarão a nos atormentar. O desemprego e a inflação continuarão altos, a desigualdade social ainda será gritante, e a corrupção continuará existindo. Os diversos setores da sociedade civil que se uniram para banir o governo mais corrupto da história devem continuar trabalhando. A OAB está pronta e não irá se afastar de sua cota de responsabilidade na reconstrução do país.
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